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Luiz Augusto Ferreira de Campos Viana
Mestre em Engenharia de Materiais (UFOP). Graduado em Engenharia Industrial Mecânica (CEFET-MG). Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) Campus Avançado Arcos. luiz.viana@ifmg.edu.br
Sayonara Figueiroa Bezerra de Melo Silva
Especialista
em Ensino de Língua Portuguesa e Inglesa (UNIBF), Licenciada em História
(Universidade Católica de Pernambuco) sayonaraestudos@yahoo.com
Sonja Helena Voitovitch
Mestranda em Linguística (UERJ), Especialista
em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa (UERJ) e Língua Inglesa
(PUC-Rio), Licenciada em Letras – Português/Inglês (UNESA) e Professora de
Inglês na rede pública municipal do Rio de Janeiro. voitovitch@gmail.com
Resumo: O presente artigo apresenta uma revisão
bibliográfica sobre dados de acesso à tecnologia no Brasil e estratégias de
letramento digital na sala de aula de Língua Inglesa nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Inicialmente, é feita uma contextualização sobre o atual
momento vivido por nossa sociedade onde estudantes e professores necessitam de
conectividade para construírem um processo de aprendizagem eficaz em tempos de
isolamento. Com isso, aponta-se dois questionamentos sobre acesso à tecnologia
por estudantes e professores da rede pública. Em seguida, através das
estatísticas apresentadas e comentadas, a pesquisa expõe como o acesso a
conectividade no país vem aumentando ao longo dos anos com a implementação de
políticas públicas de acesso às redes. Ainda, explana acerca dos conceitos de
infopobre e inforrico ilustrando como a conectividade, ou a falta dela, está
atrelada a problemas sociais que assolam nosso país. Além disso, faz um detallhamento
das políticas públicas implementadas ao longo de anos que possibilitaram o
aumento da conectividade nos dados estatísticos expostos. No entanto, os dados ainda mostram que muitos
estudantes não são atingidos pelas políticas públicas explanadas e, então, o
artigo propõe atividades pedagógicas de desenvolvimento do letramento digital
através de recursos analógicos na sala de aula de Língua Inglesa da rede
pública de ensino básico.
Palavras-Chave: tecnologia, políticas públicas, ensino,
Língua Inglesa.
Abstract: This article presents a bibliographic review on data on access to technology in Brazil and digital literacy strategies in the English language classroom in the early years of elementary school. Initially, a contextualization is made about the current moment experienced by our society where students and teachers need connectivity to build an effective learning process in times of isolation. With this, two questions about access to technology by students and public school teachers are pointed out. Then, through the statistics presented and commented, the research exposes how access to connectivity in the country has been increasing over the years with the implementation of public policies for access to networks. Still, it explains about the concepts of infopoor and inforrico illustrating how connectivity, or the lack of it, is linked to social problems that plague our country. In addition, it details the public policies implemented over the years that made it possible to increase connectivity in the exposed statistical data. However, the data still shows that many students are not affected by the public policies explained and, therefore, the article proposes pedagogical activities for the development of digital literacy through analog resources in the English language classroom of the public basic education network.
Keywords: technology, public policy, teaching, English Language
- INTRODUÇÃO
A educação da atualidade
propaga-se das mais diversificadas maneiras e o mundo digital auxilia esta
multiplicação funcionando como mais uma opção de ambiente educacional. Contudo,
espera-se que em um mundo ideal todos tenham acesso às plataformas e
ferramentas necessárias para lidar com este fato, que é a propagação do mundo
digital nas esferas educacionais.
Em um mundo real, onde a
desigualdade social atinge milhares de estudantes em nosso país, acreditar que
todos têm acesso aos mecanismos necessários para o desenvolvimento do
letramento digital é no mínimo leviano. Para Anísio Teixeira (2009, p. 111), “o
Brasil não é apenas um país de distâncias materiais, o Brasil é um país de
distâncias sociais e de distâncias mentais, de distâncias culturais, de
distâncias econômicas e de distâncias raciais”. Visando a ilustrar a fala do
autor e através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE),
podemos entender como a desigualdade assola uma significativa parcela do povo
brasileiro, uma vez que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à
internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros
que não acessam a rede.
Como atingir esses
milhões de brasileiros, muitos deles estudantes, com conhecimento sobre
dispositivos tecnológicos que nunca utilizaram? Como ensinar o estudante a
lidar com o que nunca experienciou? Estas dúvidas permeiam as mentes de
professores ao redor de nosso país, uma vez que é necessário tirar os
estudantes deste local de marginalização para torná-los cidadãos digitais deste
mundo globalizado ao qual pertencemos.
Com o intuito de
refletir sobre práticas pedagógicas de inclusão digital no contexto infopobre,
este artigo busca explanar sobre o ambiente educacional da escola pública de
ensino fundamental e os recursos utilizados para gerar conhecimento acerca do
letramento digital nos anos iniciais do ensino fundamental, especificamente nas
aulas de Língua Inglesa.
Desta forma, propomos
algumas perguntas norteadoras que buscaremos abordar ao longo do texto:
- Como crianças e adolescentes da rede pública,
especificamente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, têm acesso à
tecnologia?
- Como professores da rede pública podem utilizar a
tecnologia para o ensino de Língua Inglesa nos anos iniciais do Ensino
Fundamental?
- JUSTIFICATIVA
Em um mundo onde,
repentinamente, as interações sociais mudaram drasticamente de físicas para
meios remotos devido à pandemia da Covid-19, uma das áreas mais afetadas é o
ensino de crianças e adolescentes. Uma vez que este público, quando tinha
acesso à educação formal, era através de meios tradicionais, como escolas
públicas ou particulares, o ensino remoto tem se mostrado uma opção para a
continuidade do ano letivo de 2020.
Observa-se também que
este ensino remoto é representado das mais variadas formas por instituições
distintas e tenta abranger seus estudantes com diferentes ferramentas e
plataformas de acesso. No entanto, professores e gestores educacionais
questionam a abrangência do acesso destas plataformas pelos estudantes e,
ainda, destacam que este novo formato proposto pode provocar um aumento no
abismo educacional já existente entre jovens marginalizados e o acesso à
educação formal.
Ao nos lembrarmos da
fatia significativa de estudantes que não são atingidos pela educação remota
proposta pelos governantes, podemos citar Bourdieu (1989), que no século
passado já identificava como a educação pode ser seletiva, uma vez que a escola
não busca equalizar as diferenças sociais, mas sim, enaltece a estrutura social
a qual pertencemos, onde o conhecimento é, geralmente, predominantemente
acessado pelas classes dominantes, muitas vezes apagando, consciente ou
inconscientemente, o acesso ao conhecimento pelos marginalizados.
Para o autor, ainda, a
facilidade de desempenho no uso da linguagem, por exemplo, está atrelada ao
ambiente familiar propício e a exposição a livros ou recursos que estejam
relacionados ao uso de linguagem em seu contexto. Logo, é possível fazermos uma
associação do exemplo ilustrado (linguagem) com letramento digital, na qual
jovens da atualidade que não são expostos ou não possuem acesso ao meio digital
têm de estar aptos às novas interações digitais.
Com isso, o presente
artigo objetiva trazer reflexões acerca dos questionamentos expostos utilizando
a teoria do contexto infopobre e contextualizando-a dentro do ensino de Língua
Inglesa no Ensino Fundamental nos anos iniciais.
- OBJETIVOS
O presente artigo
objetiva demonstrar como estudantes da rede pública nos anos iniciais do Ensino
Fundamental utilizam tecnologias e acessam a Internet. Além disso, sugere a
implementação de uso de tecnologias no processo de aprendizagem da Língua
Inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental na educação pública básica
pelos professores, focando no contexto infopobre. Com isso, visa a possibilitar
a ampliação do letramento digital através de estratégias pedagógicas, com o
intuito de diminuir a distância entre estudantes marginalizados e o acesso às
redes.
Através de uma
leitura crítica de estudos sobre políticas públicas educacionais brasileiras e
dados sobre letramento digital na educação pública básica, o artigo propõe
descrever a relação estudante-tecnologia e professor-tecnologia. Ademais,
analisar como o uso da tecnologia no contexto citado
pode contribuir para o aprendizado da língua inglesa nos primeiros anos do
ensino fundamental através de estratégias pedagógicas na educação pública
básica.
- METODOLOGIA
DA PESQUISA
Com o intuito de
explorar os questionamentos iniciais propostos na Problematização sobre como a
tecnologia pode contribuir para a aprendizagem de Língua Inglesa nos anos
iniciais do ensino fundamental, será feita uma pesquisa bibliográfica acerca da
temática abordada. Então, torna-se necessário uma breve explanação acerca da
metodologia escolhida para discutir o assunto.
Dessa forma, encontramos
em Severino (2017) que a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a
partir de registro já disponível, decorrente de pesquisas anteriores em
documentos como livros, artigos, dissertações, teses etc. Estes documentos,
registrados por outros pesquisadores, tornam-se fonte para temas a serem
pesquisados. Com isso, o autor da pesquisa bibliográfica irá produzir suas
conclusões através de estudos de textos consultados e já publicados. Ainda, em
Boccato (2006), podemos perceber que
a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um
problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e
discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará
subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que
enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura
científica. (BOCCATO, 2006, p. 265)
Ademais, segundo Lima e
Mioto (2007), vale ressaltar que quando uma pesquisa bibliográfica é
pertinente, será capaz de propiciar a postulação de interpretações que servirão
de ponto de partida para outros estudos. Levando este aspecto em consideração,
a metodologia selecionada se torna adequada para a explanação das ponderações
inicialmente apresentadas neste artigo acerca das tecnologias e o ensino de
Língua Inglesa.
Logo, nesta revisão
bibliográfica, abordaremos alguns tópicos para refletirmos sobre possibilidades
de letramento digital nos anos iniciais do ensino fundamental. Primeiramente,
serão explanadas estatísticas sobre acesso à internet em nosso país, em
seguida, será explicado o conceito de infopobre e, então, mostraremos as políticas
públicas governamentais adotadas para tentativa de inclusão digital. Através
dessa contextualização, proporemos possíveis estratégias pedagógicas,
utilizando o conceito infopobre, que podem auxiliar no ensino de Língua Inglesa
no ensino fundamental.
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Diante de toda a tecnologia
que atualmente permeia nossa sociedade como smartphones, tablets, laptops,
plataformas de stream, jogos on-line, jornais e revistas digitais,
bancos virtuais, nota-se que esses recursos afetam diretamente a rotina da
sociedade, principalmente, as gerações que crescem concomitantemente com o
desenvolvimento/implementação destes recursos.
A educação acerca destes
recursos digitais muitas vezes é subestimada, pois imagina-se que jovens que
crescem em meio a essas inúmeras ferramentas, naturalmente, dotam o
conhecimento para operá-las. No entanto, muitos de nossos jovens vivem à margem
da sociedade e não possuem os meios ideais para desenvolverem as habilidades
operacionais de muitos recursos tecnológicos que nos cercam.
5.1
AS ESTATÍSTICAS NÃO MENTEM
Com o intuito de ilustrar
historicamente os dados acerca da conectividade do brasileiro, busca-se nesta
parte do artigo mostrar números que tangem o ano de 2005, descrevendo
estatisticamente o acesso a internet até o ano de 2018 com os dados atualizados
da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
De acordo com o levantamento de Waiselfisz (2007,
p. 9), dados do Mapa das Desigualdades Digitais no Brasil apontavam que somente
21% das crianças com 10 ou mais anos utilizavam a internet no Brasil. A
porcentagem informada englobava o acesso através de diversos meios, e foi
retirada da PNAD (IBGE, 2005).
Através da pesquisa de
Silva (2008), que analisou os números presentes no Mapa das Desigualdades
Digitais no Brasil, é possível destacar o abismo entre os dados referentes aos
acessos às redes por estudantes da rede pública e pelos estudantes da rede
privada no ano de 2005. A autora destaca que
38% dos estudantes têm acesso à internet no Brasil, seja
na escola, trabalho, domicílio, centros pagos ou gratuitos, entre outros. No
entanto, os dados demonstram que, no universo pesquisado, o número total dos
estudantes de escolas privadas que acessam a internet no país chega a 83,6%,
enquanto que apenas 37,3% dos estudantes de escolas públicas de ensino médio
acessam, e o número de estudantes de escolas públicas de nível fundamental é
ainda menor: 17,2%. (SILVA, 2008, p.8)
Ao afunilarmos os dados
estatísticos de 2005, buscando os números por segmento educacional em relação à
forma de acesso às redes, os resultados tornaram-se mais desanimadores como nos
consta “... dados da PNAD 2005, só 11,6% dos alunos do Ensino Fundamental
tiveram condições de ter acesso à Internet em suas escolas, caindo para 8,5%
quando desagregadas as escolas públicas” (WAISELFISZ, 2007, p. 22). Através
destes dados, ao excluirmos a rede privada, observa-se que só 3,1% de estudantes
da rede pública no Ensino Fundamental tiveram acesso às redes em suas escolas
em 2005, ilustrando como as desigualdades sociais não estavam dissociadas da
exclusão social em nosso país no período.
Para traçar um panorama da
atual realidade da conectividade dos brasileiros, o artigo propõe mostrar dados
atualizados da PNAD (2018) com o intuito de estabelecer a evolução da
acessibilidade virtual dos brasileiros. Em 2018, a Internet já é utilizada em
79,1% dos domicílios do país. O percentual de domicílios nos quais a Internet é
utilizada subiu para 83,8%, em área urbana, e 49,2%, em área rural.
Os números mostrados na
pesquisa de 2018 parecem promissores em termos de porcentagem e/ou estatística
em relação aos números apresentados na PNAD de 2005. No entanto, de acordo com
a pesquisa atualizada, ao destacarmos que 14.991 domicílios brasileiros não
utilizam internet de modo algum, é possível refletirmos sobre quantos desses
lares têm crianças e adolescentes em idade escolar e que muitos não desenvolvem
letramento digital em casa.
É possível, ainda, destacar
alguns motivos que fazem com que estes inúmeros brasileiros não utilizem a
internet:
“falta de interesse em acessar a Internet (34,7%),
serviço de acesso à Internet era caro (25,4%) e nenhum morador sabia usar a
Internet (24,3%) (...) a Internet não estar disponível na área do domicílio
abrangeu 7,5% das residências em que não havia utilização da Internet e o
motivo de o equipamento eletrônico para acessar a Internet ser caro, 4,7%.
(PNAD, 2018)
Entende-se
através desses dados atualizados que muitos brasileiros ainda não possuem as
ferramentas de acesso às redes, como celulares ou tablets, por terem um preço
elevado e, também, os valores ofertados pelas operadoras de serviços de
internet não condizem com a realidade financeira de muitos.
Para a
dicotomia sobre o acesso aos meios digitais, quando uma parte da população
possui acesso as redes e, consequentemente, desenvolve o letramento digital e
outra que não consegue acesso à internet por diversos motivos, que incluem
falta de recursos financeiros, Toffler (1990, p. 387) divide a população em
inforrica e infopobre e afirma que existem possibilidades de superação dos
“problemas relacionados com a maneira pela qual o conhecimento é disseminado na
sociedade”. Ainda, segundo o autor, uma das possibilidades seria a parceria
entre os sistemas educacionais e os meios de comunicação para que fosse
possível desenvolver princípios de conectividade, interatividade e
globalização.
Visando a ilustrar o
conceito infopobre, a seguir discutiremos como as diferenças sociais afetam
diretamente a performance dos cidadãos que possuem ou não acesso à tecnologia e
como políticas públicas de inclusão digital são essenciais na atualidade.
5.2
INFOPOBRE X INFORRICO
A cibercultura se faz mais presente a cada dia no mundo
globalizado. Se por um lado, ela gera empregos, propaga a modernidade e propõe
o desenvolvimento tecnológico, por outro, exclui do mundo digital aqueles
cidadãos marginalizados que não têm acesso aos recursos necessários para serem
considerados ‘incluídos digitais’ ou inforricos. Com isso, observa-se que,
apesar de todos os pontos positivos, a cibercultura pode refletir mais uma
forma de desigualdade, sobretudo nos países mais pobres ou em desenvolvimento.
No campo educacional, este assunto não seria retratado de
modo distinto. Uma vez que existem os estudantes que possuem computadores
individuais, celulares e outros aparelhos que dispõem de conexão com as redes,
os chamados de inforricos, e, aqueles que nunca os utilizaram ou não têm acesso
aos tais aparelhos, denominados de infopobres.
Para que haja desenvolvimento cultural e social em nossa
sociedade, faz-se necessária a inclusão dos indivíduos desprivilegiados, os
infopobres, ao mundo digital. Desta forma, é possível evitar a aceleração da
desigualdade entre os que têm e os que não têm acesso à cibercultura com
autonomia. Como bem exemplificado por Pretto (2008, p. 80), nota-se que
as tecnologias necessitam ser compreendidas como elementos fundantes das
transformações que estamos vivendo, buscando ser incorporadas através de
políticas públicas para a educação que ultrapassem as fronteiras do próprio
campo educacional, para, com isso, poder trabalhar visando ao fortalecimento
das culturas e dos valores locais. (PRETTO, 2008, p. 80)
Ademais, ao relacionarmos o
acesso à tecnologia à desigualdade social que assola nosso país, podemos
destacar Coll e Monereo (2010) que conceituam duas ‘classes sociais’
relacionadas ao acesso ou falta dele em relação às ferramentas tecnológicas: o
infopobre e o inforrico. Estas categorias, com o crescente desenvolvimento da
tecnologia, acabam polarizando o ambiente digital. Assim, os infopobres são
representados por aqueles que não têm acesso à internet e aos meios de comunicação
modernos, enquanto os inforricos seriam os que desfrutam dos inúmeros recursos
disponíveis para interagirem no mundo digital.
Podemos, ainda, destacar
Ramonet (1998, p. 145), que corrobora os pensamentos de Coll e Monereo (op cit), ao
retratar os absurdos índices de desigualdade social
em relação ao acesso digital. De acordo com o autor, só uma pequena parcela da
população tem um computador pessoal e essa desigualdade acelerada, gerada pelo
desenvolvimento da internet acarreta a divisão dos cidadãos entre infopobres e
inforricos:
Não há dúvida de que,
com a Internet - mídia, daqui em diante, tão banal quanto o telefone - entramos
em uma nova era da comunicação. Muitos estimam, com certa ingenuidade, que o
volume cada vez maior de comunicação fará reinar, nas nossas sociedades, uma
harmonia crescente. Ledo engano. A comunicação, em si, não constitui um
progresso social. E ainda menos quando é controlada pelas grandes firmas
comerciais da multimídia. Ou quando contribui para aprofundar as diferenças e
as desigualdades entre cidadãos do mesmo país, ou habitantes do mesmo planeta.
(RAMONET, 1998, p. 145)
Para que haja equilíbrio no desenvolvimento do letramento digital,
faz-se necessária a implementação de políticas públicas de inclusão digital.
Com isso, na próxima parte deste artigo, abordaremos os atos governamentais que
tentam mudar o paradigma inforrico x infopobre em nossa sociedade.
5.3
POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL
Ao consultar o Mapa das
Desigualdades Digitais, é possível visualizar em gráficos como as diversas
desigualdades socioeconômicas em nosso país determinam as condições de acesso
aos benefícios das atuais tecnologias da informação. Consequentemente, nota-se
que a iniciativa pública caminha a passos estreitos ao tratarmos sobre uma
inclusão digital efetiva.
Assim, destacamos
Waiselfisz (2007, p. 21) que identificou que
priorizar a inclusão digital pela via individual para
aqueles que vivem no nível da subsistência (...) foi, até hoje, a política
preponderante da expansão digital, em detrimento de estratégias coletivas ou
sociais. Os quantitativos da PNAD/IBGE de 2005 são claros ao destacar essa
prioridade: enquanto 10,5% da população de 10 anos de idade ou mais acessou a
Internet em seu domicílio, só 2,1% o fizeram em centros gratuitos. Mais ainda,
esses centros gratuitos, por diversos motivos, como localização, finalidade
etc., acabam sendo mais utilizados pelos setores de maior renda. (WAISELFISZ,
2007, p. 21)
Além disso, o autor aponta
dados sobre os centros de acesso gratuitos destacados e, que apesar do aumento
no número de centros em 2007, estes locais, em uma quantidade considerável, são
subsidiados pelo terceiro setor, refletindo assim o descaso público em relação
à inclusão digital no país. Com o propósito de ilustrar as reflexões aqui
explanadas, destacamos os números levantados pelo Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT que apontou que em 2007
o país teria 108 programas de Inclusão Digital, atuando
em quase 3.000 municípios do país, via 16.722 pontos de inclusão digital –
PIDs. Desse total, 43 correspondem a iniciativas do terceiro setor – e as
restantes, propostas federais, estaduais e/ou municipais. (IBICT, 2007, p. 21)
O
Brasil, como nação continental, possui 5570 municípios de acordo com o último
censo em 2020, então, ao visualizarmos os dados acima fornecidos pelo IBICT,
percebemos que pouco mais da metade dos municípios estão amparados pelas
políticas públicas de inclusão digital. Especificamente em termos de
porcentagem, estamos falando de 53% dos municípios.
Para
ilustrar as políticas públicas expostas nestas estatísticas, utiliza-se nessa
pesquisa um recorte de dois dos últimos grandes programas de inclusão digital
propostos pelo governo federal: Banda Larga nas Escolas (2008) e Um Computador
por Aluno (PROUCA 2010).
O
primeiro preconiza conectar todas as escolas públicas urbanas à internet, rede
mundial de computadores, por meio de tecnologias que propiciem qualidade,
velocidade e serviços para incrementar o ensino público no Brasil. Nota-se aqui
que a prioridade do governo federal em 2008 era abastecer as áreas urbanas com
acessibilidade virtual. Ou seja, os estudantes de perímetro rural ainda estão
excluídos deste programa de inclusão digital.
O
segundo compromete-se a promover a inclusão digital, pedagógica e social
mediante a aquisição e a distribuição de computadores portáteis em escolas
públicas, em escala piloto de teste e avaliação. Este, mais recente, ainda é
deficitário, uma vez que limita o fornecimento do equipamento às escolas
participantes do projeto piloto.
Através
destes dados expostos sobre as políticas públicas de inclusão digital, devemos
refletir acerca de nossa prática docente e tentar desenvolver estratégias
educacionais de letramento digital em contexto escolar. A seguir, discutem-se
ideias executáveis em meio à educação pública com o intuito de diminuir a
exclusão digital de estudantes e levando em consideração as limitações de
recursos tecnológicos destas instituições públicas.
- ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
PARA LETRAMENTO DIGITAL
Evidencia-se que o
letramento digital pode ser trabalhado diversificadamente com o aprimoramento
da interatividade utilizando gêneros textuais digitais (como fóruns de
discussão e perfis de rede sociais) através de meios analógicos. Nesta seção
discutiremos estratégias pedagógicas que podem ser aplicadas dentro das
limitações do contexto infopobre que assola a realidade da rede pública.
Apesar das inúmeras
barreiras ilustradas pelos dados da PNAD, professores podem desenvolver
letramento digital por meio de recursos analógicos com o intuito de diminuir a
barreira entre o estudante e o meio tecnológico. Uma das possíveis atividades
que este artigo propõe é a utilização do Kahoot (aplicativo que apresenta
questionários simulando jogos) em sala de aula sem o uso de smartphones dos
estudantes.
6.1
KAHOOT SEM CELULAR
O famoso aplicativo Kahoot,
que propõe o uso de questionários de forma gamificada em sala de aula, promove
um ensino lúdico e divertido para muitos estudantes que estudam língua
estrangeira. Em inúmeras aulas de inglês,$ é possível identificar professores
que utilizam o aplicativo para revisar vocabulário, fixar estruturas,
consolidar conteúdo estudado através de um questionário (ou kahoots) que pontua
a cada resposta certa e, ainda, pontua os respondentes mais rápidos.
Em princípio, o uso deste
aplicativo tende a contribuir para o processo de ensino e aprendizagem de
estudantes de Língua Inglesa, no entanto, como apontam os dados da última PNAD
(2018) neste artigo, ainda temos inúmeros estudantes que não possuem os
recursos necessários para utilizar o Kahoot, ora por não possuírem o aparelho
móvel, ora por não terem acesso à conectividade necessária quando possuem o
aparelho.
Com o intuito de estreitar
as barreiras enfrentadas por muitos professores de língua estrangeira ao
promover lições diferenciadas, uma ideia sobre a utilização do aplicativo de
forma analógica faz-se necessária para que os estudantes marginalizados
desenvolvam letramento digital acerca do aplicativo popular em muitas salas, só
que de maneira diferenciada.
A proposta envolve o
desenvolvimento de um Kahoot pelo professor, como seria em sua proposta
regular. No momento da aula, o professor distribuiria cartões coloridos com os
símbolos e cores dos botões do Kahoot para que os estudantes utilizassem para
responder o questionário projetado pelo professor. Então, ao projetar o
questionário, o professor mostraria as alternativas e os estudantes levantariam
seus cartões com a resposta que acreditam ser a correta.
A estratégia sugerida
diminui certas funcionalidades do aplicativo, como por exemplo, o anonimato. No
entanto, a proposta é o desenvolvimento das habilidades linguísticas em inglês
e acredita-se que manter o anonimato neste momento em que os estudantes estarão
entretidos com o jogo, não seja extremamente necessário.
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos dados
examinados nesta pesquisa, destaca-se a importância de políticas públicas de
inclusão digital eficazes em nosso país, uma vez que inúmeros brasileiros em
idade escolar não possuem o devido acesso à conectividade. Com isso, torna-se
limitador o desenvolvimento do letramento digital em salas de aula de língua
estrangeira.
Ao introduzir o tema de
maneira transversal e em várias frentes, como a cidadania digital, mídias
digitais, apropriação tecnológica, especificidades das tecnologias digitais da
informação, da comunicação e das mídias, o profissional da educação contribuirá
para o empoderamento de seus estudantes acerca dos meios digitais, apesar dos
dados mostrados no levantamento estatístico da presente pesquisa.
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