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Samaroni Pinheiro

Bacharel em Informática e Cidadania pela UFPR, Licenciado em matemática pela Faculdade Integrada de Ariquemes – FIAR, e-mail Samaronip@hotmail.com

 

Silvana Santos

Doutorado e Mestrado em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais, e-mail silsanter@gmail.com

 

RESUMO

Com o compromisso na formação do cidadão cego, elaboramos uma prática educacional voltada à compreensão da realidade social, dos direitos e das responsabilidades em relação à sua vida pessoal e comunitária. Pensando em auxiliar o cidadão cego a ingressar no mundo digital, este artigo apresenta o projeto de desenvolvimento de um curso presencial para instruí-los a utilizar os aplicativos Windows (Word, Excel e PowerPoint), a navegação na Internet e outras ferramentas necessárias para permitir o uso dessas tecnologias com maior facilidade. A finalidade do projeto é possibilitar a pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão) ler, escrever, estudar, pesquisar e se comunicar por meio de recursos de informática e da internet. Nesse contexto, foi desenvolvido material instrucional para uso do professor e aluno com textos também escritos em Braille. O objetivo é permitir a esse grupo específico de pessoas a possibilidade de interagir no mundo virtual e ter acesso a ferramentas tecnológicas de informação e comunicação. E nesse sentido, apoiar o desenvolvimento da cidadania e a inclusão digital destas pessoas.

Palavras-Chave: Deficiência visual, Word, Excel, informática, inclusão digital.


ABSTRACT

With a commitment to training blind citizens, we have developed an educational practice aimed at understanding social reality, rights and responsibilities in relation to their personal and community life. Thinking about helping blind citizens to enter the digital world, this article presents the project to develop a face-to-face course to instruct them to use Windows applications (Word, Excel and PowerPoint), Internet browsing and other necessary tools to allow the use of these technologies more easily. The purpose of the project is to enable visually impaired people (blind or visually impaired) to read, write, study, research and communicate using computer and internet resources. In this context, instructional material was developed for use by the teacher and student with texts also written in Braille. The objective is to allow this specific group of people the possibility to interact in the virtual world and have access to technological information and communication tools. In this sense, support the development of citizenship and the digital inclusion of these people.

Keywords: Visual impairment, Word, Excel, IT, digital inclusion. 

 

INTRODUÇÃO

 

 O uso efetivo do computador permite contribuir para um avanço qualitativo do processo de ensino e aprendizagem, como também para o resgate da autoestima dos alunos parcialmente ou totalmente cegos

 Uma sociedade que pretende avançar para uma igualdade social, onde todos tenham direto a informação e trabalho, formando uma sociedade mais justa e igualitária, deverá estabelecer condições necessárias para o desenvolvimento pleno dos indivíduos cegos. Com as possibilidades advindas dos recursos tecnológicos, um novo perfil poderá ser delineado, considerando que essas ferramentas permitirão ao cego, além da garantia dos seus direitos como cidadãos, apropriar-se do conhecimento dinâmico e atual.

 Segundo Corlassi (2012, p. 1)

 

O processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual, deve estar pautado, assim como os demais alunos, em uma politica que envolva o coletivo da escola e, diferentemente do que acontece na maioria das vezes, não apenas o Professor referência deste aluno (CORLASSI, 2012, p.1)

 

 A educação inclusiva constitui um novo modelo de educação em que é possível o acesso e a permanência de todos os alunos, independentemente de suas particularidades, e onde são utilizados procedimentos de identificação e remoção de barreiras para a aprendizagem (GLAT, 2007).

            Conforme Borges (2012, s.p.), “uma pessoa cega pode ter algumas limitações, as quais poderão trazer obstáculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade”. O autor aponta que, grande parte destas limitações pode ser eliminada por meio de duas ações: uma educação adaptada à realidade destes sujeitos e o uso da tecnologia para diminuir essas barreiras.    

            Visando as necessidades destes alunos especiais, o autor deste projeto, em parceria com o Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio[1], bem como da comunidade local, desenvolveram uma proposta para a realização de um curso que beneficiará cidadãos cegos e pessoas com baixa visão, a conhecer e compreender os aplicativos “Word, Excel, PowerPoint”, do pacote Office e a navegação na Internet, preparando os alunos para ingressarem no mercado de trabalho.

 Para possibilitar a inclusão destes alunos cegos e com baixa visão neste curso, serão utilizados, além de material didático elaborado em Braille, computadores com recursos sonoros (sintetizadores de voz) e ampliadores de tela, ferramentas fundamentais para auxiliar o aluno no decorrer das aulas. Com o apoio destas tecnologias, um cego poderá utilizar facilmente seu computador para sua interação com o mundo

O projeto tem também, a participação do Colégio Estadual “José Bonifácio” situado no Município de Paranaguá, Paraná (PR)[2]. O Colégio possui um laboratório de informática com computadores especiais, maquinas de Braille e professores capacitados ao ensino dos deficientes visuais[3]. Atualmente, o Colégio tem matriculados 46 alunos com deficiência visual, sendo doze (12) alunos totalmente cegos e 34 com baixa visão. Este projeto piloto será desenvolvido inicialmente em prol desses alunos.

A motivação para o desenvolvimento deste projeto surgiu a partir de pesquisas anteriores, realizadas pelo autor, com alunos cegos e de baixa visão. Nessas pesquisas chegou-se à conclusão que poderia haver um direcionamento, deste grupo de alunos, para a inclusão digital. No Município de Paranaguá, onde a proposta será desenvolvida, são poucas as experiências e  vivências na formação tecnológica adaptada ás nescessidades deste grupo de indivíduos.

A adaptação de ambientes e situações em sala de aula para pessoas com deficiencias visuais, depara-se com inúmeras barreiras. Essas barreiras podem ser tecnológicas, tais como: falta de teclado próprio; computadores sem a formatação específica para esses usuários, ausência de softwares que tornem websites acessíveis, entre outros. Ou obstáculos físicos como: corredores de acesso as salas de aulas sem a presença de corrimões que facilitem o trajeto; piso tátil para auxiliar a caminhada em segurança, etc. Ao disponibilizar, a esse público, aplicativos como, por exemplo, Excel, Word, assim como o acesso a internet, aumenta-se a ansiedade e as expectativas do aluno nesse aprendizado, constituindo um desafio para a adaptação destas tecnologias.

O projeto para o desenvolvimento do curso apresentou como objetivo facilitar aos portadores de deficiência visual o ingresso no mundo tecnológico, quebrando barreiras e preconceitos, integrando-os ao mundo digital como parte de uma sociedade atuante nas mídias digitais e sociais.

            As estratégias de ação foram: o desenvolvimento de parceria entre professores, comunidade, alunos e demais membros da Escola Estadual Jose Bonifácio; o estabelecimento de procedimentos e métodos de ensino e recursos didáticos compatíveis para alunos cegos e com baixa visão; e, a elaboração de material didático em Braille. Enfim pretendeu-se a integração do deficiente visual a novas oportunidades de acesso ao mercado de trabalho, a inclusão digital e social seja sua inserção na comunidade, em geral, seja com os demais alunos da Escola na convivência diária, nos espaços coletivos como pátio, refeitório, biblioteca e outros.

 

 

REFERENCIAL TEÓRICO

 

Deficiência Visual no Brasil

 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, no Brasil, mais de 6,5 milhões de pessoas têm alguma deficiência visual. Desse total:

-        528.624 pessoas são incapazes de enxergar (cegos);

-        6.056.654 pessoas possuem grande dificuldade permanente de enxergar (baixa visão ou visão subnormal).

 

Quadro 1 – Deficiência visual no Brasil por Região

Deficientes visuais por região           Total                    % população local

Norte                                              574.823                 3,6

Nordeste                                               2.192.455                    4,1

Sudeste                                                 2.508.587                 3,1

Sul                                                 866.086                 3,2

Centro-Oeste                                    443.357                    3,2

Fonte: Censo Demográfico de 2010

 

 

Ainda, de acordo com o IBGE, outros 29 milhões de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar ainda que usando óculos.

Sobre deficiência visual no mundo, segundo dados do relatório, World Report on Disability de 2010:

-        A cada cinco (5) segundos uma (1) pessoa se torna cega no mundo;

-        Do total de casos de cegueira, 90% ocorrem nos países emergentes e subdesenvolvidos;

-        Até 2020 o número de deficientes visuais poderá dobrar no mundo;

-        Com tratamento precoce, atendimento educacional adequado, programas e serviços especializados, a perda da visão não significa o fim de uma vida independente e produtiva.

        Dados de 2013 da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, se houvesse um número maior de ações efetivas de prevenção e/ou tratamento, 80% dos casos de cegueira poderiam ser evitados. Ainda segundo a OMS cerca de 40 a 45 milhões de pessoas no mundo são cegas, e outros 135 milhões sofrem limitações severas de visão tais como: glaucoma, retinopatia diabética, atrofia do nervo ótico, retinose pigmentar e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Essas também são as principais causas da cegueira na população adulta. Entre as crianças as principais causas são glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular congênita.

Na cidade de Paranaguá, PR, de acordo com o Censo Demográfico IBGE de 2010, 22.825 pessoas possuíam deficiência visual, sendo 293, com deficiência total e, 3.703 com grande dificuldade de visão.


Figura 1 – Deficiência visual no Brasil e Paranaguá

Fonte: Censo Demográfico de 2010

 

Sistema Braille

 

   Segundo Figueira (2011) o sistema de leitura para cegos, conhecido como Braille, surgiu a partir de um sistema de leitura no escuro, desenvolvido por Charles Barbier, para uso militar. Quando o francês Louis Braille, que era cego, conheceu o sistema passou a utilizá-lo, e logo depois o modificou, passando de um grupo de doze (12) pontos para um grupo de apenas seis (6) pontos, formado por duas colunas com três (3) pontos cada. O agrupamento de seis (6) pontos possibilita a constituição de 63 símbolos diferentes que servem para representar caracteres na literatura, na matemática, na informática e na música. O sistema foi inventado no ano de 1825 e até hoje é utilizado em todo o mundo.

Apesar da sua eficiência em proporcionar o acesso das pessoas cegas a informações escritas, o sistema não conseguiu ainda progredir e atingir todos os meios da sociedade. Sendo assim, o cego ainda enfrenta muitas dificuldades. Uma delas, por exemplo, é a falta de informação em braille nas instituições públicas e organizações privadas no oferecimento e disponibilização de seus serviços.

No Brasil, o Sistema Braille, foi introduzido na década de 1850 por Jose Alvares de Azevedo, mas sua utilização foi considerada obrigatória, em 1960, por meio da Lei nº 4.169 de 04/12/1960, que “oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de Contrações e Abreviaturas Braille (BRASIL, 1960). No entanto, ainda são poucas as instituiçoes e empresas que aplicam este Sistema na disponibilização e divulgação dos seus serviços e produtos com a finalidade de garantir o acesso e a autonomia do deficiente visual. Como por exemplo, nos banheiros de uso público onde não há  informação em Braille sobre qual é o masculino ou feminino, assim como  em cardápios, cartazes informativos, placas com o nome das ruas, entre outros[4].

O sistema Braille ainda tem que ser difundido para que as pessoas cegas sejam realmente incluídas na sociedade e possam ter maior autonomia, o que trará uma força muito maior de viver para cada uma delas, apesar da sua deficiência.

Ler em braille é muito fácil. Basta que se conheça os símbolos para se  ler normalmente, seja com o tato ou com a visão. Os caracteres são lidos da esquerda para a direita e até sinais de pontuação são representados por meio dos marcadores em alto relevo.

Para escrever é necessário um pouco mais de técnica. São utilizados dois instrumentos denominados “reglete” e o “punção”. A “reglete” é uma placa de metal com orifícios em uma de suas faces. O papel, um pouco mais grosso que o comum, é colocado em cima dessa placa e pressionado com o “punção”, um instrumento semelhante a uma agulha, mas com a extremidade arredondada, para que, ao pressionar o papel contra os orifícios da reglete, este não seja perfurado, e sim apenas marcado. O papel é marcado da direita para a esquerda, no sentido contrário ao da leitura e os caracteres escritos de forma invertida. Ao terminar, a escrita, o papel é virado e pode-se ler normalmente.

Atualmente, existem  computadores com hardware e software específicos que permitem a tradução do braille e a impressão de páginas de forma invertida, assim como o reconhecimento de voz e sua transformação em braille, entre outros recursos.

Há também teclados especiais com marcação em braille em suas teclas. Existem ainda, outros equipamentos como brinquedos de montar, relógios que permitem a verificação das horas por meio do tato, etc., bem como outros equipamentos que não utilizam o braille mas o som, para que os cegos possam ter melhor acesso. Nesse cenário é possivel observar websites, sistemas em locais públicos, outras mídias e aplicativos disponiveis em computadores, etc, que fazem uso desse método.           

 A leitura é fundamental para as pessoas, pois rompe barreiras, abre um mundo de informações e possibilidades e é um poderoso meio de comunicação, de inclusão e exclusão. Pois segundo Gadotti (apud VARGAS 2000, p. 14) “numa sociedade de privilegiados, a leitura e a escrita são um privilegio”.

Para o deficiente visual, a leitura dos textos é um fator de suma importância e, nesse caso, vê-se a importância do sistema braille ao permitir esse acesso. Nesse contexto, Garcia e Pereira (2006), afirmam  que um texto é mais bem compreendido pelo cego quando lido em braille, do que quando lido por ledores ou por gravadores de vozes.

 

Tecnologia da Computação a serviço do cego, sintetizadores de voz

           

 Segundo a «Speech synthesis» World Wide Web Organization’[5] a síntese de voz é o processo de produção artificial de voz humana. Um sistema informático utilizado para este propósito é denominado ‘sintetizador de voz’, e pode ser implementado em software ou hardware. Um sistema “texto voz” (ou TTS em inglês) converte texto em linguagem normal para voz, outros sistemas interpretam representação linguística simbólica (como transcrição fonética) em voz.

Voz sintetizada pode ser criada concatenando-se pedaços de fala gravada, armazenada num banco de dados. Os sistemas diferem no tamanho das unidades de fala armazenadas. Um sistema que armazene fones ou alofones fornece a maior faixa de saída, mas podem carecer de clareza. Para usos específicos, o armazenamento de palavras ou frases inteiras possibilita uma saída de alta qualidade. Alternativamente, um sintetizador pode incorporar um modelo do trato vocal (caminho percorrido pela voz) e outras características da voz humana, para criar como saída uma voz completamente "sintética".

A qualidade de um sintetizador de voz é determinada por sua similaridade com a voz humana e por sua capacidade de ser entendida. Um programa TTS inteligível permite que pessoas com deficiência visual ou com problemas de leitura possam ouvir obras escritas num computador pessoal. Muitos sistemas operacionais têm incluído capacidade de síntese de voz desde o início da década de 1980.        Na década de 1990 surgiram sistemas que fazem a operação inversa de converter voz para texto.

Existem programas de sínteses de voz pagos e gratuitos. Os programas gratuitos mais utilizados são:

-        DOSVOX da UFRJ (em português).

-        NVDA - Sigla em Inglês para "Acesso Não-Visual ao Ambiente de Trabalho".

 

O leitor de tela “DOSVOX”

 

Figura 2 – Dosvox

Fonte: http://guanambi.ba.gov.br/Leitor_Tela

 

Segundo o site do Instituto Benjamin Constant[6] o Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), criou o sistema DOSVOX, em 2009, destinado a auxiliar os deficientes visuais no uso do computador.

O software executa tarefas como edição de textos (com impressão comum ou braile) leitura/audição de textos anteriormente transcritos, utilização de ferramentas de produtividade faladas (calculadora, agenda, etc.), além de diversos jogos. O sistema “fala” por meio de um sintetizador de som de baixo custo, que é acoplado a um microcomputador tipo IBM-PC.

O sistema DOSVOX evoluiu a partir do trabalho de Marcelo Pimentel Pinheiro[7], estudante de informática cego, que desenvolveu o editor de textos do sistema. São diversas as chaves que provocaram o sucesso extraordinário deste projeto, atualmente, utilizado por mais de 500 cegos em todo Brasil:

-        Custo muito baixo - o sistema foi industrializado e hoje é vendido por menos de cem reais;

-        A tecnologia de produção é muito simples, e viável para as indústrias nacionais, o sistema fala e lê em português;

-        O diálogo homem-máquina é feito de forma simples, removendo-se ao máximo os jargões do "computês";

-        O sistema obedece às restrições e características da maioria das pessoas cegas leigas;

-        O sistema utiliza padrões internacionais de computação e, assim, o DOSVOX pode ser lido e pode ler os dados e textos gerados por programas e sistemas de uso comum em informática.

O projeto tem um grande impacto social pelo benefício que ele traz aos deficientes visuais, abrindo novas perspectivas de trabalho e de comunicação. É resultado do esforço de muitas pessoas, entre as quais se destacam o engenheiro. Diogo Fujio Takano, projetista do sintetizador de custo baixo e o analista Orlando José Rodrigues Alves (in memoriam), desenvolvedor de grande parte do sistema, e Luiz Cândido Pereira Castro (in memoriam), também cego, que foi o responsável pela distribuição do DOSVOX para o Brasil.

A tecnologia, portanto, existe no Brasil. A ideia, é torná-la disponível para a comunidade potencialmente usuária.

 

Leitor de Tela NVDA (NonVisual Desktop Access)

 

Em abril de 2006, M. Curran começou a desenvolver um leitor de tela gratuito chamado NVDA (NonVisual Desktop Access) para uso em computadores que executam o Windows. Em seguida, Curran convidou J. Teh para apoiá-lo nessa empreitada e, juntos, esses homens totalmente cegos, fundaram uma organização sem fins lucrativos.

O NVDA é um software de código aberto, o que significa que o código é acessível a qualquer pessoa. Isso permite que os tradutores e desenvolvedores de todo o mundo possam contribuir continuamente para a sua expansão e melhoria. O NVDA foi traduzido, por voluntários, em mais de 43 idiomas e utilizado por pessoas em mais de 120 países. Ele também ganhou vários prêmios.

Por meio deste trabalho, M. Curran e J. Teh adquiriram ampla experiência em software de acessibilidade procurando, inclusive ampliar a disponibilidade de seus produtos a partir de parcerias com empresas como Mozilla, Microsoft, IBM, Adobe e Yahoo!. Essa colaboração tem contribuído para a acessibilidade dos seus respectivos produtos. A sede da empresa é em South East Queensland, na Austrália.

Em síntese, o NVDA é um "leitor de tela" gratuito, que permite às pessoas cegas ou com pouca visão usar computadores. O software: lê o texto na tela em uma voz computadorizada; permite controlar a leitura, movendo o cursor para a área relevante do texto com o mouse ou com as setas do teclado; se o usuário do computador possuir um dispositivo chamado "display Braille", permite a conversão de texto para o Braille; trabalha com Microsoft Windows e pode ser usado em qualquer computador; também permite o acesso a redes sociais, bem como fazer compras on-line, acesso bancos e notícias.

 

 

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO – CURSO INFORMÁTICA A DEFICIENTE VISUAL

 

O projeto surgiu como um dos resultados de uma pesquisa de campo na qual foi investigado o quantitativo de pessoas com deficiência visual total ou parcial residentes no município de Paranaguá – PR.

             Pensando em auxiliar os deficientes visuais a ingressarem no mundo digital foi proposto um curso sobre uso das ferramentas do pacote Office e o acesso à internet e preparado material didático (apostilas) em Braille.

              Uma das finalidades desse curso é capacitar o aluno para ingresso no mercado de trabalho, com o conhecimento e a capacidade de uso das ferramentas tecnológicas, necessárias para a execução das funções e atividades exigidas pelas empresas e instituições públicas.

Na elaboração do curso foram desenvolvidas as seguintes etapas:

-        Verificação das ferramentas e softwares a serem utilizados;

-        Percepção dos alunos e da escola verificando suas necessidades;

-        Integração das turmas da escola (alunos em geral) na confecção de materiais táteis;

-        Identificação dos ambientes da escola a receber sinalizações e complementos táteis;

-        Realização de passeios e visitas de ‘reconhecimento’ da escola com os alunos cegos;

-        Preparação e utilização de recursos de leitura e escrita Braille;

-        Preparação e adaptação de materiais para o  Braille.

Como mencionando, o Curso de Informática a Deficiente Visual visa a oferecer aos alunos com deficiência visual total ou parcial uma possibilidade de inclusão social e profissional. Desenvolvido a partir de atividades específicas que envolvam a aprendizagem efetiva em seu processo educacional, tem por finalidade capacitar o aluno no conhecimento das ferramentas do Windows (Word, Excel) e o acesso à internet; incentivar a diversidade e o fim do preconceito para que se concretize a inclusão de forma positiva.

O curso esta previsto para ser ministrado em um (1) bimestre com duração total de 80 horas, divididas em: Windows[8] (30 horas); Word (20 horas); Excel[9] (20 horas); Internet (10 horas).

Será oferecido gratuitamente aos deficientes com baixa visão ou deficiência visual total. Para efetivar a matricula será realizada uma avaliação, a partir de um questionário, onde serão preenchidos dados pessoais (nome, endereço, telefone), grau de cegueira (parcial ou total) e outras informações relevantes ao desenrolar do curso (tais como: experiências anteriores, nível de conhecimento, etc.) - SUGESTÃO

 Serão utilizadas as dependências do Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rosário do Rocio com salas de aulas preparadas com computadores que façam interações com o deficiente visual por meio de hardware e software específicos. No primeiro bimestre do curso serão convidados os alunos do ensino médio. Futuramente, o curso será estendido para outros níveis escolares e faixa etária conforme a compra de novos equipamentos e estrutuiração de novas salas de aula.

Uma sala de aula preparada para deficientes visuais não pode ter mais que três (3) alunos. O importante é organizar os alunos em pequenos grupos, pois possibilita fomentar as interações aluno-aluno; propociona, aos alunos, a troca de vivências a partir de diferentes perspectivas; e cria condições, não apenas para o desenvolvimento cognitivo, mas também de competências sociais (César, 2003; Santos e César, 2007).

Também cabe destacar que Rönnbäck (2003) e Santos e César (2007) consideram que os alunos cegos devam ser incluídos em pequenos grupos, com a participação também, de alunos ditos normovisuais, potencializando as oportunidades de participação de todo e qualquer aluno, tal como subscrevem os princípios da educação inclusiva (César, 2003), nas atividades da sala de aula. Esses aspectos tornam possíveis, a todos os alunos, a possibilidade de desenvolver as mesmas tarefas, ainda que o façam em níveis ou  ritmos diferentes.  

Outro fator a ser considerado é que o deficiente visual precisa de um ambiente tranquilo e mais restrito para poder escutar a aula sem interrupções de falas por outros alunos. Nas aulas práticas, o aluno precisa de maior atenção para acompanhar as atividades que estão sendo desenvolvidas. A falta de visão é substituida pela audição e, para que essa função sensorial possa ser utilizada de modo efetivo o local deve estar com o máximo de silêncio para um melhor desempenho do aluno.

O curso será ministrado pelo autor deste trabalho[10] em parceria com a Universidade Federal do Paraná “Litoral”, e o Santuário Estadual de Nossa do Rosário do Rocio que cederá as salas de aulas com computadores especiais para realização do curso[11], conforme mencionado anteriormente.

O material didático (apostila[12]) do curso é um instrumento de apoio aos alunos em processo de formação. O conteúdo busca contribuir para o conhecimento das ferramentas necessárias ao aprimoramento dos exercícios. Foi elaborado contemplando os seguintes tópicos: Windows, Word, Excel, Internet e Braille. Conforme novos aplicativos forem incluídos na ementa do curso, a apostila será atualizada e alterada.

Figura 3 – Capa apostila office

Fonte: Material didático preparado pelo autor

       

Esta apostila será utilizada pelo professor e impressa em Braille para facilidade do aluno cego. O aluno também poderá usar no computador e fazer sua leitura por meio de sintetizadores de voz.

 

Figura 4 – Introdução ao Windows

Fonte: Material didático preparado pelo autor


 

 


  

 

 

Figura 7 – Introdução a internet

Fonte: Material didático preparado pelo autor

 

CONCLUSÃO

 

O curso, previsto para ser oferecido em agosto 2019, será realizado utilizando o pacote Office, em especial os aplicativos Word e Excel e o acesso à Internet. O projeto de desenvolvimento do curso e dos materiais didáticos teve por objetivo facilitar aos portadores de deficiência visual o ingresso no mundo tecnológico, quebrando barreiras e preconceitos, integrando-os ao mundo digital como parte de uma sociedade atuante nas mídias digitais e sociais, propondo alternativas para uma inclusão digital mais adaptada as suas reais necessidades.

Ao propor o ensino de aplicativos como o Word e Excel, acessíveis para pessoas com deficiência visual, o projeto do curso visa ressaltar a importância da informática no desenvolvimento da aprendizagem para inclusão. Um desafio é desenvolver ferramentas que ajudem a construir uma metodologia especifica, para a efetivação de tais cursos, de modo que proporcionem a total acessibilidade, desse público, às informações para sua inclusão em diferentes maneiras.

Desta forma, o trabalho justifica-se pela importância em apresentar ações para envolver e propor mudanças no quadro atual do acesso à informação, no caso, às pessoas cegas ou com baixa visão, disponibilizando, a partir de um curso interativo e específico a esse público, tecnologias de informação e comunicação, como a internet.

O principal estímulo para o desenvolvimento deste curso é proporcionar ao aluno com deficiência visual uma real inclusão à sociedade e a garantia de sua cidadania, deixá-los aptos ao mercado de trabalho, bem como favorecer a sua autoestima.

         

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BORGES, Antonio José. Dosvox: Um novo acesso dos cegos à Cultura e ao trabalho. 2012. Disponível em: http://www.ibc.gov.br/?itemid=100. Acesso em Julho de 2013.

 

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BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm

 

BRASIL. Presidência da República Casa Civil. Decreto nº 9.296 de 1º de março de 2018. Regulamenta o art. 45 da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Decreto/D9296.htm

 

BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL. Lei nº 13.835, de 4 de junho de 2019. Altera a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, para assegurar às pessoas com deficiência visual o direito de receber cartões de crédito e de movimentação de contas bancárias com as informações vertidas em caracteres de identificação tátil em braile. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13835.htm

 

CÉSAR, M. A escola inclusiva enquanto espaço-tempo de diálogo de todos e para todos. In: RODRIGUES, D. (Ed.). Perspectivas sobre a inclusão: da educação à sociedade. Porto: Porto Editora, 2003. p. 117-149.

 

CORLASSI, Adilson Luis Pimentel. A inclusão de Educandos com Deficiência visual na rede Regular de Ensino. Disponível em: Http://www.proinesp.ufrgs.br /files/palestras/palestraadilso.pdf.  Acesso em 26 out 2012

 

FIGUEIRA, Emílio. O que é educação inclusiva? São Paulo: Brasiliense, 2011.

 

GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: Cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: Letras, 2007.

 

PEREIRA, M.G. et al . Behavioral modulation by mutilation pictures in women. Braz J Med Biol Res,  Ribeirão Preto ,  v. 37, n. 3, p. 353-362,  mar.  2004 .  Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-879X2004

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RÖNNBÄCK, A. The young braille-reading student in the learning environment. 2003. Disponível em: http://www.sit.se/download/Regioner/%d6stra/RC+syn/ Learning_env ironment_Braille.pdf.

 

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VARGAS, Suzana, Leitura: uma aprendizagem de prazer. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.




[1] Igreja situada em Paranaguá (PR) sem fins lucrativos.

[2] O Colégio Estadual “José Bonifácio” - Ensino Fundamental e Médio está situado no Município de Paranaguá, Estado do Paraná, pertencente à Rede Estadual de Ensino do Estado.

[3] Especificamente, os professores Marise Nascimento e Denise Rabello, que atuam nos cursos profissionalizantes no IPC – Instituto Paranaense dos Cegos.

[4] A questão dos cardápios pode ser observada no Decreto nº 9.296, de 1º de março de 2018, que regulamenta o art. 45 da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015, 2018). Existem também legislações municipais e estaduais que reforçam o uso do Sistema e determinam aos estabelecimentos como bares, lanchonetes, restaurantes e estabelecimentos similares ofereçam cardápios ou listas de preços no sistema de escrita Braile: Lei Municipal nº 5.169/2019 de 09/05/2019 - Montes Claros – MG (publicado em: https://webterra.com.br/2019/05/10/cardapio-em-braile-nova-lei-garante-mais-dignidade-para-os-deficientes-visuais-de-montes-claros/); Lei Estadual nº 16712 DE 21/12/2018 (publicado em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=372940). Também existem projetos de lei que alteram ou complementam a Lei nº 13.146/2015, como por exemplo: o Projeto de Lei n.º 2.187, de 2019 (João H. Campos e Felipe Rigoni) Altera a Lei nº 13.146, de 5 de julho de 2015, para dispor sobre a emissão de diplomas e certificados em formato acessível, inclusive mediante uso do sistema Braile (publicado em: https://www.camara.leg.br /proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=803EA2C225D01FBDDF2E28615CFA0579.proposicoesWebExterno1?codteor=1739378&filename=Avulso+-PL+2187/2019). Iniciativas mais recentes: Lei nº 13.835, de 4 de junho de 2019, que altera a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, para assegurar às pessoas com deficiência visual o direito de receber cartões de crédito e de movimentação de contas bancárias com as com as informações vertidas em caracteres de identificação tátil em braile.

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[5]  «Speech synthesis». World Wide Web Organization, foi originalmente concebida e desenvolvida para atender à demanda de compartilhamento automatizado de informações entre cientistas de universidades e institutos em todo o mundo.

 

[6] Instituto Benjamin Constant é uma tradicional instituição de ensino para deficientes visuais localizada no bairro da Urca, na cidade e estado do Rio de Janeiro, no Brasil.

[7] Marcelo Pimentel é hoje programador do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE), onde trabalha sob a orientação acadêmica do prof. José Antônio Borges, responsável pela coordenação do projeto DOSVOX.

 

[8] Foi utilizado o Sistema operacional Windows porque é o mais utilizado tanto nas instituições públicas quanto nas empresas privadas e facilitará ao aluno cego oportunidades em um futuro emprego. Possuem muitas funções e recursos facilitando o entendimento do aluno sobre pesquisas importantes, possuem várias funções de teclas de atalhos que auxiliará o aluno a entrar nos menus do programa e manusear com mais facilidade e rapidez os links do programa. As combinações de teclas de atalho foram testadas com os alunos deficientes visuais que estão apoiando a  confecção da apostila

[9] O Excel uma das ferramentas mais utilizadas no mercado de trabalho. Esse programa poderá facilitar muito o gerenciamento de suas atividades, seja qual for à área de sua atuação. Com este módulo, o aluno aprenderá a construir gráficos, utilizar funções, cálculos e todos os recursos disponíveis.

[10]  Será supervisionado pelo professor Almir Carlos Andrade

[11] Outras pessoas envolvidas e as quais cabem fazer menção são: o Reitor do Santuário e mestre Pe. Joaquim Parron, os alunos com deficiências visuais que nos ajudaram a elaborar o curso e as apostilas

[12]A elaboração da apostila contou com a inestimável colaboração e esforço de voluntários com deficiência visual. os Srs. Marcos Paulo Bonafini e Calil Zattar Junior, e o apoio de professores do Colégio Estadual José Bonifácio localizado no Município de Paranaguá, PR.



Recebido em 30 de agosto de 2020
Publicado em 30 de outubro de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

PINHEIRO, Samaroni. SANTOS, Silvana. Acessibilidade Visual Quebrando Paradigmas na Inclusão Digital, Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), Um Estudo do Caso. Revista MultiAtual, v. 1, n.6., 01 de outubro de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/10/acessibilidade-visual-quebrando.html