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Glauber de Araujo Barroco Lobato[1]

Mestrando em Sociologia Política pelo IUPERJ, Pós Graduado em Psicopedagogia pela Faculdade São Judas Tadeu e em Neuropsicopedagogia pela Universidade Candido Mendes. Professor. Coordenador na Fundação Getúlio Vargas - E-mail: glauber.lobato@gmail.com

 

Thais Teixeira Nopres [2]

Pós-graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade Souza Marques, em Gestão Escolar pela Faculdade Campos Elíseos, em Neurolinguística, Educação Especial Inclusiva e Neuropsicopedagogia pelo Centro de Ensino Superior Dom Alberto. Professora.

 E-mail: thaisnopres@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

 

            Como o campo neurocientífico pode somar-se ao campo educacional e torná-lo mais promissor e diverso? Neurociência e aprendizagem caminham juntas embora a realidade educacional ainda é lenta na percepção integrada desses campos. Educadores, pesquisadores, alunos e sociedade podem sair favorecidos com a introdução do processo da neurociência na investigação e acompanhamento da evolução educacional, essas implicações abrem novas jornadas de saberes, desenvolvimento e construção metodológica no ambiente escolar. A junção da neurociência e a aprendizagem nos traz um olhar diferenciado, abrindo novos caminhos e perspectivas diferentes para o processo de aquisição do conhecimento do aluno, uma vez que a educação se encontrava enganchada num sistema em que desconsiderava o sujeito como parte do processo. Diante dessa nova perspectiva, relaciona-se o processo de aprendizagem com a plasticidade neural que é a capacidade que o cérebro possui de se modificar ao longo da vida. Além disso, estudos comprovam que a mente humana está sempre dinamizando, aprendendo a todo instante, criando redes neurais. Podemos chamar este processo de neuroaprendizagem. Diante disso, podemos incluir a escola como parte do processo neural do aluno, pois é neste ambiente que  o sujeito / aluno construirá novos elos de desenvolvimento, utilizando os conhecimentos já adquiridos anteriormente desde o seu convívio familiar até a sua entrada na comunidade escolar, estabelecendo links e criando novas perspectivas de mundo, partindo do pressuposto que o cérebro é dinâmico e está sempre aprendendo.

Palavras-chave:  Educação, Neurociência, Aprendizagem

 

 

Abstract

 

How can the neuroscientific field add to the educational field and make it more promising and diverse? Neuroscience and learning go hand in hand although the educational reality is still slow in the integrated perception of these fields. Educators, researchers, students and society can benefit from the introduction of the neuroscience process in the investigation and monitoring of educational evolution, these implications open new journeys of knowledge, development and methodological construction in the school environment. The combination of neuroscience and learning brings us a different look, opening up new paths and different perspectives for the student's knowledge acquisition process, since education was hooked on a system in which it disregarded the subject as part of the process. In view of this new perspective, the learning process is related to neural plasticity, which is the brain's ability to change throughout life. In addition, studies prove that the human mind is always dynamizing, learning all the time, creating neural networks. We can call this process neuro-learning. Therefore, we can include the school as part of the student's neural process, as it is in this environment that the subject / student will build new development links, using the knowledge previously acquired from their family life until their entry into the school community, establishing links and creating new world perspectives, assuming that the brain is dynamic and is always learning.

 

Keywords: Education, Neuroscience, Learning

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

              Durante toda a sua existência, uma pessoa adquire algum conhecimento, habilidade ou novas memórias. Esse processo que em diversas situações pode ser apresentado em formas sociais ou solitária, sofre alterações que são relacionadas entre mente e cérebro.

              Nesse contexto, apresenta-se a Neurociência, como o campo que estuda as bases neurológicas, o funcionamento do sistema nervoso e as relações entre os aspectos fisiológicos e os socioculturais (RELVAS, 2012).

              O desenvolvimento da Neurociência no Brasil veio acompanhando também a evolução das especialidades médicas e Biológicas ao longo do século XX (SILVEIRA, 2004). Os estudos sobre a mente humana ganharam força e foi a partir dessas pesquisas que foram surgindo contribuições para o entendimento do funcionamento do cérebro e consequentemente despertando um olhar para a aprendizagem.

              Embora tenha existido investimento para a formação de recursos nas ciências em geral, ainda há carência de suporte para o trabalho desenvolvido.

              Além dessa falta de suporte, outros campos solicitaram atenção para que as implicações socioculturais não descontextualizassem as experiências humanas, isso mostra, segundo Ortega (2006) que as Neurociências estão presentes na cultura e na sociedade, afastando -se do âmbito biomédico original.

              Advinda da década de 1970, a sociedade de ciência cognitiva, de onde provém também as evoluções acerca dos estudos da Neurociência, através do mapeamento do sistema nervoso, auxilia as diferentes manifestações que ele apresenta, como a linguagem, as formas, os problemas e ações planas. Seu objeto, segundo Caeiro (2006), consiste em explicar, modelar os mecanismos neurais elementares que sustentam os atos cognitivos, perceptivo e motor.

              Portanto, este artigo, objetiva analisar e discutir o sobre a importância da Neurociência para aprendizagem, mostrando como a evolução dos estudos relacionados a plasticidade cerebral vieram contribuir, mesmo que paulatinamente, na educação, trazendo uma visão de que o indivíduo/ aluno não é mais fragmentado, ele é parte de um todo.

              Como método, recorreu-se as pesquisas bibliográficas a partir de estudiosos que compreendem e analisam a Neurociência como elemento fundamental da aprendizagem, contribuindo para o entendimento do desenvolvimento cognitivo da cada pessoa.

             

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

              Na abordagem educacional as neurociências aparecem como um campo multidisciplinar de conhecimento e atuação profissional (RELVAS, 2016).

              Sabendo que o cérebro é o centralizador do aprendizado, dependemos, no entanto, de estímulos para que nosso cérebro possa desenvolver-se.

              A aprendizagem, segundo Duboc (2011) é o processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativando as sinapses e intensificando-as.

              A neurociência vem compor um ambiente científico e colaborar com a docência, pois auxilia o professor a compreender os elementos inerentes ao processo de aprendizagem, tais como a memória, a cognição, a atenção e o funcionamento do cérebro de uma forma geral, apropriando-se o conhecimento das várias  possibilidades e maneiras do aprender ou, em outras palavras, “o estudo do cérebro traz, de fato, várias colaborações importantes para compreender melhor os processos envolvidos, tanto em quem ensina como em quem aprende” (LIMA, 2010, p.6).

              Segundo Gardner (1998), sem a treinabilidade necessária, a virtualidade de qualquer uma das inteligências humanas não encontra a quantidade e a qualidade de experiências para se maximizar ou otimizar.

              Esse processo atinge a experiência educacional no papel do educador, pois é ele a figura que precisa, segundo Relvas (2016), conhecer o incrível mundo cerebral, para elaborar e definir melhor os conceitos de aprendizagem.

              A aprendizagem é compreendida como um processo ativo para o qual é fundamental a inter-relação de indivíduos diferenciados seja por suas origens socioculturais, ou por suas atuações profissionais, na relação de troca, principalmente em situações formais de ensino considerado como “um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções superiores psicológicas, culturalmente organizadas e especificamente humanas”. (VYGOTSKY, 1998, p.118).

              Para Relvas (2012), a educação no século XXI aponta uma abordagem para os saberes contemplados, que possam desenvolver a interação e integração do cérebro cognitivo, emocional, motor, afetivo e social, sob essa perspectiva, é possível compreender de forma ampla, a essência da aprendizagem conectada à neurociência.

              O ser humano, como ser que aprende acaba por se transformar no produto das interações que realiza com os outros seres humanos, ou seja, com a sociedade no seu todo.

              A aprendizagem envolve uma integridade neurobiológica e um contexto social facilitador, um processo equilibrado e influenciado entre a hereditariedade e o meio ou entre o organismo e o seu envolvimento.

              Como o ser humano aprende e ensina nas suas experiências é um ponto importante para Feuerstein (1980), a escola ao ampliar e desafiar o aluno à construção de novos conhecimentos, através das relações mediadas, entre professores e alunos, pode criar pontes entre o que está trazendo de nova informação e os conhecimentos pré-existentes do aluno, favorecendo uma aprendizagem motivadora.

              Em linhas gerais, o cérebro possui a capacidade de se transformar durante toda vida, mas isso só foi possível compreender a partir  dos estudos da Neurociência que, nos trouxe a compreensão do fenômeno chamado de Neuroplasticidade, que é a capacidade adaptativa de mudança estrutural do cérebro entre genética e estímulos ambientais além dos fenômenos da aprendizagem e de memória (Relvas, 2007).

              Contudo, os estudos da Neurociência foram importantíssimos no processo de aquisição do conhecimento, despertando um olhar para como o aluno aprende. Como se dá esse processo?

              Então a partir desse questionamento surge a neuroplasticidade que está diretamente relacionada ao processo de aprendizagem, ou de reaprendizagem sendo a capacidade de criação de novos neurônios e novas conexões do cérebro. A plasticidade Neural está associada ao ato de aprender e ligada a memória, por outro lado, que também afeta na nossa capacidade de aprender em sala de aula e superar as dificuldades por meio de diferentes estímulos. (Códea, 2019, p. 24)

              Em âmbito escolar, a neurociência surge com um instrumento de auxílio, pois a educação vinha sendo modulada dentro de um sistema Tradicional de ensino em que as experiências do aluno eram desconsideradas, entendia-se que o sujeito ia a escola para aprender, partindo do pressuposto que era nulo de conhecimento.

              Dentro desse novo contexto que a neurociência nos traz, o sujeito/ aluno passa a ser enxergado como um ser repleto de experiências. Logo, se estabelece uma nova relação de aprendizagem no âmbito escolar, pois para muitos estudiosos da neurociência, o cérebro sempre aprende e retém informações que ficam arquivadas em nossa memória. No entanto vale ressaltar que a fala de muitos educadores de que um determinado aluno não consegue aprender, deve ser descontinuada, pois vai em contrapartida as novas perspectivas aqui abordadas.

              Diante disso surge uma breve reflexão de como o docente recebe esse estudante em sua sala de aula.  Como será que o aluno aprende? Como será que o aluno retém as informações?

              Segundo (SILVA, 2019) o aprendizado se inicia por estímulos externos que ativam no sistema nervoso, criando um circuito neural de comunicação sináptica entre os neurônios, iniciando o fenômeno da Plasticidade Neural.

              Neste sentido nos deparamos com um sujeito repleto de expectativa, memórias e conhecimento que são operantes na formação do mesmo e na sua trajetória de vida e educacional, por isso, podemos inferir que o cérebro é um órgão adaptativo, e constrói sua estrutura e funções por meio de interações com os outros, o que parece ocorrer de forma variada durante várias fases de desenvolvimento no decorrer da vida (Códea, 2019, p.29 ).

              Ao falar de aprendizagem, a neurociência nos remete que aprender gera mudanças no nosso cérebro, o que, por sua vez, está relacionado com as mudanças em nosso comportamento e determina, parcialmente, as escolhas que fazemos, as emoções que temos ou o que escolhemos como nossas predileções. (Códea, 2019, p.26).

               O conhecimento surge a partir nas nossas próprias percepções  em que Alves (2017) nos mostra que o aprender depende de um sistema biológico, emocional, afetivo, cultural e espiritual, Então deduz-se que ninguém percebe nada da mesma maneira, ou seja, o aprender é único e isso só foi possível perceber a partir de estudos sobre a nossa mente.

              Para Moraes (2003 apud Alves, 2017) o fenômeno da educação e da aprendizagem faz-se também como um fenômeno de transformação na convivência, ou seja, o aprender se dá na transformação estrutural que ocorre a partir da convivência social.

              Diante disso, a escola já é e faz parte do processo de aprendizagem do educando, em que o simples fato de conviver com outras pessoas já se estabelece a criação de novas redes neurais que venham a formar novos conhecimentos.

 

              Ainda, em Moraes (2003 apud Alves, 2017) nos diz que conhecimento é o resultado da interação com o mundo e com a realidade a qual pertence e de interações com o que acontece no local, a parir de novas conexões com o global.

               Essas compreensões surgidas em relação a aprendizagem só se tornaram possível com os estudos da Neurociência em que contribuíram largamente para a compreensão do conhecimento cognitivo de cada aluno. Daí surgem estudos que contribuem para esse novo dentro do contexto escolar.

              Consequentemente a neurociência e a neuroplasticidade abriram caminhos para um olhar diferenciado para a Educação, mesmo que de forma vagarosa já podemos perceber os efeitos e contribuições para o cenário educacional.

              Ao longo da compreensão das perspectivas da Neurociência percebe-se a criação de elos entre plasticidade neural, memória, aprendizagem e processo escolar que foi mediante a estudos e pesquisas na área que hoje o sujeito/ aluno pode ser visto como um todo, que possui internalizado conhecimentos e a escola  faz parte desse processo.

              Nesse sentido, Codea (2019) nos mostra que somos capazes de aprender e que, portanto, fica definitivamente determinado que, é falsa a afirmativa de que as pessoas incapazes de aprender na escola, ou em determinada matéria, pois o nosso cérebro é dinâmico e está sempre aprendendo.

              A educação é a parte principal para o desenvolvimento da criança tendo em vista que é na escola que ela estabelecerá novos aprendizados a partir da convivência e dos conhecimentos adquiridos.

 

 

METODOLOGIA DA PESQUISA

 

          Propomo-nos a uma reflexão sobre o cenário da Educação em que sofreu uma grande contribuição dos estudos da Neurociências, que subjazem ao processo de aprendizagem.

          Nesse sentido, a metodologia utilizada, nesse trabalho, é de cunho qualitativo e não quantitativo, uma vez que a contagem de dados não é relevante para a discussão, aqui, apresentada.

          No que diz respeito a aprendizagem, faz imprescindível um detalhamento teórico, que apresenta como eixo central a discussão relativa entre as perspectivas da Neurociência no contexto educacional.

          Na apresentação de pontos e contrapontos da abordagem, fazemos dialogar com os estudos de Relvas, Códea, Gardner e Vygotsky.   

          Dentro desse contexto, buscamos apresentar um postulado integrador, que desconsidera a subjetividade, que contribui para o distanciamento do sujeito das suas próprias experiências do processo cognitivo.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

              As interações que decorrem em sala de aula e fora dela são a base que ressignificam as estruturas neurais, a partir disso, assim segundo Relvas (2016), aprender verdadeiramente é sentir com o cérebro emocional e o da razão, através da afetividade.

              Para Duboc (2011), a possível aproximação produzida pelas áreas de conhecimento, neurociência e educação, pode culminar em uma síntese e consolidar um novo saber, que deve ser apropriado pela escola como uma fonte de mudanças que urge ser empregada no panorama educacional do Brasil.

              Essa realidade busca reconhecimento e maior validação na esfera pública, e consequentemente desenvolver novos indicadores de desenvolvimento no âmbito educacional, cultural e social.

              É de suma importância que educadores aliados às teorias pedagógicas e psicológicas já reconhecidas percebam nas neurociências uma base de apoio de como receber e repassar seus conteúdos, sem discriminações de capacidades, habilidades e históricos sociais.

   

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALVES, Maria Dolores Fortes Alves. Guia prático da Neuroeducação.  Rio de Janeiro, Wak Editora, 2017.

 

CAIEIRO, C.M. et al. A evolução das Neurociências. Disponível em: <www.citi.pt/citi_2005_trabs/ia/evoluçao_das_neurociencias.html> Acesso em: 24 fev. 2011

 

CODEA, André. Neurodidática: fundamentos e princípios. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2019.

 

DUBOC, Maria José Oliveira. Neurociência: significado e implicações para o processo de aprendizagem.  Evidência, Araxá, v. 7, n. 7, p. 25-32, 2011.

FEUERSTEIN, R. Instrumental enrichment: an intervention program for cognitive modifiability. Baltimore: University Park Press, 1980.

 

GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva: 2000.

 

ORTEGA, Francisco J.G. Os desafios da Neurociência para a sociedade e a cultura. Revista Instituto Humanitas Unisinos. ago/set., 2006. São Leopoldo (RS).

 

RELVAS, Marta Pires. Neurociências e educação. Rio de Janeiro: Walk, 1ª ed p.20 a 42.2007.

 

SILVA, Claudia Diniz. Neurociência e Carreira Docente. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2019.

 

SILVEIRA, L.C. Neurociência no Brasil: uma revolução tecnológica ao nosso alcance. Revista Neurociência, Vol.1. n.1. jul/ago.2004.

 

VYGOTSKY. L. A Formação Social da Mente o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998.




Recebido em 16 de dezembro de 2020
Publicado em 25 de março de 2021


Como citar este artigo (ABNT)

LOBATO, Glauber de Araujo Barroco. NOPRES, Thais Teixeira. A Neurociêcnia como Ferramenta no Processo de Aprendizagem. Revista MultiAtual, v. 2, n.3. (Número Especial - Neurociências), 26 de março de 2021. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2021/03/a-neurociencia-como-ferramenta-no.html