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Cíntia Nazaré Oliveira Pires
Professora na Educação Infantil pela rede municipal
do Rio de Janeiro RJ; Mestranda em Educação – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro; cintiaarielle@yahoo.com.br
Dandara Lorrayne do Nascimento
Professora de Matemática – IFMG campus Arcos;
Mestranda em Modelagem Matemática e Computacional – CEFET MG; dandaralno@gmail.com
RESUMO:
Muitas
vezes a criança pode ser excluída do acesso às práticas que direcionam para a
conscientização social, na formação de seres críticos e modificadores,
aprendizagem de fatos, conceitos, atitudes, valores e desenvolvimento de suas
competências. Este estudo teve por objetivo acompanhar um projeto de
sustentabilidade voltado para crianças de dois anos de idade inseridas em
turmas de maternal. Com o tema “Sustentabilidade também é coisa de criança”, a
pesquisa foi qualitativa por se aproximar da realidade dos indivíduos, sendo
realizada durante todo o segundo semestre de 2019. Percebe-se que a
participação da família em projetos oportuniza ações democráticas de sucesso e
resultados favoráveis ao pleno desenvolvimento da criança, além de despertar no
adulto interesses pelo meio ambiente e na preservação de um mundo melhor para
seus descendentes. Percebe-se a importância da motivação e de práticas que
corroboram a sustentabilidade, visto os relatos posteriores às atividades
repassados pelos pais e responsáveis dos estudantes. Conclui-se que o projeto é
bem sucedido e alcançou os objetivos propostos tendo sido reconhecido pela
Secretaria Municipal de Educação e ganhado destaque em suas redes sociais.
Palavras-chave: Projeto
escolcar. Educação Infantil. Docente.
ABSTRACT:
Often the child
can be excluded from access to practices that lead to social awareness, in the
formation of critical beings and modifiers, learning facts, concepts,
attitudes, values and developing their skills. This study aimed to accompany
a sustainability project aimed at two-year-old children in nursery classes.
With the theme “Sustainability is also a child's thing”, the research was
qualitative because it is closer to the reality of individuals, being carried
out throughout the second semester of 2019. It is noticed that the
participation of the family in projects enables successful democratic actions
and results favorable to the child's full development, in addition to arousing
interests in the adult in the environment and in the preservation of a better
world for their descendants. The importance of motivation and practices that
corroborate sustainability can be seen, given the reports after the activities
passed on by the parents and guardians of the students. It is concluded that
the project is successful and reached the proposed objectives having been
recognized by the Municipal Department of Education and gained prominence in
its social networks.
Keywords: Schooling project.
Child education. Teacher.
1.
Introdução
A
Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é muito importante para o
desenvolvimento das crianças. Para Vinha e
Welcman (2010),
a vivência de uma situação qualquer, a vivência
de um componente qualquer do meio determina qual influência essa situação ou
esse meio exercerá na criança. Dessa forma, não é esse ou aquele elemento
tomado independentemente da criança, mas, sim, o elemento interpretado pela
vivência da criança que pode determinar sua influência no decorrer de seu
desenvolvimento futuro (VINHA; WELCMAN, 2010, p.
683-684).
Neste
sentido, foi realizado um projeto, denominado “Sustentabilidade também é coisa
de criança”, que surgiu da necessidade de formar cidadãos conscientes e
críticos capazes de modificar o meio em que vivem. Reduzir o consumo excessivo
através da brincadeira e do lúdico. Pois, é também na Educação Infantil que
temos a oportunidade de desenvolver nas crianças uma personalidade moral
voltada para o meio ambiente. E, através delas despertar no adulto a
consciência de deixar um mundo melhor para seus descendentes. Currie (2000)
salienta que,
Devemos trabalhar sempre os seguintes conceitos: a
consciência pessoal visando à responsabilidade particular para com o Meio
ambiente; a observação detalhada; a organização; a análise; a comunicação; o
uso da imaginação e da criatividade; o estabelecimento da segurança e da autonomia na aprendizagem, promovendo
uma visão integrada do mundo em que vivemos (CURRIE, 2000, p. 36).
O
artigo 255 da Constituição Federal Brasileira de 1988, ao estabelecer que:
“Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações” nos leva a refletir e indagar enquanto educadores sobre a
nossa atitude perante o outro, a empatia e o respeito mútuo ao próximo (BRASIL,
1988).
Dessa
forma, a pesquisa teve como problema central questionar o mundo em que vivemos
e que estamos deixando para os nossos descendentes a partir das vivências
proferidas as crianças na educação infantil.
De acordo com Paro (2002, p.7) a
escola é “apropriação da cultura humana produzida historicamente”
partindo da análise sobre o seu presente, sobre o que já está posto no
cotidiano escolar enquanto meta de ação e, com vislumbre num futuro melhor,
preencher lacunas, com a intenção de gerir uma educação pública, laica e de
qualidade.
Nessa
perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento
de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é
construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais
como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e
vivenciado em todos os momentos por todos os envolvidos com o processo
educativo da escola (VEIGA, 1995, p. 12).
A
gestão democrática se caracteriza pela força da transformação, estimulando
sempre a construção coletiva no sentido de desenvolver valores e sentimentos,
próprios de seres humanos com caráter, capazes de nortear suas ações. Logo, faz-se necessário redefinir novos
pontos de partida na transposição dos obstáculos, redimensionando a prática
pedagógica, de forma que esta atenda àquilo que a maioria deseja. Gadotti,
(2000, p.71) analisa que, “construir o projeto pedagógico de uma escola é
mantê-la em constante estado de reflexão e elaboração numa esclarecida recorrência
às questões relevantes de interesse comum e, historicamente, requeridos”.
Neste sentido, este estudo descreve
qualitativamente o projeto “Sustentabilidade também é coisa de criança” voltado
para alunos da educação infantil do Espaço de Educação Infantil (EDI) situado
na zona oeste do Rio de Janeiro.
2.
Metodologia de pesquisa
Esta
abordagem ocorreu entre os meses de julho e dezembro do ano de 2019. O tema
proposto para o projeto foi “Sustentabilidade também é coisa de criança”,
realizado no Espaço de Educação Infantil situado na zona oeste do Rio de
Janeiro, foi possível acompanhar as atividades que ocorreram em 19 turmas entre
berçário, maternal e pré escola, sendo crianças oriundas das classes populares.
As
turmas de educação infantil são compostas por Professor de Educação Infantil
(PEI), Professor Adjunto de Educação Infantil (PAEI) e Agente de Educação
Infantil (AEI) nas turmas de berçário e maternal. Já nas turmas de pré escola somente
o Professor de Educação Infantil. Foi possível verificar em algumas turmas
Agente de Apoio a Educação Especial (AAEE) e estagiários que atendiam
diretamente crianças com deficiência. As atribuições são iguais com diferença
em termos. Na prática em sala de aula todos exercem a mesma função.
Este
estudo possui uma abordagem qualitativa, pois possui “interesse amplo e parte
de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Dela
faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo
do pesquisador com a situação objeto de estudo” (NEVES, 1996, p.01).
Foram
confeccionados materiais lúdicos de acordo com as festividades do mês de julho,
agosto, setembro, outubro e novembro, utilizando materiais recicláveis, como
forma de conscientizar as crianças sobre a importância da reciclagem.
3.
Desdobramento do projeto
sustentabilidade
No carnaval de 2019 foi proposto aos responsáveis da turma de
maternal, a participação de uma oficina em que cada turma confeccionaria um brinquedo
pedagógico junto ao responsável reutilizando materiais de reciclagem. Porém, a
procura foi baixa. Em uma das turmas, apenas 8% dos familiares compareceram a
oficina. Foi realizado chocalho utilizando garrafa de água e as tampas da
garrafa.
Diante da dificuldade em motivar as famílias sobre a
importância de um mundo sustentável foi criado o projeto “sustentabilidade
também é coisa de criança” para que elas se tornassem porta vozes e levassem a
conscientização às suas famílias.
3.1
Primeiro momento: festa do projeto sustentabilidade
No mês de julho, no
ano de 2019, foi realizada a festa da sustentabilidade dando início ao projeto
com a participação das famílias.
Para as danças, foram produzidos chocalhos com garrafas de
água e boi bumbá com garrafa pet e bambolê. Para algumas brincadeiras, foram utilizadasgarrafas
pet, latas de leite e rolos de papel higiênico, demonstrando que muitas
brincadeiras podem ser divertidas e realizadas com as crianças de forma
dinâmica sem muito custo.
Laços para o cabelo foram confeccionados com tampinhas de garrafa e alguns tecidos. Esses laços (Figura 1) foram distribuídos de brinde para a comunidade escolar.
Figura
1: Laços para cabelos.
3.2 Primeira atividade: descarte adequado do lixo
É
importante ressaltar que nessa atividade as turmas se dividiram em ações que se
entrelaçavam e ao mesmo tempo garantiam o contato direto com a natureza e as
crianças.
O
tema dessa abordagem foi sobre o descarte de lixo. De acordo com Silva (2007, p. 11)
O lixo é um elemento presente na vida de qualquer
pessoa, sendo um ótimo tema a ser trabalhado com os alunos, de forma
interdisciplinar, objetivando a conscientização e a mudança de atitudes dentro
e fora da sala de aula. Assim, a educação ambiental na escola assume um papel
preponderante para a formação do sujeito e sua inserção social, propiciando-lhe
um agir com consciência e atitude perante os problemas do meio ambiente.
A turma do maternal iniciou com as questões
ambientais e a importância do descarte correto do lixo, porém todas as turmas
seguiram essa mesma estratégia. Em sala a docente usou uma música apresentada
pelo Aquarela Kids utilizando o “Sapo Zé” que mostra que lixo não deve ser
jogado no chão de maneira divertida.[1]
Após
essa atividade alguns familiares dos estudantes deram um retorno positivo,
relatando que as crianças disseram em casa que não se pode jogar lixo no chão.
3.3 Segunda atividade:
campanha do óleo
Segundo
Tiriba (2010) muitos espaços são privilegiados para a produção do conhecimento,
[...] pois não apenas as salas de aula, mas
todos os lugares são propícios às aprendizagens: terreiros, jardins,
plantações, criações, riachos, praias, dunas, descampados; tudo que está
entorno do bairro, a cidade, seus acidentes geográficos, pontos históricos e
pitorescos, as montanhas, o mar... Além de se constituírem com espaços de
brincar livremente e relaxar, estes locais podem também ser explorados como lugar
de ouvir histórias, desenhar e pintar, espaços de aprendizagem, em que se
trabalha uma diversidade de conhecimento (2010, p.9)
Neste sentido, as turmas de pré escola iniciaram a
campanha do óleo solicitando aos responsáveis que ao invés de descartar o óleo de
maneira inapropriada, que fosse colocado em garrafa pet e entregue na escola.
Com a quantidade que foi entregue, a docente realizou uma
oficina ensinando aos responsáveis a transformar o óleo em sabão e amaciante,
além de fazer a troca do óleo por detergente em que as crianças ficaram felizes
ao participarem desse momento e entregar o detergente na cozinha da própria
unidade escolar (Figura 2).
Figura
2: Troca do óleo em detergente.
3.4 Terceira atividade:
Semana da Educação Infantil
Anualmente
a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-RJ) promove a Semana
da Educação Infantil. Nessa semana, os responsáveis pelas crianças matriculadas
na rede são convidados a participarem da rotina da unidade escolar. O objetivo
é conscientizar que a educação infantil deixou o aspecto assistencialista.
Um
grande exemplo são as creches que antes as crianças ficavam em horário
integral, as vagas eram destinadas aos responsáveis que tinham função
laborativa e hoje as crianças permanecem quatro horas e meia.
Outro
entendimento é que as crianças aprendem através da brincadeira e interação com
o outro. É através do lúdico que os docentes devem realizar o seu planejamento
e estratégias para atuar junto as crianças. Diferente das outras etapas, não é
permitido uso de folhinhas ou “dever de casa” na educação infantil do município
do Rio de Janeiro. A pauta inclusive já foi tema de prova discursiva em
concurso público para professor de educação infantil em 2015.
Dessa
forma, na Semana da Educação Infantil, foram realizadas atividades ao ar livre,
oficinas, apresentação musical e teatral das crianças, enfatizando assuntos
relacionados ao projeto político pedagógico. Além disso, foi servido almoço
para que os responsáveis avaliassem a merenda fornecida na unidade escolar.
Segundo
Tiriba (2010, p.2), “Creches e pré-escolas são espaços privilegiados para
aprender-ensinar porque aqui as crianças colhem suas primeiras sensações, suas
primeiras impressões”. Neste sentido, a dimensão ambiental não poderia estar
ausente, ou a serviço da dimensão cultural, ambas deveriam estar absolutamente
acopladas.
3.5 Quarta atividade:
desfile cívico
No
desfile cívico é o momento em que todas as unidades escolares apresentam seu
projeto umas às outras e para a sociedade. As crianças levaram cartazes falando
da importância da reciclagem, do descarte correto do lixo e do reaproveitamento
dos alimentos.
De
acordo com Vasconcellos (2006, p. 146), “a valorização das atividades
recreativas e contemplativas junto à natureza é devido ao caos urbano e a
natureza identificada como princípio de ordem ecológica” e que devido a esse
caos, o homem passa a estabelecer uma relação com a natureza como se essa fosse
um objeto, que pertence ao homem, sem fazer parte dele.
O Espaço de Educação Infantil convidou a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) e o gari Sorriso, ícone do carnaval carioca conhecido mundialmente pelo seu sorriso encantador e o samba nos pés após os desfiles de carnaval na Apoteose. O mesmo vinha com a sua vassoura sambando, varrendo e sorrindo, ficando conhecido como o gari Sorriso. A seguir, pela Figura 3, pode-se observar um dos momentos do desfile.
Figura 3: Desfile
cívico – gari Sorriso
3.6 Quinta atividade: dinâmicas no mês de outubro
Em
outubro, muitas escolas costumam fazer festas e comprar presentes. Entretanto,
o Espaço de Educação Infantil decidiu fazer o presente tanto das crianças
quanto das educadoras que comemoram o dia dos mestres e funcionalismo público.
Para
confeccionar os presentes, foram aproveitadas 457 latas, 194 caixas de leite,
40 tampinhas de garrafa pet, 6 caixas de papelão, 4 caixas de ovos, vários
encartes de mercado e diversos outros materiais. A seguir, pela Figura 4,
podemos ver as lembranças confeccionadas.
Figura 4: lembrança
feita para os professores
A intenção da Equipe de Direção foi de reaproveitar as latas de
Mucilon que seriam descartadas, visando produzir um item decorativo e útil ao
mesmo tempo para as educadoras do EDI.
As professoras da pré escola decidiram
fazer para as crianças, “pés na lata” visando também produzir um resgate de uma
brincadeira antiga e bastante divertida, como representa a Figura 5.
Figura 5: pés na lata
As professoras do maternal II decidiram confeccionar um jogo de memória utilizando caixa de papelão. O objetivo foi trabalhar a concentração das crianças, jogos e regras. Pela Figura 6, podemos ver o jogo confeccionado.
Figura 6: jogo da
memória
As
professoras do berçário e maternal I que atuam com crianças de 6 meses e 2 anos
e 11 meses, respectivamente, decidiram criar fantoches de caixa de leite. Cada
professora escolheu um tema que tinha relacionamento com que as crianças
gostavam e identificavam. A docente do berçário se inspirou
na música "Coelhinho Fufu", que faz uma alusão aos cuidados que
devemos ter uns com os outros. Uma das professoras do maternal se inspirou na
música “o sapo não lava o pé” enquanto a outra na música do “jacaré”. E, assim
foram criados fantoches de coelho, sapo e jacaré com caixas de leite (Figura 7).
Os responsáveis foram alertados para a importância das brincadeiras livres para
o desenvolvimento pleno das crianças. Para Meirelles (2014, p.64),
Na
natureza, as crianças são solicitadas a agir de dentro para fora, pois há apenas
sugestões do que, como e por que fazer algo. Ao contrário dos brinquedos
prontos, ou da televisão, que já possuem forma, função e conteúdo definidos, os
elementos da natureza convidam a criança a agir ativamente no mundo,
transformando a matéria a partir de sua imaginação e ação. Assim, de um tronco
nasce um carrinho; de um sabugo, uma boneca; de uma folha de bananeira, uma
cabana. Ao transformar a matéria-prima, a criança produz cultura.
Figura
7: coelhos, sapos e jacarés construídos com materiais recicláveis.
3.7 Sexta atividade: desafio pedagógico
Em uma das turmas de maternal, a professora resolveu
lançar um desafio aos responsáveis, com o objetivo de avaliar a participação
deles nas atividades.
Visto que, a
educação é um dever da família e principalmente verificar o cuidado da
comunidade escolar em relação ao meio ambiente e valores culturais. De acordo
com Tuan (2012, p. 139-140),
Na
vida moderna, o contato físico com o próprio meio ambiente natural é cada vez
mais indireto e limitado a ocasiões especiais. [...] O que falta às pessoas nas
sociedades avançadas (e os grupos hippies parecem procurar) é o envolvimento
suave, inconsciente com o mundo físico, que prevaleceu no passado, quando o
ritmo da vida era mais lento e do qual as crianças ainda desfrutavam. [...] A
natureza produz sensações deleitáveis à criança, que tem mente aberta,
indiferença por si mesma e falta de preocupação pelas regras de beleza
definidas. O adulto deve aprender a ser complacente e descuidado como uma
criança se quiser desfrutar poliformicamente da natureza.
A docente organizou a plantação de sementes de girassóis
no potinho de iogurte em sala de aula, conforme mostra a Figura 8.
Posteriormente, conversou com as crianças sobre a importância de se preservar e
cuidar da natureza. As crianças tiveram a oportunidade de sentir a terra e
tocar na semente de girassol. Para Barbieri (2012, p.116)
A
natureza traz em si desafios físicos e estéticos que mobilizam as crianças a se
aventurar. A lama, a areia as pedras, seus formatos e cores, seus pesos,
temperaturas; as plantas, suas folhas, sementes, troncos e talos, raízes com
diferentes texturas, cheiros, cores e tamanhos; e os animais que habitam esses
lugares: os insetos com seus ruídos peculiares, suas cores e formatos; os
diferentes relevos, as topografias: rios montes, barrancos, planícies. Enfim,
um universo de possibilidades a serem observadas e investigadas, a serem
brincadas, que nos levam ao sentimento de comunhão. Somos parte da natureza, e
podemos e devemos nos religar a ela.
Figura 8: plantando girassóis
As crianças levaram para casa os potes com os girassóis plantados para continuarem cuidando até que florescesse. Também ficou a critério dos responsáveis se quisessem plantar uma árvore ao ar livre numa praça e fotografar este momento junto a criança. Em seguida, postar no facebook da unidade escolar afirmando que havia aceitado o desafio. Todos os responsáveis concordaram em participar do desafio em que ficou acordado que as crianças ganhariam um brinquedo feito com material reutilizável. A seguir, pela Figura 9, podemos ver uma postagem feita, em rede social, pelos responsáveis de uma das alunas.
Figura 9: desafio aceito!
O
brinquedo de material reutilizável foi o bilboquê, feito com garrafa pet e
cápsula de café que foi entregue as 8 crianças que participaram do desafio.
Alguns pais que não participaram alegaram que não tinha facilidade as redes
sociais e outros que o girassol não cresceu.
Em outra turma, a docente construiu a árvore de natal com
caixas de papelão e enfeites doados pela família das crianças. Segundo a
gestora da unidade escolar, o
enfoque trabalhado com as crianças foi a questão da sustentabilidade. Desde
cedo, os educandos já compreendem a relação entre o ser humano e o meio
ambiente. O objetivo principal é a busca pela conscientização do indivíduo e,
consequentemente, de toda comunidade para as práticas sustentáveis. Pela Figura
10, podemos ver a construção da árvore.
4.
Considerações
finais
O
projeto trouxe possibilidades de as crianças vivenciarem a natureza em seu
tempo e espaço, minimizando o consumismo gerado pela mídia e principalmente
conectando ao outro. Para Foucault (1992, p. 306) se a linguagem exprime, não o
faz na medida em que imite e reduplique as coisas, mas na medida em que
manifesta e traduz o querer fundamental daqueles que falam.
Muitas
vezes torna-se eficaz abdicar da arrogância de querer administrar a vida das
crianças de forma enérgica e criar elo com elas. Deleuze (1968, p. 116), aponta que "basta saber
para saber que sabemos".
Os responsáveis da turma de maternal investigada
durante a pesquisa demonstraram satisfação ao desconstruir a ideia
e a realidade de uma vida entre paredes e participar do processo de construção
de conhecimento das crianças. [2]
Além disso, ressaltamos que
este projeto recebeu reconhecimento da Secretaria Municipal de Educação do Rio
de Janeiro e ganhou grande destaque em suas redes sociais, devido a interação
dos pais e responsáveis dos alunos. Isso mostra a importância da educação,
tendo o estudante como centro no ensino.
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[1]
O
vídeo está disponível no Youtube através do link: https://www.youtube.com/watch?v=1qbTY5kMaic
[2]
O Espaço de Educação Infantil teve seu projeto divulgado pela
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, podendo ser acessado
através do link: http://www.rio.rj.gov.br/web/rioeduca/exibeconteudo/?id=10284075&fbclid=IwAR2z75w1ssH1LAEFUAuFNiBkEkI5hyQRnjxvNELtyWulKgxB7gk6LqObV0Y