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Luiz Augusto Ferreira de Campos Viana

Mestre em Engenharia de Materiais (UFOP). Graduado em Engenharia Industrial Mecânica (CEFET-MG). Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) Campus Avançado Arcos. luiz.viana@ifmg.edu.br

 

Sayonara Figueiroa Bezerra de Melo Silva

Especialista em Ensino de Língua Portuguesa e Inglesa (UNIBF), Licenciada em História (Universidade Católica de Pernambuco) sayonaraestudos@yahoo.com

 

Sonja Helena Voitovitch 

  Mestranda em Linguística (UERJ), Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa (UERJ) e Língua Inglesa (PUC-Rio), Licenciada em Letras – Português/Inglês (UNESA) e Professora de Inglês na rede pública municipal do Rio de Janeiro. voitovitch@gmail.com

 

Resumo: O presente artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre dados de acesso à tecnologia no Brasil e estratégias de letramento digital na sala de aula de Língua Inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Inicialmente, é feita uma contextualização sobre o atual momento vivido por nossa sociedade onde estudantes e professores necessitam de conectividade para construírem um processo de aprendizagem eficaz em tempos de isolamento. Com isso, aponta-se dois questionamentos sobre acesso à tecnologia por estudantes e professores da rede pública. Em seguida, através das estatísticas apresentadas e comentadas, a pesquisa expõe como o acesso a conectividade no país vem aumentando ao longo dos anos com a implementação de políticas públicas de acesso às redes. Ainda, explana acerca dos conceitos de infopobre e inforrico ilustrando como a conectividade, ou a falta dela, está atrelada a problemas sociais que assolam nosso país. Além disso, faz um detallhamento das políticas públicas implementadas ao longo de anos que possibilitaram o aumento da conectividade nos dados estatísticos expostos.  No entanto, os dados ainda mostram que muitos estudantes não são atingidos pelas políticas públicas explanadas e, então, o artigo propõe atividades pedagógicas de desenvolvimento do letramento digital através de recursos analógicos na sala de aula de Língua Inglesa da rede pública de ensino básico. 

Palavras-Chave: tecnologia, políticas públicas, ensino, Língua Inglesa.

Abstract: This article presents a bibliographic review on data on access to technology in Brazil and digital literacy strategies in the English language classroom in the early years of elementary school. Initially, a contextualization is made about the current moment experienced by our society where students and teachers need connectivity to build an effective learning process in times of isolation. With this, two questions about access to technology by students and public school teachers are pointed out. Then, through the statistics presented and commented, the research exposes how access to connectivity in the country has been increasing over the years with the implementation of public policies for access to networks. Still, it explains about the concepts of infopoor and inforrico illustrating how connectivity, or the lack of it, is linked to social problems that plague our country. In addition, it details the public policies implemented over the years that made it possible to increase connectivity in the exposed statistical data. However, the data still shows that many students are not affected by the public policies explained and, therefore, the article proposes pedagogical activities for the development of digital literacy through analog resources in the English language classroom of the public basic education network.

Keywords: technology, public policy, teaching, English Language


 

  1. INTRODUÇÃO

 A educação da atualidade propaga-se das mais diversificadas maneiras e o mundo digital auxilia esta multiplicação funcionando como mais uma opção de ambiente educacional. Contudo, espera-se que em um mundo ideal todos tenham acesso às plataformas e ferramentas necessárias para lidar com este fato, que é a propagação do mundo digital nas esferas educacionais.

Em um mundo real, onde a desigualdade social atinge milhares de estudantes em nosso país, acreditar que todos têm acesso aos mecanismos necessários para o desenvolvimento do letramento digital é no mínimo leviano. Para Anísio Teixeira (2009, p. 111), “o Brasil não é apenas um país de distâncias materiais, o Brasil é um país de distâncias sociais e de distâncias mentais, de distâncias culturais, de distâncias econômicas e de distâncias raciais”. Visando a ilustrar a fala do autor e através de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), podemos entender como a desigualdade assola uma significativa parcela do povo brasileiro, uma vez que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede.

Como atingir esses milhões de brasileiros, muitos deles estudantes, com conhecimento sobre dispositivos tecnológicos que nunca utilizaram? Como ensinar o estudante a lidar com o que nunca experienciou? Estas dúvidas permeiam as mentes de professores ao redor de nosso país, uma vez que é necessário tirar os estudantes deste local de marginalização para torná-los cidadãos digitais deste mundo globalizado ao qual pertencemos.

Com o intuito de refletir sobre práticas pedagógicas de inclusão digital no contexto infopobre, este artigo busca explanar sobre o ambiente educacional da escola pública de ensino fundamental e os recursos utilizados para gerar conhecimento acerca do letramento digital nos anos iniciais do ensino fundamental, especificamente nas aulas de Língua Inglesa.

Desta forma, propomos algumas perguntas norteadoras que buscaremos abordar ao longo do texto:

  1. Como crianças e adolescentes da rede pública, especificamente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, têm acesso à tecnologia?
  2. Como professores da rede pública podem utilizar a tecnologia para o ensino de Língua Inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

 

  1. JUSTIFICATIVA 

Em um mundo onde, repentinamente, as interações sociais mudaram drasticamente de físicas para meios remotos devido à pandemia da Covid-19, uma das áreas mais afetadas é o ensino de crianças e adolescentes. Uma vez que este público, quando tinha acesso à educação formal, era através de meios tradicionais, como escolas públicas ou particulares, o ensino remoto tem se mostrado uma opção para a continuidade do ano letivo de 2020.

Observa-se também que este ensino remoto é representado das mais variadas formas por instituições distintas e tenta abranger seus estudantes com diferentes ferramentas e plataformas de acesso. No entanto, professores e gestores educacionais questionam a abrangência do acesso destas plataformas pelos estudantes e, ainda, destacam que este novo formato proposto pode provocar um aumento no abismo educacional já existente entre jovens marginalizados e o acesso à educação formal.

Ao nos lembrarmos da fatia significativa de estudantes que não são atingidos pela educação remota proposta pelos governantes, podemos citar Bourdieu (1989), que no século passado já identificava como a educação pode ser seletiva, uma vez que a escola não busca equalizar as diferenças sociais, mas sim, enaltece a estrutura social a qual pertencemos, onde o conhecimento é, geralmente, predominantemente acessado pelas classes dominantes, muitas vezes apagando, consciente ou inconscientemente, o acesso ao conhecimento pelos marginalizados.

Para o autor, ainda, a facilidade de desempenho no uso da linguagem, por exemplo, está atrelada ao ambiente familiar propício e a exposição a livros ou recursos que estejam relacionados ao uso de linguagem em seu contexto. Logo, é possível fazermos uma associação do exemplo ilustrado (linguagem) com letramento digital, na qual jovens da atualidade que não são expostos ou não possuem acesso ao meio digital têm de estar aptos às novas interações digitais.

Com isso, o presente artigo objetiva trazer reflexões acerca dos questionamentos expostos utilizando a teoria do contexto infopobre e contextualizando-a dentro do ensino de Língua Inglesa no Ensino Fundamental nos anos iniciais.

 

  1. OBJETIVOS

O presente artigo objetiva demonstrar como estudantes da rede pública nos anos iniciais do Ensino Fundamental utilizam tecnologias e acessam a Internet. Além disso, sugere a implementação de uso de tecnologias no processo de aprendizagem da Língua Inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental na educação pública básica pelos professores, focando no contexto infopobre. Com isso, visa a possibilitar a ampliação do letramento digital através de estratégias pedagógicas, com o intuito de diminuir a distância entre estudantes marginalizados e o acesso às redes.

 Através de uma leitura crítica de estudos sobre políticas públicas educacionais brasileiras e dados sobre letramento digital na educação pública básica, o artigo propõe descrever a relação estudante-tecnologia e professor-tecnologia. Ademais, analisar como o uso da tecnologia no contexto citado pode contribuir para o aprendizado da língua inglesa nos primeiros anos do ensino fundamental através de estratégias pedagógicas na educação pública básica.

 

  1. METODOLOGIA DA PESQUISA 

Com o intuito de explorar os questionamentos iniciais propostos na Problematização sobre como a tecnologia pode contribuir para a aprendizagem de Língua Inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental, será feita uma pesquisa bibliográfica acerca da temática abordada. Então, torna-se necessário uma breve explanação acerca da metodologia escolhida para discutir o assunto.

Dessa forma, encontramos em Severino (2017) que a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir de registro já disponível, decorrente de pesquisas anteriores em documentos como livros, artigos, dissertações, teses etc. Estes documentos, registrados por outros pesquisadores, tornam-se fonte para temas a serem pesquisados. Com isso, o autor da pesquisa bibliográfica irá produzir suas conclusões através de estudos de textos consultados e já publicados. Ainda, em Boccato (2006), podemos perceber que

a pesquisa bibliográfica busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na literatura científica. (BOCCATO, 2006, p. 265)

Ademais, segundo Lima e Mioto (2007), vale ressaltar que quando uma pesquisa bibliográfica é pertinente, será capaz de propiciar a postulação de interpretações que servirão de ponto de partida para outros estudos. Levando este aspecto em consideração, a metodologia selecionada se torna adequada para a explanação das ponderações inicialmente apresentadas neste artigo acerca das tecnologias e o ensino de Língua Inglesa.

Logo, nesta revisão bibliográfica, abordaremos alguns tópicos para refletirmos sobre possibilidades de letramento digital nos anos iniciais do ensino fundamental. Primeiramente, serão explanadas estatísticas sobre acesso à internet em nosso país, em seguida, será explicado o conceito de infopobre e, então, mostraremos as políticas públicas governamentais adotadas para tentativa de inclusão digital. Através dessa contextualização, proporemos possíveis estratégias pedagógicas, utilizando o conceito infopobre, que podem auxiliar no ensino de Língua Inglesa no ensino fundamental.

 

  1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diante de toda a tecnologia que atualmente permeia nossa sociedade como smartphones, tablets, laptops, plataformas de stream, jogos on-line, jornais e revistas digitais, bancos virtuais, nota-se que esses recursos afetam diretamente a rotina da sociedade, principalmente, as gerações que crescem concomitantemente com o desenvolvimento/implementação destes recursos.

A educação acerca destes recursos digitais muitas vezes é subestimada, pois imagina-se que jovens que crescem em meio a essas inúmeras ferramentas, naturalmente, dotam o conhecimento para operá-las. No entanto, muitos de nossos jovens vivem à margem da sociedade e não possuem os meios ideais para desenvolverem as habilidades operacionais de muitos recursos tecnológicos que nos cercam.

5.1  AS ESTATÍSTICAS NÃO MENTEM

Com o intuito de ilustrar historicamente os dados acerca da conectividade do brasileiro, busca-se nesta parte do artigo mostrar números que tangem o ano de 2005, descrevendo estatisticamente o acesso a internet até o ano de 2018 com os dados atualizados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

 De acordo com o levantamento de Waiselfisz (2007, p. 9), dados do Mapa das Desigualdades Digitais no Brasil apontavam que somente 21% das crianças com 10 ou mais anos utilizavam a internet no Brasil. A porcentagem informada englobava o acesso através de diversos meios, e foi retirada da PNAD (IBGE, 2005).

Através da pesquisa de Silva (2008), que analisou os números presentes no Mapa das Desigualdades Digitais no Brasil, é possível destacar o abismo entre os dados referentes aos acessos às redes por estudantes da rede pública e pelos estudantes da rede privada no ano de 2005. A autora destaca que

38% dos estudantes têm acesso à internet no Brasil, seja na escola, trabalho, domicílio, centros pagos ou gratuitos, entre outros. No entanto, os dados demonstram que, no universo pesquisado, o número total dos estudantes de escolas privadas que acessam a internet no país chega a 83,6%, enquanto que apenas 37,3% dos estudantes de escolas públicas de ensino médio acessam, e o número de estudantes de escolas públicas de nível fundamental é ainda menor: 17,2%. (SILVA, 2008, p.8)

Ao afunilarmos os dados estatísticos de 2005, buscando os números por segmento educacional em relação à forma de acesso às redes, os resultados tornaram-se mais desanimadores como nos consta “... dados da PNAD 2005, só 11,6% dos alunos do Ensino Fundamental tiveram condições de ter acesso à Internet em suas escolas, caindo para 8,5% quando desagregadas as escolas públicas” (WAISELFISZ, 2007, p. 22). Através destes dados, ao excluirmos a rede privada, observa-se que só 3,1% de estudantes da rede pública no Ensino Fundamental tiveram acesso às redes em suas escolas em 2005, ilustrando como as desigualdades sociais não estavam dissociadas da exclusão social em nosso país no período.

Para traçar um panorama da atual realidade da conectividade dos brasileiros, o artigo propõe mostrar dados atualizados da PNAD (2018) com o intuito de estabelecer a evolução da acessibilidade virtual dos brasileiros. Em 2018, a Internet já é utilizada em 79,1% dos domicílios do país. O percentual de domicílios nos quais a Internet é utilizada subiu para 83,8%, em área urbana, e 49,2%, em área rural.

Os números mostrados na pesquisa de 2018 parecem promissores em termos de porcentagem e/ou estatística em relação aos números apresentados na PNAD de 2005. No entanto, de acordo com a pesquisa atualizada, ao destacarmos que 14.991 domicílios brasileiros não utilizam internet de modo algum, é possível refletirmos sobre quantos desses lares têm crianças e adolescentes em idade escolar e que muitos não desenvolvem letramento digital em casa.

É possível, ainda, destacar alguns motivos que fazem com que estes inúmeros brasileiros não utilizem a internet:

“falta de interesse em acessar a Internet (34,7%), serviço de acesso à Internet era caro (25,4%) e nenhum morador sabia usar a Internet (24,3%) (...) a Internet não estar disponível na área do domicílio abrangeu 7,5% das residências em que não havia utilização da Internet e o motivo de o equipamento eletrônico para acessar a Internet ser caro, 4,7%. (PNAD, 2018)

            Entende-se através desses dados atualizados que muitos brasileiros ainda não possuem as ferramentas de acesso às redes, como celulares ou tablets, por terem um preço elevado e, também, os valores ofertados pelas operadoras de serviços de internet não condizem com a realidade financeira de muitos.

            Para a dicotomia sobre o acesso aos meios digitais, quando uma parte da população possui acesso as redes e, consequentemente, desenvolve o letramento digital e outra que não consegue acesso à internet por diversos motivos, que incluem falta de recursos financeiros, Toffler (1990, p. 387) divide a população em inforrica e infopobre e afirma que existem possibilidades de superação dos “problemas relacionados com a maneira pela qual o conhecimento é disseminado na sociedade”. Ainda, segundo o autor, uma das possibilidades seria a parceria entre os sistemas educacionais e os meios de comunicação para que fosse possível desenvolver princípios de conectividade, interatividade e globalização.

Visando a ilustrar o conceito infopobre, a seguir discutiremos como as diferenças sociais afetam diretamente a performance dos cidadãos que possuem ou não acesso à tecnologia e como políticas públicas de inclusão digital são essenciais na atualidade.

5.2  INFOPOBRE X INFORRICO

A cibercultura se faz mais presente a cada dia no mundo globalizado. Se por um lado, ela gera empregos, propaga a modernidade e propõe o desenvolvimento tecnológico, por outro, exclui do mundo digital aqueles cidadãos marginalizados que não têm acesso aos recursos necessários para serem considerados ‘incluídos digitais’ ou inforricos. Com isso, observa-se que, apesar de todos os pontos positivos, a cibercultura pode refletir mais uma forma de desigualdade, sobretudo nos países mais pobres ou em desenvolvimento.

No campo educacional, este assunto não seria retratado de modo distinto. Uma vez que existem os estudantes que possuem computadores individuais, celulares e outros aparelhos que dispõem de conexão com as redes, os chamados de inforricos, e, aqueles que nunca os utilizaram ou não têm acesso aos tais aparelhos, denominados de infopobres. 

Para que haja desenvolvimento cultural e social em nossa sociedade, faz-se necessária a inclusão dos indivíduos desprivilegiados, os infopobres, ao mundo digital. Desta forma, é possível evitar a aceleração da desigualdade entre os que têm e os que não têm acesso à cibercultura com autonomia. Como bem exemplificado por Pretto (2008, p. 80), nota-se que

as tecnologias necessitam ser compreendidas como elementos fundantes das transformações que estamos vivendo, buscando ser incorporadas através de políticas públicas para a educação que ultrapassem as fronteiras do próprio campo educacional, para, com isso, poder trabalhar visando ao fortalecimento das culturas e dos valores locais. (PRETTO, 2008, p. 80)

 

Ademais, ao relacionarmos o acesso à tecnologia à desigualdade social que assola nosso país, podemos destacar Coll e Monereo (2010) que conceituam duas ‘classes sociais’ relacionadas ao acesso ou falta dele em relação às ferramentas tecnológicas: o infopobre e o inforrico. Estas categorias, com o crescente desenvolvimento da tecnologia, acabam polarizando o ambiente digital. Assim, os infopobres são representados por aqueles que não têm acesso à internet e aos meios de comunicação modernos, enquanto os inforricos seriam os que desfrutam dos inúmeros recursos disponíveis para interagirem no mundo digital. 

Podemos, ainda, destacar Ramonet (1998, p. 145), que corrobora os pensamentos de Coll e Monereo (op cit), ao retratar os absurdos índices de desigualdade social em relação ao acesso digital. De acordo com o autor, só uma pequena parcela da população tem um computador pessoal e essa desigualdade acelerada, gerada pelo desenvolvimento da internet acarreta a divisão dos cidadãos entre infopobres e inforricos:

Não há dúvida de que, com a Internet - mídia, daqui em diante, tão banal quanto o telefone - entramos em uma nova era da comunicação. Muitos estimam, com certa ingenuidade, que o volume cada vez maior de comunicação fará reinar, nas nossas sociedades, uma harmonia crescente. Ledo engano. A comunicação, em si, não constitui um progresso social. E ainda menos quando é controlada pelas grandes firmas comerciais da multimídia. Ou quando contribui para aprofundar as diferenças e as desigualdades entre cidadãos do mesmo país, ou habitantes do mesmo planeta. (RAMONET, 1998, p. 145)

            Para que haja equilíbrio no desenvolvimento do letramento digital, faz-se necessária a implementação de políticas públicas de inclusão digital. Com isso, na próxima parte deste artigo, abordaremos os atos governamentais que tentam mudar o paradigma inforrico x infopobre em nossa sociedade.

5.3  POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO DIGITAL

Ao consultar o Mapa das Desigualdades Digitais, é possível visualizar em gráficos como as diversas desigualdades socioeconômicas em nosso país determinam as condições de acesso aos benefícios das atuais tecnologias da informação. Consequentemente, nota-se que a iniciativa pública caminha a passos estreitos ao tratarmos sobre uma inclusão digital efetiva.

Assim, destacamos Waiselfisz (2007, p. 21) que identificou que

priorizar a inclusão digital pela via individual para aqueles que vivem no nível da subsistência (...) foi, até hoje, a política preponderante da expansão digital, em detrimento de estratégias coletivas ou sociais. Os quantitativos da PNAD/IBGE de 2005 são claros ao destacar essa prioridade: enquanto 10,5% da população de 10 anos de idade ou mais acessou a Internet em seu domicílio, só 2,1% o fizeram em centros gratuitos. Mais ainda, esses centros gratuitos, por diversos motivos, como localização, finalidade etc., acabam sendo mais utilizados pelos setores de maior renda. (WAISELFISZ, 2007, p. 21)

Além disso, o autor aponta dados sobre os centros de acesso gratuitos destacados e, que apesar do aumento no número de centros em 2007, estes locais, em uma quantidade considerável, são subsidiados pelo terceiro setor, refletindo assim o descaso público em relação à inclusão digital no país. Com o propósito de ilustrar as reflexões aqui explanadas, destacamos os números levantados pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT que apontou que em 2007

o país teria 108 programas de Inclusão Digital, atuando em quase 3.000 municípios do país, via 16.722 pontos de inclusão digital – PIDs. Desse total, 43 correspondem a iniciativas do terceiro setor – e as restantes, propostas federais, estaduais e/ou municipais. (IBICT, 2007, p. 21)

            O Brasil, como nação continental, possui 5570 municípios de acordo com o último censo em 2020, então, ao visualizarmos os dados acima fornecidos pelo IBICT, percebemos que pouco mais da metade dos municípios estão amparados pelas políticas públicas de inclusão digital. Especificamente em termos de porcentagem, estamos falando de 53% dos municípios.

            Para ilustrar as políticas públicas expostas nestas estatísticas, utiliza-se nessa pesquisa um recorte de dois dos últimos grandes programas de inclusão digital propostos pelo governo federal: Banda Larga nas Escolas (2008) e Um Computador por Aluno (PROUCA 2010).

            O primeiro preconiza conectar todas as escolas públicas urbanas à internet, rede mundial de computadores, por meio de tecnologias que propiciem qualidade, velocidade e serviços para incrementar o ensino público no Brasil. Nota-se aqui que a prioridade do governo federal em 2008 era abastecer as áreas urbanas com acessibilidade virtual. Ou seja, os estudantes de perímetro rural ainda estão excluídos deste programa de inclusão digital.

            O segundo compromete-se a promover a inclusão digital, pedagógica e social mediante a aquisição e a distribuição de computadores portáteis em escolas públicas, em escala piloto de teste e avaliação. Este, mais recente, ainda é deficitário, uma vez que limita o fornecimento do equipamento às escolas participantes do projeto piloto.

            Através destes dados expostos sobre as políticas públicas de inclusão digital, devemos refletir acerca de nossa prática docente e tentar desenvolver estratégias educacionais de letramento digital em contexto escolar. A seguir, discutem-se ideias executáveis em meio à educação pública com o intuito de diminuir a exclusão digital de estudantes e levando em consideração as limitações de recursos tecnológicos destas instituições públicas.

 

  1. ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA LETRAMENTO DIGITAL

Evidencia-se que o letramento digital pode ser trabalhado diversificadamente com o aprimoramento da interatividade utilizando gêneros textuais digitais (como fóruns de discussão e perfis de rede sociais) através de meios analógicos. Nesta seção discutiremos estratégias pedagógicas que podem ser aplicadas dentro das limitações do contexto infopobre que assola a realidade da rede pública.

Apesar das inúmeras barreiras ilustradas pelos dados da PNAD, professores podem desenvolver letramento digital por meio de recursos analógicos com o intuito de diminuir a barreira entre o estudante e o meio tecnológico. Uma das possíveis atividades que este artigo propõe é a utilização do Kahoot (aplicativo que apresenta questionários simulando jogos) em sala de aula sem o uso de smartphones dos estudantes.

6.1  KAHOOT SEM CELULAR

O famoso aplicativo Kahoot, que propõe o uso de questionários de forma gamificada em sala de aula, promove um ensino lúdico e divertido para muitos estudantes que estudam língua estrangeira. Em inúmeras aulas de inglês,$ é possível identificar professores que utilizam o aplicativo para revisar vocabulário, fixar estruturas, consolidar conteúdo estudado através de um questionário (ou kahoots) que pontua a cada resposta certa e, ainda, pontua os respondentes mais rápidos.

Em princípio, o uso deste aplicativo tende a contribuir para o processo de ensino e aprendizagem de estudantes de Língua Inglesa, no entanto, como apontam os dados da última PNAD (2018) neste artigo, ainda temos inúmeros estudantes que não possuem os recursos necessários para utilizar o Kahoot, ora por não possuírem o aparelho móvel, ora por não terem acesso à conectividade necessária quando possuem o aparelho.

Com o intuito de estreitar as barreiras enfrentadas por muitos professores de língua estrangeira ao promover lições diferenciadas, uma ideia sobre a utilização do aplicativo de forma analógica faz-se necessária para que os estudantes marginalizados desenvolvam letramento digital acerca do aplicativo popular em muitas salas, só que de maneira diferenciada.

A proposta envolve o desenvolvimento de um Kahoot pelo professor, como seria em sua proposta regular. No momento da aula, o professor distribuiria cartões coloridos com os símbolos e cores dos botões do Kahoot para que os estudantes utilizassem para responder o questionário projetado pelo professor. Então, ao projetar o questionário, o professor mostraria as alternativas e os estudantes levantariam seus cartões com a resposta que acreditam ser a correta.

A estratégia sugerida diminui certas funcionalidades do aplicativo, como por exemplo, o anonimato. No entanto, a proposta é o desenvolvimento das habilidades linguísticas em inglês e acredita-se que manter o anonimato neste momento em que os estudantes estarão entretidos com o jogo, não seja extremamente necessário.

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos dados examinados nesta pesquisa, destaca-se a importância de políticas públicas de inclusão digital eficazes em nosso país, uma vez que inúmeros brasileiros em idade escolar não possuem o devido acesso à conectividade. Com isso, torna-se limitador o desenvolvimento do letramento digital em salas de aula de língua estrangeira.

Ao introduzir o tema de maneira transversal e em várias frentes, como a cidadania digital, mídias digitais, apropriação tecnológica, especificidades das tecnologias digitais da informação, da comunicação e das mídias, o profissional da educação contribuirá para o empoderamento de seus estudantes acerca dos meios digitais, apesar dos dados mostrados no levantamento estatístico da presente pesquisa. 

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 06 de outubro de 2020
Publicado em 30 de outubro de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

VIANA, Luiz Augusto Ferreira de Campos. SILVA, Sayonara Figueiroa Bezerra de Melo. VOITOVITCH, Sonja Helena. Tecnologia como Recurso no Ensino de Língua Inglesa nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Revista MultiAtual, v. 1, n.6., 30 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/10/tecnologia-como-recurso-no-ensino-de.html