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Lucinete de Fátima Alves Pereira
Tecnóloga
em Radiologia, Especialista em Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde e
Cursista GIFES. E-mail: luciap@hc.ufmg.br.
RESUMO
A preocupação com a geração de resíduos é um dos
maiores problemas ambientais enfrentados atualmente. As atividades relacionadas
à assistência na área de saúde, no ensino e na pesquisa geram resíduos de risco
que são denominados resíduos de serviços de saúde - RSS. Entre estes estão os
resíduos químicos do grupo B, os quais causam impactos ambientais e podem
causar acidentes graves e danos irreversíveis para o trabalhador. Tendo em
vista o percurso profissional da autora, proponente do estudo, que atuou no gerenciamento
de RSS em um hospital universitário, ficou evidente que esse processo apresenta
fragilidades que necessitam de intervenção. Com o objetivo de contribuir no
gerenciamento de resíduos químicos, assegurando melhorias tanto no transporte
quanto em casos de acidentes na manipulação dos mesmos, pensou-se na criação de
um Kit de contenção específico para coletas de resíduos químicos oriundos do
grupo B, de alto risco que expõe rotineiramente os coletores com possibilidades
de derramamentos acidentais durante as coletas, que tem um percurso extenso da
unidade geradora até o abrigo final de resíduos.
Palavras-chave: Resíduos químicos.
Introdução
O gerenciamento de resíduos de
serviços de saúde (RSS) é um dos problemas ambientais enfrentados atualmente. A geração de resíduos provenientes da
assistência à saúde tem recebido atenção especialmente pela quantidade que
cresce exponencialmente e pelo descarte de forma incorreta, que coloca em risco
a qualidade de vida da sociedade (COSTA, FONSECA, 2010).
Na literatura é recorrente a
preocupação pública com os resíduos das atividades de saúde remota aos anos de
1980, quando seringas e agulhas foram encontradas nas praias da costa leste da
Flórida, USA (RUTALA, MAYHALL, 1992).
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos[1]
foi publicada a partir da Lei 12305/2010 e vem reafirmar os princípios, objetivos e instrumentos,
bem como as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e
do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. (BRASIL,
2010).
São
geradores de RSS todos os serviços cujas atividades estejam relacionadas com a
atenção à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência
domiciliar; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios,
funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento
(tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e
farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa
na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos
farmacêuticos, importadores, distribuidores de materiais e controles para
diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura;
serviços de piercing e tatuagem, salões de beleza e estética, dentre
outros afins. (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2018)
Os RSS, apesar de representarem uma
pequena parcela da totalidade de resíduos sólidos gerados no meio urbano,
oferecem preocupante risco sanitário e ambiental quando gerenciados
inadequadamente, pois são possíveis fontes de propagação de doenças, que podem
contribuir para o aumento da incidência de infecção hospitalar, além de
apresentarem um risco ocupacional intra e extra estabelecimento de saúde
(AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2018).
Define-se gerenciamento dos resíduos
como um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a
partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais. O objetivo
principal é minimizar a geração e proporcionar seu encaminhamento de forma
segura, e consequentemente, contribuir para a proteção dos trabalhadores, a
preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (AGÊNCIA
NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2018).
A gestão
de RSS contempla as etapas de segregação, minimização, tratamento prévio,
acondicionamento, armazenamento temporário, coleta, transporte interno e
armazenamento externo. A minimização pode ser destacada pela reciclagem e
representa uma alternativa determinante na redução da quantidade de resíduos
sólidos gerados, aliado à economia de recursos naturais e energéticos
(KLIGERMAN, 2000).
Consideram-se agentes de risco químico aqueles cuja periculosidade é
devido a um produto ou composto químico. Podem penetrar o organismo do
trabalhador através a inalação (poeiras, fumaças, gases, neblinas, névoas ou
vapores), absorção dérmica ou ingestão. Considerando
ainda que o trabalho com produtos químicos é perigoso, e medidas de segurança
devem ser tomadas para o seu manuseio. Medidas de prevenção, o estudo e o
conhecimento dos riscos químicos são muito importantes, bem como, o
envolvimento responsável e consciente de todos aqueles que de alguma forma estão
envolvidos neste processo. (FIORAVANT, SANTOS e
RENAN, 2019).
Desta
forma este estudo se justifica à medida que a avaliação num contexto
compreensivo, em consonância com o exposto, torna-se uma ferramenta visando a
instrumentalização de gestores envolvidos com o planejamento e manejo, assim
como Órgãos responsáveis pela política de segurança dos resíduos gerados.
Ressalto ainda o fato de haver falta deste instrumento de controle,
monitoramento e proteção dos colaboradores da instituição nos momentos em que ocorrem
derramamentos acidentais, em um momento que demanda tomada de decisão rápida
para contenção e manipulação de resíduos.
A elaboração deste Kit justifica por apresentar inédito para contribuir
com os pressupostos da saúde e meio ambiente pela lacuna existente para
minimização do risco durante as coletas de resíduos químicos.
Espera-se contribuir para o aprimoramento da segurança na coleta de RSS e conscientização dos profissionais de saúde em geral. De forma adicional tem-se também a contribuição do ponto de vista acadêmico, que será o de transformar a vivência prática em ciência aplicada para a solução de problemas práticos na rotina da instituição, ampliar o conhecimento sobre o tema e instigar reflexões sobre as potenciais intervenções. Do ponto de vista organizacional, espera-se que a criação e implantação do kit em questão possa ser útil e evitar que derramamentos acidentais possam causar danos ambientais indesejados e comprometimento na saúde dos trabalhadores da coleta de resíduos químicos. Para a sociedade, a contribuição será a de prover informações de segurança que permitam melhor subsidiar sua prática laboral. Como produto desta pesquisa, propõe-se apresentar a composição de um kit de contenção específico para coleta de resíduos químicos com instrução de trabalho que oriente o seu uso a fim de proporcionar informações de segurança para acidentes com produtos químicos.
FIGURA 1 - Kit de contenção de resíduos químicos.
FONTE: O autor (2019)
FIGURA 2 - Kit de contenção de resíduos químicos em local de guarda dos produtos químicos.
FONTE: O autor (2019)
FIGURA 3 - Kit de Contenção de resíduos em uso nas coletas.internas de Resíduos Químicos
FONTE: O autor (2019)
2 OBJETIVOS
2.
1 OBJETIVO GERAL
• Contribuir na prevenção de acidentes a
funcionários que manipulam resíduos/produtos químicos e na proteção do meio
ambiente.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Criar um Kit de
contenção específico para uso durante as coletas com o objetivo de diminuir o
risco de exposição desta atividade e para casos de acidentes com produtos
químicos.
•
Contribuir com as normas de segurança da saúde
do trabalhador e de proteção do meio ambiente;
•
Colaborar no
gerenciamento de resíduos nas instituições geradoras objetivando sansões penais
desnecessárias e afastamentos e até mesmo perda de mão de obra;
•
Estimular
conhecimento acerca dos resíduos químicos.
3 O PROBLEMA
A
preocupação com o gerenciamento adequado dos resíduos/rejeitos[2]
gerados em Estabelecimentos de saúde tem motivado os geradores a criarem
mecanismos visando a proteção humana e ambiental. Os profissionais que
manipulam, movimentam, armazenam e descartam substâncias químicas precisam ter
disponíveis todas às informações para a implantação das medidas de prevenção.
Caso negligenciadas as propriedades físicas e químicas dos produtos químicos,
os mesmos podem ocasionar incêndios, explosões, emissão de gases tóxicos,
vapores ou combinações variadas desses efeitos. Além disso, os produtos
químicos podem apresentar reações de incompatibilidade com outras substâncias
quando se misturam.
Tendo em vista o percurso
profissional da aluna, proponente do estudo, que atuou no gerenciamento de RSS
em um hospital universitário, ficou evidente que esse processo apresenta
fragilidades que necessitam de intervenção e especificamente, gerou uma grande
inquietação na investigadora pela geração de RSS oriundos do grupo B (químicos)
de alto risco que expõe rotineiramente os coletores com possibilidades de
derramamentos acidentais durante as coletas, que tem um percurso extenso da
unidade geradora até o abrigo final.
O referido hospital gera uma quantidade
importante de resíduos de serviços de saúde e dentre eles estão os resíduos
químicos do grupo B, de alta periculosidade que são coletados dos setores
geradores semanalmente.
A
complexidade da organização hospitalar é um constante desafio para o processo
de gestão, principalmente no que se refere à segurança. O desenvolvimento do
tema permitiu articular muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso
com a prática no ambiente hospitalar, em busca dos objetivos do fazer
acontecer.
Portanto, do ponto de vista
organizacional, espera-se que a criação e implantação do kit contenção possa
ser útil e evitar que derramamentos acidentais coleta de resíduos químicos.
Para a sociedade, a contribuição será a de prover informações de segurança que
permitam melhor subsidiar sua prática laboral.
De forma adicional tem-se também a
contribuição do ponto de vista acadêmico, que será o de transformar a vivência
prática em ciência aplicada para a solução de
problemas práticos na rotina da instituição, ampliar o conhecimento
sobre o tema e instigar reflexões sobre as potenciais intervenções.
Desta forma, pensou-se na criação
de um Kit de contenção específico para uso durante as coletas com o
objetivo de diminuir o risco de exposição desta atividade contribuindo ainda
com a aplicabilidade da norma de Segurança e Saúde do trabalhador que orienta:
[...] todo
estabelecimento prestador de assistência á saúde deve estabelecer as diretrizes
básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos
trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades
de promoção e assistência à saúde em geral (BRASIL, 2005).
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa
descritiva, realizada em um hospital universitário, público e geral, integrado
ao Sistema Único de Saúde (SUS) e referência na atenção de média e alta
complexidade para a população de Belo Horizonte e do estado de Minas Gerais onde
são realizadas atividades de ensino, pesquisa e assistência à saúde, atendendo
a todas as especialidades oferecidas pelo SUS, com exceção da radioterapia.
Esta
pesquisa exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja
pesquisar. Desta forma, os estudos descritivos podem ser criticados porque pode
existir uma descrição exata dos fenômenos e dos fatos (TRINIÑOS, 1987).
A busca por material bibliográfico aconteceu
entre os meses de outubro e novembro de 2019 por meio da Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS) nas bases de dados: Literatura
Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e do Portal de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), por meio das palavras-chaves: resíduos, químicos, com
buscas por “kits de contenção de Resíduos químicos” com buscas em português e
inglês em artigos, manuais, normas e
leis pertinentes.
De posse do material para análise e síntese
realizou-se as etapas sugeridas por GIL (2010), a saber: Leitura exploratória e
reconhecimento dos artigos, leitura seletiva e escolha do material que servirá
aos propósitos do estudo, leitura analítica dos textos e por fim leitura
interpretativa e consequente fichamento. Outrossim, a revisão de literatura
consistiu ainda em consultas às Normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), legislações do Ministério da Saúde e do Meio Ambiente
respectivamente que normatizam a temática em âmbito nacional. Esta revisão
resultou em: 29 artigos completos, 06 legislações sobre o meio ambiente e 01
legislação sobre a saúde do trabalhador.
Para conhecer os
tipos de kits existentes para derramamentos assim, foi encontrado um cenário de
carência de um kit que garanta mais segurança na manipulação de
produtos/resíduos químicos, com elaboração de uma síntese atualizada do
conhecimento disponível em contribuição ao objeto de estudo.
QUADRO 1
Classificação dos Resíduos de
Serviços de Saúde pela RDC ANVISA 222/2018
Grupos/subgrupo/Classificação |
GRUPO A |
Subgrupo
A1 - Culturas e estoques de
micro-organismos; resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto os
medicamentos hemoderivados; descarte de vacinas de microrganismos vivos,
atenuados ou inativados; meios de cultura e instrumentais utilizados para
transferência, inoculação ou mistura de culturas; resíduos de laboratórios de
manipulação genética;.resíduos resultantes da atividade de ensino e pesquisa
ou atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de
contaminação biológica por agentes classe de risco 4, microrganismos com
relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causador de doença emergente
que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão
seja desconhecido; bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes
rejeitadas por contaminação ou por má conservação, ou com prazo de validade
vencido, e aquelas oriundas de coleta incompleta; sobras de amostras de
laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e materiais
resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos
corpóreos na forma livre. |
Subgrupo
A2 - Carcaças, peças anatômicas,
vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a processos de
experimentação com inoculação de microrganismos, bem como suas forrações, e
os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores de microrganismos de
relevância epidemiológica e com risco de disseminação, que foram submetidos
ou não a estudo anatomopatológico ou confirmação diagnóstica. |
Subgrupo A3 - Peças anatômicas (membros) do
ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com peso menor que 500
gramas ou estatura menor que 25 centímetros ou idade gestacional menor que 20
semanas, que não tenham valor científico ou legal e não tenha havido
requisição pelo paciente ou seus familiares. |
Subgrupo A4 - Kits de linhas arteriais,
endovenosas e dialisadores, quando descartados; filtros de ar e gases
aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento
médico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares; sobras de amostras
de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções,
provenientes de pacientes que não contenham e nem sejam suspeitos de conter
agentes classe de risco 4, e nem apresentem relevância epidemiológica e risco
de disseminação, ou microrganismo causador de doença emergente que se torne
epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja
desconhecido ou com suspeita de contaminação com príons; resíduos de tecido
adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento de
cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo; recipientes e materiais
resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue ou
líquidos corpóreos na forma livre; peças anatômicas (órgãos e tecidos),
incluindo a placenta, e outros resíduos provenientes de procedimentos
cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica;
cadáveres, carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos
provenientes de animais não submetidos a processos de experimentação com
inoculação de microrganismos; bolsas transfusionais vazias ou com volume residual
póstransfusão. |
Subgrupo
A5 - Órgãos, tecidos e fluidos orgânicos de alta
infectividade para príons, de casos suspeitos ou confirmados, bem como
quaisquer materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais,
suspeitos ou confirmados, e que tiveram contato com órgãos, tecidos e fluidos
de alta infectividade para príons. - Tecidos de alta infectividade para
príons são aqueles assim definidos em documentos oficiais pelos órgãos
sanitários competentes. |
GRUPO B Resíduos contendo produtos químicos que apresentam
periculosidade à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade,
carcinogenicidade, teratogenicidade, mutagenicidade e quantidade. Produtos
farmacêuticos; Resíduos de saneantes: desinfetantes, desinfestantes; resíduos
contendo metais pesados; reagentes para laboratório, inclusive os recipientes
contaminados por estes. Efluentes de processadores de imagem (reveladores e
fixadores). Efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises
clínicas. GRUPO C Qualquer material que contenha
radionuclídeo em quantidade superior aos níveis de dispensa especificados em
norma da CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista;
Enquadra-se neste grupo o rejeito radioativo proveniente de laboratório de
pesquisa e ensino na área da saúde, laboratório de análise clínica, serviço
de medicina nuclear e radioterapia, segundo Resolução da CNEN e Plano de
Proteção Radiológica aprovado para a instalação radiativa. |
GRUPO D Resíduos que não apresentam risco
biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser
equiparados aos resíduos domiciliares como: papel de uso sanitário e fralda,
absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, gorros e máscaras
descartáveis, resto alimentar de paciente, material utilizado em antissepsia
e hemostasia de venóclises, luvas de procedimentos que não entraram em
contato com sangue ou líquidos corpóreos, equipo de soro, abaixadores de
língua e outros similares não classificados como A1, sobras de alimentos e do
preparo de alimentos, resto alimentar de refeitório, - resíduos provenientes
das áreas administrativas;resíduos de varrição, flores, podas e jardins,
resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde;forrações de animais de
biotérios sem risco biológico associado. |
GRUPO E Materiais perfurocortantes ou
escarificantes, tais como: lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de
vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi,
lancetas; tubos capilares; ponteiras de micropipetas; lâminas e
lamínulas;espátulas; e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório
(pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares. |
FONTE: O
autor (2019)
5 Resultados E DISCUSSÃO
Tendo em vista o percurso profissional da autora, proponente do estudo,
que atuou no gerenciamento de RSS no referido hospital, ficou evidente que esse
processo apresenta fragilidades que necessitam de intervenção. De acordo com a
Norma ABNT NBR 9735/2016 é necessário ter um conjunto de equipamentos para
emergências no transporte terrestre de produtos perigosos, composto pelo
equipamento de proteção individual, a ser utilizado pelo condutor e auxiliares
envolvidos no transporte, equipamentos para sinalização da área da ocorrência e
extintor de incêndio portátil para a carga.
No
entanto a norma não apresenta orientações específicas para coletas internas de
resíduos perigosos. Esta lacuna gerou uma grande inquietação na investigadora
durante a coleta de RSS oriundos do grupo B (químicos) de alto risco que expõe
rotineiramente os coletores com possibilidades de derramamentos acidentais
durante as coletas que tem um percurso extenso da unidade geradora até o abrigo
final de resíduos. Pensou-se então, baseando-se nas recomendações da ABNT para
transportes externos de produtos perigosos, na criação de um Kit de contenção
específico para uso durante as coletas com o objetivo de diminuir o risco de
exposição desta atividade. Rotina da instituição, ampliar o conhecimento
sobre o tema e instigar reflexões sobre as potenciais intervenções.
Diante do exposto, pensou–se na criação de um
kit para ser usado nas coletas de resíduos químicos. A proposta foi reconhecida pela direção e polo Gestor de
Resíduos da instituição como uma ferramenta importante para a segurança
profissional e ambiental nas coletas e acidentes com resíduos/produtos
químicos.
Para definir o que deve conter o kit seguiram-se
algumas instruções contidas na norma ANBT, trabalhou-se com o reaproveitamento
de pinças inservíveis de uso em procedimentos cirúrgicos para compor os kits na
coleta de perfurocortantes gerados em casos de acidente. Os trapos de tecidos
da sala de costura também foram reaproveitados para confecção de bolsas para
armazenar os itens do kit e para facilitarem na coleta dos resíduos.
O pó de serragem da marcenaria para ajudar na
contenção dos resíduos líquidos (até a aquisição de pó solidificador). Foram
incluídas luvas nitrílicas de cano longo as quais foram testadas com produtos
químicos corrosivos para verificar o nível de segurança, além disso, foram
inseridos aventais descartáveis, toucas descartáveis, sacos específicos (de cor
laranja com símbolo de risco tóxico) para resíduos químicos, pó solidificador
para os rejeitos/resíduos líquidos, óculos de proteção e máscara tipo
respirador com carvão ativado. Criou-se uma instrução de trabalho para orientar
quanto ao uso, destino final dos resíduos gerados e reposição dos itens usados
bem como a validade dos produtos (apêndice a). Por último realizou-se a
distribuição dos kits. É importante ressaltar que os equipamentos do conjunto
para situações de emergência devem estar em qualquer local onde se manipula ou
armazena produtos químicos e juntos a estes as Fichas de Informação de
Segurança de Produtos Químicos (FISPQs) dos resíduos usados em cada setor da
referida instituição. .
Para definir quem deverá ter um kit,
primeiramente tentou-se priorizar os coletores dos resíduos gerados em seguida
funcionários que manipulam produtos químicos, e por fim os setores que armazenam tais produtos. Verificou-se também a necessidade de
trabalhar com treinamento para os coletores e funcionários dos setores
geradores de resíduos do grupo B ou armazenadores de produtos químicos.
Segundo GEMERT e PIJNEN et al. (2006),
essas organizações têm a obrigação de informar e treinar a equipe, para que
esta siga as medidas cabíveis para manter a segurança nas organizações. Isso se
faz necessário, pois acidentes ocupacionais que envolvem trabalhadores
hospitalares têm grande impacto econômico tanto pela perda de mão-de-obra
qualificada pelas lesões ocupacionais quanto pelo dano irreparável à imagem da
instituição hospitalar.
QUADRO 2
Instrução de Trabalho Operacional
Instrução de Trabalho Operacional |
||||
1 Versão: XX/XX/XX |
Atualização: XX/XX/XX |
Ito nº XX |
Página 19 de 25 |
|
Versão: nº XX |
||||
Aprovador unidade: chefe de unidade |
Responsável Técnico: |
|||
Quem: Profissionais com risco de contato com resíduos /
rejeitos químicos Objetivo(s): Atender emergências de
derramamento de resíduos / rejeitos químicos. Onde: Nos setores responsáveis pela gestão e acompanhamento de
contratos de materiais, equipamentos ou serviços.
Descrição
da Instrução de Trabalho: INÍCIO Materiais necessários para montagem do kit Kit
para acidentes com resíduos / rejeitos químicos γ
01 Sacola; γ
01 Pacote (1 kg de pó) de pó solidificador γ
01 Máscara com respirador com carvão ativado; γ
01 Luva nitrílica de cano longo; γ
01 Avental impermeável γ
01 Gorro; γ
01 Saco de cor laranja de 30 litros para risco tóxico e lacre; γ
01 Óculos de alta proteção; γ
01 Etiqueta autocolante de risco tóxico; γ
01 Etiqueta autocolante de identificação em branco; γ
Trapos de tecido; γ 01 Caixa de cor laranja para
resíduo químico perfurocortante (procurá la em local mais próximo do
acidente); γ 01 Pinça longa; γ01 Formulário padronizado para
solicitar descarte do resíduo gerado. DESCRIÇÃO DA INSTRUÇÃO DE TRABALHO Início Como fazer: •
Colocar os EPIs (Equipamentos de proteção individual)
imediatamente. O responsável pela contenção do derramamento líquido deverá
sinalizar e isolar o local; •
. Se o acidente ocorrer em local fechado, o local deverá
ser ventilado e abrir portas e janelas. •
Se o resíduo for de produto muito tóxico o local deverá
ser evacuado e quem proceder o recolhimento do mesmo deverá atentar para uso
de todos os EPIs fornecidos e procurar informações sobre nas FISPQUES
presentes em todos os setores que contém estes produtos e geram esses
resíduos/rejeitos. •
Se líquido, jogar
sobre o mesmo o pó solidificador em quantidade suficiente para conter o
espalhamento e colocar tecidos para facilitar no recolhimento (Cada 1 kg de
pó solidifica 100 litros). Após o
recolhimento, o químico solidificado deve ser acondicionado em saco de cor
laranja e lacrado. Atenção especial para os acidentes que gerarem fragmentos
de vidro, recolher com a pinça e colocar diretamente em caixa de cor laranja
respeitando o limite de preenchimento de 2/3 da capacidade. •
Os resíduos / rejeitos recolhidos, seja qual for, serão
descartados como químicos e devem ser acondicionados em sacos (exceto perfurocortantes – caixa de cor
laranja).e sinalizado com seu grau de periculosidade para que não ofereça
riscos á saúde do homem e ao meio ambiente. Devem ser guardados em local
seguro (local com sistema de isolamento que impeça o acesso de pessoas não
autorizadas), no setor gerador até que funcionários autorizados pelo Gestor
de resíduos possam comparecer ao local para transferí-los para o abrigo
intermediário. •
Após o recolhimento, o local de guarda deverá ser
higiênizado. •
Higienizar as mãos após recolher tais resíduos derramados. •
Providenciar formulário próprio de resíduos químicos e
preenche-lo de acordo com orientações do Gestor de resíduos. •
As luvas de autoproteção usadas no procedimento de
manipulação destes resíduos devem ser descartadas. •
Os setores que não
tiverem recebido seu Kit de Contenção de Resíduos Químicos deverão
providenciá-los e fazer a reposição dos itens quando usados ou substituir (de
acordo com normas da instituição) por outros “específicos” antes que vençam e
deixá-lo junto das Fichas de Informação de Segurança de Produtos Químicos
(FISPQs) dos resíduos usados em cada setor. •
Atentar para a substituição da ITO do kit sempre que for
revisada. Em
casos de não conformidade: Na indisponibilidade de sacos de
cor laranja (para resíduo químico), o saco branco leitoso de risco biológico
poderá ser utilizado desde que seja identificado que o resíduo ali colocado é
tóxico e fazer contato no setor de Gestão de Resíduos para encaminhá-los ao
depósito de resíduos químicos. Na indisponibilidade de caixas de
cor laranja para resíduos químicos, utilizar uma caixa resistente que ofereça
segurança para acondicionamento, coloca-la em saco de cor laranja,
identificar o conteúdo com o risco que oferece e o setor gerador. FIM |
||||
FONTE: O
autor (2019)
6 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Ao iniciar o trabalho de
pesquisa para saber os kits de contenção existentes, constatou-se um cenário de carência de um kit que garanta mais
segurança na manipulação de produtos/resíduos químicos.
Constatou-se que o Objetivo
Geral foi atendido porque o trabalho conseguiu mostrar a importância de se ter
um Kit de Contenção de Resíduos Químicos durante a coleta de resíduos em um
hospital universitário em que se realizam muitas pesquisas que geram grande
quantidade de resíduos químicos de alto risco que expõem rotineiramente os
coletores e ao meio ambiente.
Os objetivos específicos também
foram contemplados uma vez que o kit foi bem aceito pela Unidade de Gestão de
Resíduos de Serviços de Saúde da referida instituição e tem sido usado
frequentemente quando acontecem acidentes de derramamento proporcionando
segurança ás pessoas expostas e o meio ambiente, contribuindo deste modo com no
gerenciamento de resíduos nas instituições geradoras objetivando evitar ainda
sansões penais desnecessárias e afastamentos e até mesmo perda de mão de obra e
estimular conhecimento acerca dos resíduos químicos.
Foi adaptado pelo Serviço de Segurança do
Trabalhador para uso em todos os setores geradores de resíduos e armazenadores
de produtos químicos da instituição.
De modo geral, espera-se contribuir para o aprimoramento da segurança na
coleta de RSS e conscientização dos profissionais de saúde. De forma adicional
tem-se também a contribuição do ponto de vista acadêmico, que será o de
transformar a vivência prática em ciência aplicada para a solução de problemas práticos na rotina da instituição, ampliar
o conhecimento sobre o tema e instigar reflexões sobre as potenciais
intervenções. Do ponto de vista organizacional, espera-se que a criação e
implantação do kit em questão possa ser útil e evitar que derramamentos
acidentais possam causar danos ambientais indesejados e comprometimento na
saúde dos trabalhadores da coleta de resíduos químicos. Para a sociedade, a
contribuição será a de prover informações de segurança que permitam melhor
subsidiar sua prática laboral. O produto desta pesquisa foi apresentar a
composição de um kit de contenção específico para coleta de resíduos químicos
com instrução de trabalho que oriente o seu uso a fim de proporcionar
informações de segurança para acidentes com produtos químicos e até para uso em
outras demandas que envolve segurança para resíduos líquidos.
Algumas
limitações foram encontradas principalmente por se tratar de um hospital com
alta rotatividade de alunos e funcionários os quais apesar do empenho do Gestor
de Resíduos em ensinar a importância do correto gerenciamento dos resíduos que
geram. Observa-se pouco empenho em aprender, ocasionado talvez pela falta de
cobrança deste conhecimento como os demais da grade dos cursos da área de
Ciências da Saúde.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da Diretoria
Colegiada Nº 222 de 11 de março de e 2018. Regulamenta as Boas Práticas de
Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/3427425/RDC_222_2018_.pdf/c5d3081d-b331-4626-8448-c9aa426ec410.
Acesso em: 10 out. 2019.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da Diretoria
Colegiada Nº 306 de 07 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde e dá outras
providências. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/res0306_07_12_2004.pdf/95eac678-d441-4033-a5ab-f0276d56aaa6 . Acesso em: 10 out. 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Técnica 7500: 2017. Estabelece a simbologia convencional e o seu
dimensionamento para identificar produtos perigosos, a ser aplicada nas
unidades e equipamentos de transporte e nas embalagens/volumes, a fim de
indicar os riscos e os cuidados a serem tomados no transporte terrestre,
manuseio, movimentação e armazenamento. Disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=369106. Acesso em: 12 out.
2020.
BRASIL.
Ministério do Trabalho. Portaria Gabinete Ministro Nº 485, de 11 de
novembro de 2005. Estabelece as diretrizes básicas para a implantação de
medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de
saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à
saúde em geral. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Seção. 1, p.1 Brasília, DF, 16 de novembro de 2005.
BRASIL. Ministério de Estado do
Trabalho e Emprego. Portaria Nº 939, de 18 de novembro de 2008. Publica o
cronograma previsto no item 32.2.4.16 da Norma Regulamentadora nº 32, aprovada
pela Portaria MTE nº 485, de 11 de novembro de 2005, que dispõe sobre Segurança
e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Seção. 1 , p.1 Brasília, DF, 19 de novembro de 2008.
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Agência Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília: Ministério da Saúde,
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Brasil. Seção.1 ,p.1 Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1998.
BRASIL. Poder Executivo. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
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Oficial [da] República Federativa do Brasil. Seção.1 ,p.3 Brasília, DF, 03
de agosto de 2010.
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Resíduos sólidos de Serviços de Saúde: visão de enfermeiros e Técnicos. Disponível:
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CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA Nº 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição
final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil. Seção. 1 , p. 2. Brasília, DF, 30 de abril de 2005.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA Nº 5, de 5 de agosto de 1993. Define
nos termos da Resolução resíduos sólidos, Plano de Gerenciamento de Resíduos
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do Brasil. Seção. 1 , p. 12996.
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Infection. The Journal of Hospital Infection, London. v. 62, p. 166-173.
2006.
[1]
Resíduos
Sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem
como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível . (BRASIL,
2010).
[2]
Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de
esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos
tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. (BRASIL, Lei
12.305 de 2010).