Edméa
Oliveira dos Santos
EDUFPI,1ª edição. 2019.
225 Páginas
Marcos Vinícius Lopes Menezes
Pinheiro [1]
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8340-8663
[1] Graduando em
Pedagogia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do grupo de
pesquisa docência e ciberculcura (GPDOC). E-mail: marcosmenezes.ufrrj@gmail.com
Esta resenha se propõe a apresentar reflexões e
contribuições cientificas ao campo da educação elaboradas pela autora Edméa
Santos na obra intitulada “Pesquisa-formação na cibercultura” bem como tecer um
comentário crítico da mesma. A autora realiza um trabalho teórico-reflexivo de
forma didática e com uma linguagem acessível envolvendo temáticas de suma
importância para pensarmos sobre a educação, sobretudo em tempos de pandemia de
COVID-19. A educação online é apresentada na obra como um fenômeno da
cibercultura e a pesquisa-formação como uma perspectiva teórico-prática no
campo da formação docente. Neste sentido, a obra de Edméa Santos apresenta
grande relevância por evidenciar questões crítico-reflexivas sobre o campo da
educação em face de alterações significativas que ocorrem desde a década de
1990 tanto na esfera comunicacional quanto na cultura digital e formação de
professores no Brasil. A obra é organizada em quatro capítulos:
• Capítulo 1 – A cena sociotécnica: cibercultura em
tempos de mobilidade ubíqua – A autora apresenta potencialidades da mobilidade
ubíqua na cibercultura, apresenta também a necessidade de investimento em
inclusão digital da categoria docente e em formação docente em face da atuação
em um contexto de cibercultura.
• Capítulo 2 – Pesquisar na cibercultura: a educação
online como contexto. A autora apresenta o conceito de educação online como um
fenômeno da cibercultura e estabelece uma ruptura epistemológica entre a
educação online e a educação a distância.
• Capítulo 3 – Pesquisa-formação na cibercultura:
fundamentos e dispositivos. A autora
apresenta fundamentos para o exercício da pesquisa formação à partir da
abordagem multirreferencial com os cotidianos na cibercultura.
• Capítulo 4 – Pesquisa-formação na cibercultura:
invenções. A autora apresenta
dispositivos de pesquisa-formação na cibercultura, bem como seus usos mediados
e estruturados por práticas da educação online e aprendizagem ubíqua.
Para
melhor compreensão do leitor, esta resenha pretende apresentar o que considera
essencial em cada capítulo, tendo o cuidado de preservar articulados os
fundamentos teórico-metodológicos da autora. É apresentado, por fim, um
comentário crítico em que é assinalada a contribuição da obra de Edméa Santos
para a epistemologia da educação, bem como suas contribuições cientificas e
pedagógicas.
A cena sociotécnica: cibercultura em tempos de mobilidade
ubíqua
A
autora apresenta potencialidades da mobilidade ubíqua na cibercultura, apresenta
também a necessidade de investimento em inclusão digital da categoria docente e
em formação docente em face da atuação em um contexto de cibercultura. Edméa
Santos lança luz sobre o cenário sociotécnico, refletindo sobre as
transformações ocorridas com o surgimento da web na década de 1990. A autora
estabelece, portanto, uma evidente distinção entre as características
comunicacionais e interacionais entre a recém surgida web e a tv analógica,
marcando uma transição para um novo formato comunicacional que emergia como uma
nova morfologia social, como apresenta a autora. Em outras palavras, surgia
neste momento uma nova forma de se comunicar e de ser e estar no mundo. Nas
palavras da autora “passamos de massa reprodutora às redes interagentes no espaço
e no ciberespaço”.
Posteriormente
a autora conceitua cibercultura como toda produção cultural e fenômenos
sociotécnicos que emergiram da relação entre seres humanos e objetos técnicos
digitalizados em conexão com a internet e a rede mundial de computadores e vai
além quando pontua que cibercultura é a cultura do ciberespaço e do espaço
físico imbrincados. Neste momento do texto o leitor sente a necessidade de
compreender o que é ciberespaço e a autora apresenta discorre sobre a temática
afim de forrar uma base importante para a plena leitura do livro compreendo os
desdobramentos de tais conceitos.
Ciberespaço
é definido no livro como um conjunto plural de espaços mediados por interfaces
digitais, que simulam contextos do mundo físico das cidades, suas instituições,
práticas individuais e coletivas já vivenciadas pelos seres humanos ao longo de
sua história. Ou seja, o espaço virtual habitado por seres humanos. E é neste
sentido que a autora busca tensionar essas definições em um contexto de
mobilidade ubíqua, isto é, da possibilidade criada a partir do momento em que
já não se faz necessário estar em um desktop físico para que seja possível
estar online. Em outras palavras, com o surgimento de tablets, notebooks e,
principalmente, pela popularização dos smartphones o ser e estar no ciberespaço
e no espaço físico alteram-se significativamente.
Posteriormente
a autora apresenta nos subtítulos “Educação e cibercultura antes da mobilidade
e da web 2.0; O ciberespaço em comunicação com as cidades e estas com o
ciberespaço: a mobilidade ubíqua; O desafio da inclusão cibercultural dos
professores no contexto da web 2.0 e da mobilidade ubíqua; Educar na interface
cidade–ciberespaço: ampliando repertórios em mobilidade” tensionamentos sobre a
reflexão sobre esses conceitos em face das demandas educacionais, bem como
sobre a formação de professores tendo em vista a perspectiva de
pesquisa-formação. Ressalta-se a qualidade técnica da escrita do texto, o que
facilita a leitura para o leitor.
Pesquisar na cibercultura: a educação online como contexto
A
autora apresenta o conceito de educação online como um fenômeno da cibercultura
e estabelece uma ruptura epistemológica entra a educação online e a educação a
distância, buscando a superaçãoda ideia de que a educação online seja uma mera
evolução da educação a distância. A ideia central apresentada no capítulo é que
o potencial comunicativo das TIC´s não pode ser subutilizado em educação. Para
tanto, a autora apresenta de forma didática e reflexiva sobre a importância de
um investimento epistemológico e metodológico em práticas pedagógicas para que
ocorra um diálogo com as potencialidades sociotécnicas da cibercultura.
Neste
capítulo são retomados conceitos apresentados no capítulo anterior, mas tal
retomada se dá de forma mais detida, buscando tensionar tais conceitos frente
ao eixo central apresentado no capítulo: a emergência da educação online como
fenômeno da cibercultura. A autora retoma também a distinção entre EAD e
educação online, conceituando as diferenças pedagógicas e epistemológicas entre
ambas. Posteriormente nos subtítulos “A cibercultura e a emergência da educação
online; Especificidades de educação online como um fenômeno da cibercultura;”
Edméa Santos aprofunda sua análise conceitual sobre tais temáticas conduzindo o
leitor para um entendimento denso e profundo sobre a arquitetura conceitual que
envolve a educação online como um fenômeno da cibercultura.
Pesquisa-formação na cibercultura: fundamentos e dispositivos
A
autora apresenta fundamentos para o exercício da pesquisa formação à partir da
abordagem multirreferencial com os cotidianos na cibercultura. Logo no início
deste capítulo Edméa Santos apresenta um breve retrospecto sobre o olhar sobre
a formação docente, lançando luz sobre aspectos que envolvem a epistemologia
das práticas e da multirreferencialidade. A autora apresenta de forma linear
que existe um movimento que busca pensar uma nova forma de ciência, buscando
romper paradigmas e estabelecendo novas formas de pensar e conceber práticas em
educação. Em seguida, a autora aprofunda tais temáticas nos subtítulos “Saberes
docentes: notas sobre a epistemologia das práticas; Sobre formação, saberes e
docência online; A complexidade do objeto que se auto-organiza; A
pesquisa-formação em educação online; O pesquisador como autor na docência e na
pesquisa: acionando os dispositivos e os praticantes culturais; Interfaces
online como dispositivos de pesquisa e disparadores de narrativas e imagens;
Produção e interpretação dos dados em contextos multirreferenciais; Que dados
produzimos e interpretamos?: a emergência das noções subsunçoras; Em busca dos
sentidos: cartografia cognitiva com o uso de software. Em todos os subtítulos
mencionados a autora aprofunda temas expostos ao leitor no começo do livro como
a educação online, a cibercultura, as diferenças entre EAD e educação online,
mas envolvendo temáticas mais sólidas e pensando de forma mais detida ao
universo do trabalho docente em suas particularidades.
Pesquisa-formação na cibercultura: invenções
A autora apresenta dispositivos de pesquisa-formação
na cibercultura, bem como seus usos mediados e estruturados por práticas da
educação online e aprendizagem ubíqua. Neste capítulo Edméa Santos apresenta de
forma mais práticas e detalhada suas experiências com e em pesquisa-formação. A
autora também apresenta a centralidade do Grupo de Pesquisa Docência e
Cibercultura (GPDOC) para a construção, diálogo e pesquisa em face dos desafios
da docência na cibercultura na perspectiva da pesquisa-formação e em tempos de
mobilidade ubíqua. A autora utiliza o
termo “Rastros de itinerância” o que facilita para o leitor o entendimento de
que tais práticas fazem parte de um percurso no campo de investigação da
pesquisa-formação na cibercultura. A seguir são apresentados tópicos que focam
em experiências diversas sobre temas de suma importância para a educação
online, como a mediação online e a potencialização da aprendizagem do aluno
online e temáticas que exploram a interatividade online.
Comentário crítico
A
obra de Edméa Santos apresenta-se como uma contribuição epistemológica e
cientifica para a educação, sobretudo em tempos de pandemia de COVID-19, pela
sua riqueza de conceitos importantes para se pensar a educação em um contexto
de cibercultura e de mobilidade ubíqua. A obra apresenta um texto coerente e
coeso, que conduz o leitor de forma paciente e detida por temáticas que em um
primeiro momento pode gerar uma inquietação e estranhamento, mas em um segundo
momento compreende-se a sua importância histórica para o contexto da cultura
digital do século XXI. Dentre diversos pontos positivos que a obra apresenta o
que merece ser ressaltado de forma especial refere-se a arquitetura conceitual
elaborada pela autora afim de apresentar para o leitor de forma simples e com
linguagem acessível que em função de todos os avanços da TIC´s torna-se
necessário refletir sobre a formação docente. Neste sentido a proposta da
Pesquisa-formação na cibercultura não só se apresenta como uma alternativa
viável, mas como uma necessidade para o ser e estar no mundo educacional
dialogando com e na cibercultura.
Ao articular de forma concisa e coesa conceitos como
cibercultura, ciberespaço, mobilidade ubíqua e educação online a autora
apresenta eixos que podem ser ampliados em futuras pesquisas, configurando-se
em um importante referencial para a construção de pesquisas e projetos no campo
da educação. A autora, enquanto importante referencial no campo da educação
online, apresenta em sua obra autores de relevância internacional como Edgar
Morin, Pierre Lévy e António Nóvoa, o que amplia o referencial teórico do leitor,
introduzindo conceitos dos autores citados de forma didática e densa.
Ao folhear as páginas deste livro (que também se
encontra de forma digital) o leitor sente algo que Nietsche descreve em sua
obra. Na obra “Assim falava Zaratustra” Nietsche estabelece que “de tudo quanto
se escreve, agrada-me apenas o que alguém escreve com o próprio sangue” (SANTOS,
2008, p. 58). A autora que atua no campo da educação online há mais de vinte
anos faz exatamente isso em sua obra, configurando-se um enorme esforço teórico
que contribui com o avanço da educação enquanto ciência.
Recomenda-se,
portanto, a leitura da obra para todos os atores da classe docente e discente,
sobretudo para aqueles que formam professores. A formação de professores na
perspectiva da pesquisa-formação na cibercultura apresenta avanços
significativos e importantes para o campo da educação, sobretudo na busca por
uma formação para o mundo contemporâneo. A obra de Edméa Santos contribui para
a formação de professores de forma a lançar luz sobre temáticas ainda pouco
pensadas no campo da formação docente.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTOS, Edméa. Pesquisa-formação na cibercultura.
Teresina: EDUFPI, 2019. E-book. Disponível em: http://www.edmeasantos.pro.br/assets/livros/Livro%20PESQUISAFORMA%C3%87%C3%83O%20NA%20CIBERCULTURA_E-BOOK.pdf.
Acesso em: 12 maio. 2021.
SANTOS, Roger Moura; AZEVEDO, Edmilson
Alves. Mário Ferreira dos Santos leitor de Nietzsche. Problemata: Revista
Internacional de Filosofía, v. 6, n. 2, p. 405-429, 2008.