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Cláudio Henrique Teixeira
Pós-graduando em
Gestão de Instituição Federal de Ensino Superior – Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). E-mail: claudiohtufmg@gmail.com
André de Carvalho Bandeira Mendes
Psicólogo (UFMG),
mestre em Estudos do Laser – Interdisciplinar (UFMG). Docente da Especialização
em Gestão de Instituições Federais de Ensino Superior (GIFES – UFMG). E-mail
amendes@drh.ufmg.br
RESUMO
O Zika Vírus
pode ser considerado um patógeno emergente. Disseminado pela Oceania e pela
América, atualmente o vírus está causando surtos sazonais. No Brasil, a
infecção começou a ser registrada em 2015 na região Nordeste do país. Embora a
doença seja autolimitada e normalmente se manifeste por sintomas brandos,
ocorrem relatos de complicações neurológicas associadas ao vírus em
recém-nascidos e em adultos. Nesse sentido, as consequências do Zika para a
saúde humana ainda estão sendo pesquisadas, tendo sido observadas sequelas e um
aumento considerável de casos que geram quadros de doenças e lesões
neurológicas. Lidar com essa situação emergente constitui um fator relevante
para a saúde pública, principalmente diante de questões sanitárias e do impacto
da doença na saúde pública, com sobrecarga na Atenção Primária e reflexos em
outros níveis de atendimento. Esta revisão descreve as características da
epidemia da doença no Brasil e o estado das pesquisas sobre tratamento e
possibilidades de intervenção. As fontes de pesquisa foram artigos científicos,
em português, que fazem referência aos casos de infecção por Zika no período
entre 2015 a 2018, recorte temporal caracterizado pelo alto número de casos. Na
busca por informações, a fim de delimitar a amostra, foram utilizados os
descritores: Zika Vírus, Atenção Primária, Saúde Pública. A epidemia do Zika
Vírus se mostra multifacetada, com determinantes diversos, e representa um
desafio para a comunidade e para as instituições que lidam com pesquisa, ensino
e ações de saúde.
Palavras-chave: Zika Vírus.
Saúde Pública. Atenção Primária.
ABSTRACT
Zika virus can be considered an emerging pathogen
that has spread to Oceania and America, causing seasonal outbreaks. In Brazil,
the infection was first registered in 2015 in the Northeast area of the
country. Although the disease is self-limiting and its symptoms are mild, there
are reports of neurological complications associated with Zika Virus in
newborns and adults. The consequences of the virus for human health is still a
mystery full of questions. Research is of crucial importance for public health,
especially in the face of sequelae and a drastic increase in neurological
cases. The challenges for public health are enormous, as the number of infected
people only increases. This review describes the characteristics of Zika in
Brazil and analyzes the methods used in the laboratory diagnosis of the
infection. The research sources were scientific articles in Portuguese that
refer to cases of Zika infection in the period from 2015 to 2018, related to
the descriptors: Zika Virus, Primary Care, Public Health.
Keywords: Zika Virus, Public
Health, Primary Care.
A saúde é um
Direito Social garantido pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1998), por
meio dos Artigos 196 a 200, nos quais são definidas as linhas gerais[1] para as políticas de atenção:
Seção II
DA SAÚDE
Art. 196. A
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
Art. 197. São
de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também,
por pessoa física ou jurídica de direito privado.
Art. 198. As
ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de
governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da
comunidade.
As diretrizes básicas de regionalização,
hierarquização, descentralização e integralidade são implementadas, na prática,
pela Lei nº 8.080 (BRASIL, 1990)[2], que normatiza e organiza
o Sistema Único de Saúde (SUS), na qual é possível notar, em seu Art. 3º, como
a saúde é claramente determinada pelos contextos socioeconômicos.
Art. 3o. Os níveis de saúde expressam a organização
social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes,
entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o
acesso aos bens e serviços essenciais.
Os tipos de
atenção à saúde seguem, de acordo com Paim (2015), três modelos de
funcionamento, que são: o da seguridade social, também chamado de
meritocrático; o assistencial, também compreendido como residual, e o da
seguridade. Até a Constituição de 1988 o modelo adotado no país era o da
seguridade social, no qual eram contemplados apenas os que contribuíam para as
agências como as caixas de aposentadorias e pensões, e posteriormente
institutos, em que apenas quem fosse contribuinte teria direito à assistência,
restando aos não contribuintes contar com o atendimento por meio de
instituições filantrópicas e de caridade.
A partir de
1988, a saúde brasileira passou a seguir o modelo de Seguridade Social no qual
a assistência é para todos, independentemente de serem contribuintes da
Previdência Social. É observado então um processo que pode ser considerado como
um avanço civilizatório, em que até mesmo certos conflitos sociais podem ser
amainados.
A saúde é um
dos elementos que constituem o conceito de Qualidade de Vida (FLECK et al.,
2008), sendo entendida de forma mais ampla que a mera ausência de doenças, e envolvendo
aspectos individuais, econômicos, sociais e culturais.
Diante desse
quadro emergiu no Brasil um surto de Zika Vírus, um arbovírus que impactou
consideravelmente várias regiões do país. Este vírus tem origem no continente
africano e após sua inserção teve uma rápida expansão pelo território nacional,
trazendo grandes desafios às políticas de saúde, compreendidas como uma forma
de garantia da cidadania e do bem-estar social.
O impacto da
epidemia, além dos fatores referentes à organização urbana em um país de
dimensões continentais, se deu também em relação à preparação dos profissionais
e das comunidades para a identificação e controle da doença, por seu vetor
estar adaptado em várias áreas. Seu quadro clínico em alguns pontos é similar a
outras patologias, mas em outros não, tendo consequências sobre a saúde que até
então eram desconhecidas, como casos de microcefalia, paralisias e sintomas menos
específicos. Este trabalho faz uma revisão conceitual sobre a doença e seus
impactos na saúde pública.
O Zika é um vírus da família Flaviviridae
transmitido por artrópodes, a saber, mosquitos Aedes Aegypti. Até pouco tempo acreditava-se que o Zika causasse
infecções benignas em humanos. Dengue, Chikungunya e Zika são arbovírus
emergentes e notórios causadores de doenças em áreas tropicais. Muito se falava
de Dengue, que, embora não seja uma doença nova, cresceu exponencialmente ao
longo dos tempos com complicações neurológicas graves. A negligência neste
controle permitiu que o Aedes Aegypti
se propagasse em todo o mundo, sendo também ele o responsável pela transmissão
de outras infecções dos vírus Zika e Chikungunya. O número de infectados
contribui para o crescente aumento de doenças neurológicas, como mielite,
meningite, síndrome de Guillain-Barré e microcefalia.
O Zika Vírus
foi isolado em 1947 em macacos Rhesus na floresta de Zika, na Uganda, e
identificado pela primeira vez em humanos apenas cinco anos depois na Nigéria. Zika
significa, na língua Luganda, “invadido”, no sentido de “vegetação que cresceu
demais e tomou conta do lugar”. A infecção pelo
Zika Vírus, em cerca de 75% a 80% dos casos, apresenta-se de forma
assintomática. Em 2007 houve um surto na Micronésia,
onde a infecção era sintomática em 18% dos casos.
A epidemia do
Zika Vírus teve seu início no Brasil em maio de 2015, e se espalhou para 28
países em fevereiro do ano seguinte, incluindo as Ilhas do Caribe Francês de
Guadalupe e Martinica, havendo também casos reportados na Europa e Estados
Unidos. A palavra Epidemia é definida pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1985,
p. 14) como: “Aumento brusco, significativo e transitório da ocorrência de uma
determinada doença numa população. Quando a área geográfica é restrita e o
número de pessoas atingidas é pequeno, costuma-se usar o termo surto”.
Em um curto
período de tempo a infecção pelo vírus foi confirmada em diferentes estados
brasileiros, tendo sido confirmados relatos iniciais de transmissão do Zika, em
maio de 2015, nos estados da Bahia e Rio Grande do Norte, e em um curto período
ela espalhou-se para vários locais.
Em novembro
de 2015, o Ministério da Saúde decretou Emergência em Saúde Pública e, em
fevereiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou essa
situação emergencial de importância internacional, facilitando as iniciativas
de investigação e de controle da doença no país. A circulação do Zika Vírus
ocorreu simultaneamente a epidemias de Dengue de grandes proporções em regiões
densas e cronicamente infestadas pelo Aedes aegypti, e concomitantemente
à circulação de outro arbovírus emergente, o Chikungunya. Esses três arbovírus têm
o mosquito Aedes aegypti como principal vetor de transmissão.
A falta de
controle de proliferação desses vetores é o fator mais importante responsável
pela proliferação acelerada dessas infecções virais emergentes, que podem
causar complicações neurológicas graves.
O diagnóstico
da infecção por esses arbovírus é baseado em exames laboratoriais, pois os
sintomas dessas doenças não são específicos. Além disso, é importante ressaltar
que não existe tratamento antiviral eficaz disponível, nem vacinas nem
prevenção adequada por controle de vetores, educação comunitária ou políticas
de saúde pública (OMS
— Organização Mundial de Saúde —; OPAS — Organização Pan-Americana da Saúde).
Devido ao
número crescente de indivíduos infectados, podem aumentar os casos com
distúrbios neurológicos graves. Porém, ainda falta conhecimento sobre os
mecanismos fisiopatológicos desses distúrbios que afetam parte dos pacientes.
Outro fator preocupante é a não confiabilidade de testes laboratoriais com o
objetivo de diagnosticar precocemente a infecção no sistema nervoso.
Finalmente, a análise clínica dos pacientes com suspeita de Zika e do líquido
cefalorraquidiano daqueles que apresentam manifestações neurológicas
relacionadas aos arbovírus é crucial para determinar o progresso da doença e
melhorar os diagnósticos de infecções em cada grupo de vírus.
Toda pesquisa
se inicia a partir de um problema que emerge em contextos socio-históricos
específicos[3], a fim de entender uma situação e
responder a questões específicas (GIL, 2002; MINAYO, 2009). Para nortear este trabalho
foi definido um objetivo principal, dependente de outros mais delimitados e
específicos.
O objetivo
geral é avaliar se a sociedade e os profissionais da saúde estão preparados
para lidar com a epidemia de Zika Vírus.
Para atingir
o objetivo geral, que é o principal, foram definidas estratégias para confirmar
a hipótese inicial. Com isso em mente, foram determinados os objetivos
específicos:
-
Avaliar a produção nacional sobre o tema;
-
Entender as consequências da doença sobre as pessoas;
-
Determinar se o Sistema de Saúde está preparado para lidar com esta situação;
-
Analisar o grau de conhecimento sobre a doença;
-
Avaliar os impactos sociais da epidemia.
Para o início
da pesquisa, no intuito de avaliar a produção acerca do tema, foi realizada uma
busca, em novembro de 2019, no portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)[4], endereço eletrônico de livre acesso
que concentra artigos desta área. Com os descritores “zika vírus, saúde
pública, qualidade de vida” foram encontrados apenas dois artigos, um sobre
microcefalia, de 2018, e outro sobre prevalência sorológica em gestantes. Assim,
torna-se clara a falta de produções que envolvam as palavras-chave citadas.
Restringindo
a pesquisa aos descritores “zika vírus, saúde pública”, a busca retornou 353
artigos, muitos com dados de outros países. Para analisar a realidade nacional
foram utilizados os filtros disponíveis, buscando-se apenas as produções no
Brasil, em que foram encontrados 53 trabalhos, a maior parte envolvendo
aspectos epidemiológicos, laboratoriais e casos de microcefalia. Para delimitar
e aprofundar a avaliação da produção, a partir da trajetória realizada, foi
inserido o termo “Atenção Primária”. Esta pesquisa retornou treze trabalhos, a
maioria deles sobre o controle do vetor e quadros assemelhados, como Dengue e
Chikungunya. Pode-se notar, através da revisão bibliográfica, que a saúde, de
fato, é um fenômeno marcadamente social, que envolve múltiplas frentes de
trabalho e diversos atores institucionais, incluindo os Agentes Comunitários de
Saúde (ACS).
Nas terapias
atualmente disponíveis, o paciente demora a receber tratamento devido à espera pelo
diagnóstico, o que reduz as perspectivas de sucesso no uso de antivirais. No
Brasil o controle das doenças transmitidas por vetores está baseado em um conjunto
de ações vinculadas à vigilância em saúde, às atividades da atenção básica e à
mobilização social. Dengue, Chikungunya e Zika são doenças de notificação
compulsória e estão presentes na lista nacional de notificação de doenças,
agravos e eventos de saúde pública, unificada pela portaria de consolidação do
Ministério da Saúde.
As ações da Atenção Primária são consideradas a
chave para um controle efetivo das doenças relacionadas. No início de 2015 houve
vários relatos de pacientes com sintomas de febre leve, erupção cutânea, e conjuntivite
no Nordeste do Brasil. A doença causada pelo Zika Vírus foi associada a
complicações neurológicas que devem ser tratadas caso a caso, conforme
orientação médica. Essas complicações são autoimunes, na maioria dos casos consistindo
em uma doença branda que tem cura espontânea em média após 10 dias. Em casos
mais graves (neurológicas), deve haver acompanhamento médico para determinar
qual o melhor tratamento a ser aplicado. As sequelas são tratadas em centros multiprofissionais
especializados, por exemplo, os Centros Especializados de Reabilitação.
As ações realizadas pelos programas locais de
controle das doenças transmitidas pelo vetor Aedes Aegypti são
fundamentais para a prevenção das arboviroses. Estas ações evitam a circulação
viral nas comunidades e têm como foco principal o combate ao mosquito Aedes
Aegypti e às arboviroses causadas por ele. No âmbito do Ministério da
Saúde, existem:
·
programas permanentes de prevenção e combate ao
mosquito;
·
desenvolvimento de campanhas de informação e
mobilização das pessoas;
·
fortalecimento da vigilância epidemiológica e entomológica
para ampliar a capacidade de predição e de detecção precoce de surtos da
doença;
·
melhoria da qualidade do trabalho de campo de
combate ao vetor (mosquito Aedes Aegypti);
·
integração das ações de controle da dengue na
atenção básica, com a mobilização dos Programas de Agentes Comunitários de
Saúde (PACS) e Programas de Saúde da Família (PSF);
·
utilização de instrumentos legais que facilitem o
trabalho do poder público na eliminação de criadouros em imóveis comerciais,
casas abandonadas ou fechadas, terrenos baldios;
·
atuação em vários setores, por meio do fomento à
destinação adequada de resíduos sólidos e a utilização de recursos seguros para
armazenagem de água;
·
desenvolvimento de instrumentos mais eficazes de
acompanhamento e supervisão das ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde,
estados e municípios.
Fonte: Ministério da Saúde. Disponível em:
http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/combate-ao-aedes. 2019
Além disso, o
Governo Federal criou a Sala Nacional de Coordenação e Controle (SNCC) através
do Plano Nacional de Enfrentamento ao arbovírus Aedes, devido à situação
de emergência em saúde pública relativa aos casos de microcefalia e a doenças
neurológicas associadas ao Zika Vírus. Sua sede se encontra no Ministério da
Saúde, em Brasília, DF, e monitora as 27 salas Estaduais e mais de 2.000
salas/comitês Municipais criados com o intuito de executar as ações de
mobilização e controle do Aedes. Nesse sentido, foram publicadas
diretrizes para guiar os trabalhos de enfrentamento às doenças transmitidas
pelo Aedes Aegypti. Uma das diretrizes intensifica as ações de combate
ao mosquito no seu período de vigência em Emergência em Saúde Pública declarado
pelo Ministério da Saúde em 11 de novembro de 2015, época do aparecimento dos
primeiros casos concretos no Brasil. O Governo Federal também lançou diversas
campanhas, como a Semana Nacional de Combate ao Aedes, que ocorre de 25
a 30 de novembro do corrente ano, sendo 30 de novembro o dia D de combate ao mosquito.
Nesse combate, unidades públicas e privadas de todo o país se mobilizam, como escolas,
centros de assistência social e as Unidades Básicas de Saúde.
Porém, o
controle do mosquito é dificultado no Brasil pela não uniformidade no
cumprimento das diretrizes do programa de controle das arboviroses em todos os
municípios, além da dificuldade de eliminar todos os focos possíveis em todas
as regiões de todas as cidades brasileiras. Por isso a participação social é
fundamental, com cada um fazendo sua parte para evitar a proliferação do vetor.
Essa mobilização pretende mostrar que a união de todos, população e governo, é
a melhor forma de acabar com o mosquito, principalmente no período de novembro
a maio, que é considerado o período mais epidêmico para as doenças relacionadas
ao Aedes Aegypti (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
O Boletim
Epidemiológico, divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde, é uma
publicação tecnocientífica, com periodicidade mensal e semanal, para o
monitoramento de doenças específicas sazonais. Consiste em um instrumento de
monitorização de vigilância com o papel de promover a disseminação de
informações consideradas relevantes, de modo a contribuir para as orientações
em Saúde Pública. Nesse boletim, são publicadas informações pertinentes a emergência
em Saúde Pública, agravos, relatos de surtos e temas ligados à Vigilância em
Saúde para o Brasil. A Tabela 1 apresenta casos prováveis de incidência de
Zika, por região e unidades da Federação, até a Semana Epidemiológica 11 (BRASIL,
2018; 2019).
Tabela 1 - Semana
Epidemiológica 1 a 11 – Incidência de Zika no Brasil por regiões
Semana Epidemiológicas 1 a
11 - Incidência de Zika no Brasil por regiões |
||||||
Região/ Unid. Federação |
Incidência |
|||||
Casos (n) |
(casos/100 mil hab.) |
|||||
2018 |
2019 |
variação (%) |
2018 |
População (est. IBGE) |
2019 |
|
Norte |
237 |
919 |
287,8 |
1,3 |
18.182.253 |
5,1 |
Rondônia |
9 |
10 |
11,1 |
0,5 |
1.757.589 |
0,6 |
Acre |
5 |
83 |
1560 |
0,6 |
869.265 |
9,5 |
Amazonas |
91 |
6 |
-93,4 |
2,2 |
4.080.611 |
0,1 |
Roraima |
2 |
17 |
750 |
0,3 |
576.568 |
2,9 |
Pará |
90 |
62 |
-31,1 |
1,1 |
8,513.497 |
0,7 |
Amapá |
7 |
4 |
-42,9 |
0,8 |
829.494 |
0,5 |
Tocantins |
33 |
737 |
2133,3 |
2,1 |
1.555.229 |
47,4 |
Nordeste |
556 |
316 |
-43,2 |
1 |
56.760.780 |
0,6 |
Maranhão |
44 |
33 |
-25 |
0,6 |
7.035.055 |
0,5 |
Piauí |
9 |
3 |
-66,7 |
0,3 |
3.264.531 |
0,1 |
Ceará |
41 |
36 |
-12,2 |
0,5 |
9.075.649 |
0,4 |
Rio
Grande do Norte |
133 |
31 |
-76,7 |
3,8 |
3.479.010 |
0,9 |
Paraíba |
47 |
25 |
-46,8 |
1,2 |
3.996.496 |
0,6 |
Pernambuco |
7 |
32 |
357,1 |
0,1 |
9.496.294 |
0,3 |
Alagoas |
28 |
47 |
67,9 |
0,8 |
3.322.820 |
1,4 |
Sergipe |
2 |
7 |
250 |
0,1 |
2.278.308 |
0,3 |
Bahia |
245 |
102 |
-58,4 |
1,7 |
14.812.617 |
0,7 |
Sudeste |
902 |
793 |
-12,1 |
1 |
87.711.946 |
0,9 |
Minas
Gerais |
52 |
224 |
330,8 |
0,2 |
21.040.662 |
1,1 |
Espírito
Santo |
44 |
115 |
161,4 |
1,1 |
3.972.388 |
2,9 |
Rio
de Janeiro |
712 |
117 |
-83,6 |
4,1 |
17.159.960 |
0,7 |
São
Paulo |
94 |
337 |
258,5 |
0,2 |
45.538.936 |
0,7 |
Sul |
8 |
61 |
662,5 |
0 |
29.754.036 |
0,2 |
Paraná |
3 |
21 |
600 |
0 |
11.348.937 |
0,2 |
Santa
Catarina |
4 |
17 |
325 |
0,1 |
7.075.494 |
0,2 |
Rio
Grande do Sul |
1 |
23 |
2200 |
0 |
11.329.605 |
0,2 |
Centro-Oeste |
790 |
255 |
-67,7 |
4,9 |
16.085.885 |
1,6 |
Mato
Grosso do Sul |
26 |
43 |
65,4 |
0,9 |
2.748.023 |
1,6 |
Mato
Grosso |
354 |
49 |
-86,2 |
10,3 |
3.441.998 |
1,4 |
Goiás |
404 |
128 |
-68,3 |
5,8 |
6.921.161 |
1,8 |
Distrito
Federal |
6 |
35 |
483,3 |
0,2 |
2.974.703 |
1,2 |
BRASIL |
2493 |
2344 |
-6 |
1,2 |
208.494.900 |
1,1 |
Fonte: Sinan NET (Banco de dados de 2018 atualizado em
09/01/2019, de 2019, em 19/03/2018), Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) (população estimada em 01/07/2018). Volume 50, No.13, Abr. 2019.
Dados sujeitos a alteração.
Em 2019, entre
as semanas de 30/12/2018 a 16/03/19, foram registrados 2.344 casos prováveis de
Zika no país, com incidência de 1,1 caso/100 mil hab. Em 2018, no mesmo período,
foram registrados 2.493 casos prováveis. Em 2019, a região Norte apresentou o
maior número de casos prováveis de Zika (919 casos; 39,2%) em relação ao total
do país. Em seguida, aparecem as regiões Sudeste (793 casos; 33,8%), Nordeste
(316 casos; 13,5%), Centro-Oeste (255 casos; 10,9%) e Sul (61 casos; 2,6%).
Diante das pesquisas, notificações e dados, as principais
ações de combate ao mosquito e eliminação das arboviroses, como a Zika, acontecem
por diversos meios. Conforme
o Boletim Epidemiológico 13 do Ministério da Saúde, o principal deles é a atuação consciente e
permanente da população. Já por parte do Ministério da Saúde, as medidas adotadas
são: programas permanentes de prevenção e combate ao vetor; desenvolvimento de
campanhas de informação e mobilização de pessoas; melhoria da qualidade do
trabalho de campo no combate do mosquito (quando a população não é surpreendida
com menos repasse de verbas para isso); desenvolvimento de instrumentos mais
eficazes de acompanhamento e supervisão das ações desenvolvidas pelo Ministério
da Saúde, e por estados e municípios; mobilização dos programas na atenção
básica com a participação dos Agentes Comunitários de Saúde e Programas de Saúde
da Família (PSF). A Organização Mundial da Saúde e seus parceiros apoiam os
países na preparação e resposta ao Zika. Os principais pilares de trabalho, de
acordo com o Plano Estratégico de resposta ao Zika, de julho a dezembro de 2017,
são: Detecção, prevenção, cuidado e apoio, pesquisa e coordenação, facilitando
assim o compartilhamento de informações entre os países.
Outro ponto de discussão de nosso artigo diz respeito ao
levantamento de artigos de outros autores que tratam da temática de nossa
pesquisa. O Quadro 1 apresenta uma relação do que foi encontrado.
Quadro 1 - Relação dos artigos analisados
Título |
Ano |
Autores |
Estratégia
Saúde da Família na prevenção de dengue, zika vírus e febre chicungunha /
Family Health Strategy in the prevention of dengue, zika viruses and
chikungunya fever |
2018 |
Lima, Beatriz de
Barros; Farias, Sheila Nascimento Pereira de; Coropes, Viviane Brasil Amaral
dos Santos; Siqueira, Janaina Moreno de |
Tríplice
epidemia: dengue, zika e chikungunya: prognóstico e processos de
reabilitação, protocolo de atendimento e sistema de notificação da
microcefalia |
2016 |
Schettini,
Juliana Araujo de Carvalho |
Saiba
mais sobre o mosquito Aedes aegypti |
2017
|
Telessaúde RS-UFRGS |
Atualização
no combate vetorial ao Aedes Aegypti: enfrentamento à dengue numa comunidade
de Porto Alegre |
2016 |
Núcleo
Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
2016 |
Núcleo
Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
|
2016 |
Núcleo
Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
|
Atualização
no combate vetorial ao Aedes Aegypti: A importância do ACS na campanha
nacional contra o mosquito Aedes |
2016 |
Núcleo Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
Atualização no
combate vetorial ao Aedes Aegypti: registro da visita domiciliar no e-SUS AB |
2016 |
Núcleo
Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
Atualização no
combate vetorial ao Aedes Aegypti: demonstração de visita domiciliar |
2016 |
Núcleo
Telessaúde Estadual do Rio Grande do Sul |
Segunda
Opinião Formativa: Como evitar a formação de criadouros do mosquito Aedes
aegypti? |
2017 |
Telessaúde
RS-UFRGS |
Orientações
integradas de vigilância e atenção à saúde no âmbito da emergência de saúde
pública de importância nacional: procedimentos para o monitoramento das
alterações no crescimento e desenvolvimento a partir da gestação até a
primeira infância, relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras
etiologias infecciosas dentro da capacidade operacional do SUS |
2017 |
Brasil.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção
à Saúde |
Zika:
abordagem clínica na atenção básica [curso completo] |
2016 |
Cunha,
Rivaldo Venâncio da; Geniole, Leika Aparecida Ishiyama; Brito, Carlos
Alexandre de; França, Normeide Pedreira dos Santos; Neto, Orlando Gomes dos
Santos; Nascimento, Débora Dupas Gonçalves do; Grillo, Zoraida del Carmen
Fernandez; Guerrero, Ana Tereza Gomes; Oliveira, Sandra Maria do Valle Leone
de; Muller, Karla de Toledo Candido; Porto, Karla Rejane de Andrade; Oliveira
e Silva, Marta de Melo; Santos, Serginaldo Jose dos |
2016 |
Ministério
da Saúde |
Fonte: Elaborado pelo autor, 2019.
Ao serem
analisados os treze artigos, fica claro como essa produção científica apresenta
as principais estratégias referentes à Atenção Primária e à gestão em saúde
para o combate ao vírus. Agrupamos em forma de quadro as estratégias
recorrentes, conforme disposto a seguir no Quadro 2.
Quadro 2 - Estratégias da Gestão Pública para o combate às doenças
provocadas pelo Aedes Aegypti
Categorias
de análise |
Estratégias
mencionadas nos artigos |
Atenção
Primária |
·
Cartilha do SUS; ·
Capacitação dos profissionais de saúde; ·
Sistema de notificação; ·
Medidas de proteção; ·
Protocolo de atendimento; ·
Esforços na confirmação diagnóstica. |
Gestão
em saúde/ Combate ao vírus |
·
Prevenção às epidemias; ·
Falta de vacinas; ·
Ações educativas/Educação em saúde; ·
Conscientização da população; ·
Cuidados em casa e no trabalho; ·
Parcerias entre Secretarias de saúde e UF; ·
Compartilhamento de informações; ·
Campanha Nacional contra o Aedes; ·
Conscientização da população para a prevenção de
epidemias; ·
Capacitação para cuidados com síndromes
neurológicas e malformações congênitas. |
Fonte: Elaborado
pelo autor, 2019.
Os artigos descrevem o conjunto de ações da gestão em saúde de combate
ao mosquito causador da Dengue, Zika etc. Tais ações constituem medidas de
políticas públicas de prevenção, já que ainda não existem medidas como vacinas.
Todas as ações são relativas ao protocolo de atenção à saúde. A análise se
baseou no texto do resumo de cada um dos treze artigos. Cabe destacar, a partir do que se evidencia
no Quadro 2, a importância da atuação de toda a população para que não haja
possíveis criadouros nas residências, ambientes de trabalho, escolas, somando
esforços com as atividades de rotinas federais, estaduais e municipais.
Vale ressaltar ainda que outros estudos são necessários
para descobrir se a infecção e/ou coinfecção podem afetar o curso da doença, a
ocorrência de casos graves e os modos de transmissão. As ações realizadas pelos
programas locais de controle das doenças transmitidas pelo vetor são
fundamentais para a prevenção das arboviroses. São ações que, além de reduzir o
número de mosquitos, reduzem a probabilidade de um ser humano que está com o
vírus circulante, servir como fonte de alimentação sanguínea e de infecção e
carrear a transmissão para outros na comunidade.
Para ilustrar a gravidade, assim como os impactos sociais
e subjetivos da epidemia, pode ser destacado, de acordo com uma reportagem
disponível no Anexo A, um exemplo de situação de uma servidora, docente da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que por conta do quadro
neurológico consequente à infecção pelo Zika Vírus se aposentou com 48 anos.
Essa ocorrência corrobora a noção de que a sociedade ainda não está preparada
para lidar com algumas das consequências da doença.
O presente
trabalho foi sistematizado a partir da revisão bibliográfica sobre o Zika Vírus
com enfoque na Atenção Primária, Zika, Saúde Pública. Selecionamos artigos em
língua portuguesa. As informações foram complementadas com dados específicos
sobre a situação epidemiológica da doença Zika no Brasil, tendo sido citado o
Sinan NET (Banco de dados de 2018 atualizado em 09/01/2019, e o de 2019, em
19/03/2018). Como pôde ser constatado, a situação da proliferação da doença é
bastante grave, envolvendo aspectos relacionados à educação, à cidadania, à
organização urbana, entre outros fatores.
É nítida a
influência que a informação e a educação, tanto por meios formais quanto de
maneira informal, exercem no controle deste quadro. Porém, além destes fatores,
o exercício da cidadania se mostra fundamental, assim como a educação em saúde
na formação dos profissionais que estão na linha de frente e na Atenção
Primária.
Analisamos
treze artigos, os quais, apresentados como produções científicas, consideram
relevante destacar que a Atenção Primária no Brasil deve ser o foco do trabalho
de prevenção e conscientização da população, além de um trabalho em educação em
saúde ser necessário para a prevenção de epidemias.
O Zika Vírus,
Chikungunya e Dengue mobilizam uma grande quantidade de profissionais, como
médicos, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros,
nutricionistas, fonoaudiólogos, biomédicos e outros profissionais da saúde em
suas diversas especialidades e práticas. Em razão de sua sintomatologia, o
quadro requer uma intervenção multidisciplinar, englobando também outros quadros
como microcefalia e Síndrome de Guillain-Barré, que requerem atenção
especializada e intensiva por bastante tempo. Todas estas situações que
demandam assistência impactam os serviços de saúde, pela necessidade de
acompanhamentos de longo prazo. Dessa forma, além de contar com os
profissionais de assistência direta ao paciente, ainda existe a necessidade de
recorrer ao trabalho de outros profissionais, como engenheiros sanitaristas,
farmacêuticos, biólogos e entomólogos.
Essa situação
traz consigo o desafio premente da formação de profissionais qualificados pelas
universidades, tanto na graduação quanto na pós-graduação, através de ações de
extensão, atualização e pesquisa. Outra frente que se beneficia do apoio das
universidades e faculdades é a elaboração de materiais e o desenvolvimento de tecnologias
que permitam que o cidadão que não faz parte da comunidade acadêmica tenha
ciência das doenças e de como mitigá-las, com campanhas de educação em saúde, de
boas práticas sanitárias e até mesmo dos direitos das pessoas a orientação e
tratamento.
BRASIL.
Ministério da Saúde. Monitoramento dos casos de microcefalia no Brasil.
Inf. Epidemiol SUS 2016; 17. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br. Acesso
em: 16 dez. 2019.
ESTADO
DE MINAS. Com doença grave, professora da UFMG aciona Justiça para
rever aposentadoria de um salário mínimo. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/12/11/interna_gerais,1107498/professora-da-ufmg-aciona-justica-para-rever-aposentadoria-minima.shtml.
Acesso em: 12 dez. 2019.
FLECK, M. P. A. et al. A avaliação da qualidade de vida: guia
para profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Fundação
Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) (E-26/201.330/2016), edital Arbovírus, and
PhD scholarship from Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), Brazil for C. R.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4.
ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.) Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 28. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2009.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria-Geral.
Grupo de Trabalho – Unidade de Sistema de Desenvolvimento de Serviços de Saúde.
Terminologia básica em saúde/Ministério da Saúde, Secretaria-Geral, Grupo de
Trabalho – Unidade de Sistema de Desenvolvimento de Serviços de Saúde –
Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1985. 49 p. (Série B:
Textos básicos em saúde, 8).
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde de A a Z: Aedes
Aegypti. Disponível
em: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/aedes-aegypti. 2019. Acesso
em: 16 dez. 2019.
PAIM, Jairnilson Silva e outros. O Que É o SUS. Rio de Janeiro: Ed.
Fiocruz, 2015. Disponível em:
http://www.livrosinterativoseditora.fiocruz.br/sus/. Acesso em: 13 dez. 2019.
Sites consultados
THE LANCET. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)00644-9. Acesso
em: 5 nov. 2019.
ANEXO
A – Reportagem publicada no jornal Estado de Minas
[1] Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/20anossus/legislacao/constituicaofederal.pdf.
Acesso em: 27 nov. 2019.
[2] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.
Acesso em: 28 nov. 2019.
[3] Para situar o contexto da
pesquisa, destacamos que este artigo foi elaborado como requisito parcial para
a obtenção do título de Especialista em Gestão de Instituições Federais de
Educação Superior, com ênfase em Saúde Pública, e um dos autores passou pela
experiência de adoecimento por Zika Vírus, com profundas consequências pessoais
e sociais, que suscitaram o interesse em sistematizar o conhecimento sobre o
assunto.
[4] Disponível em: http://brasil.bvs.br/. Acesso em: 28 nov. 2019.