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Bianca Jacqueline Silva

Coordenadora de Gestão de Pessoas da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) Campus Itabira. Possui graduação/tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos pela Unicesumar (2017) e pós graduação em Gestão de Instituições Federais de Ensino Superior pela UFMG (2019).

 

André de Carvalho Bandeira Mendes

Psicólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Estudos do Lazer – interdisciplinar (UFMG).

 

Resumo

Este trabalho consiste em um projeto de implantação de uma horta comunitária no campus Itabira da Universidade Federal de Itajubá. Para tanto é realizada a descrição da instituição, e o percurso de elaboração da proposta, que teve seu início no diálogo com os trabalhadores do campus. No seu manejo, implementação e manutenção é buscado um maior envolvimento com a comunidade universitária e com a população por meio de ações de extensão, permeando as dimensões social, cultural e ambiental da universidade. As etapas do projeto contemplam atividades de sensibilização e mobilização, de aspectos da gestão comunitária e da sustentabilidade, levantamento de recursos humanos e materiais, troca de experiência entre os interessados no desenvolvimento da horta, com a busca de maior inserção da população idosa que participará do cultivo, em uma perspectiva de transmissão de conhecimentos culturais e fortalecimento dos vínculos do grupo. Para a proposta da efetivação da horta comunitária foi constituída uma equipe gestora, responsável pela preparação do espaço físico e coordenação das atividades de manutenção da horta. A horta é planejada como espaço de observação, cultivo e lazer, podendo contribuir com o ensino e ações sobre ecologia, educação ambiental, gestão integrada dos resíduos sólidos e orgânicos da unidade, impactando positivamente o meio ambiente local e saúde dos envolvidos. A produção e o consumo de alimentos da horta poderão, futuramente, contribuir na geração de renda e como forma de estímulo de hábitos saudáveis de alimentação, além de promover a interação homem/meio ambiente e homem/homem, independente de qual papel ocupa na universidade. A redução na produção de resíduos, bem como seu manejo, poderá ser efetivada pelo aproveitamento e reuso de materiais, tanto para a produção de adubo quanto para construção de canteiros e revitalização de espaços subaproveitados da Unidade. A UNIFEI, através dessa ação integrada entre a comunidade universitária e a população da cidade, ainda que essas categorias sejam de difícil delimitação conceitual, ampliará o seu rol de ações de extensão, promovendo a disseminação de boas práticas.

 

 

Introdução

Este Projeto de intervenção, planejado para ser implementado no campus Itabira da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), propõe a constituição de uma horta comunitária com a participação e contribuição dos diversos segmentos da instituição e da população que usufrui dos serviços e do espaço do campus.

A proposta envolve a comunidade universitária de maneira ampliada, composta não apenas pelos docentes, discentes, técnicos administrativos e empregados públicos, mas também pela comunidade que frequenta o espaço através de ações de extensão, e até mesmo, em um segundo momento, pessoas que transitam pelo campus utilizando-o como um espaço de lazer (MARCELINNO, 1996) e ainda de atividade física. Essa proposta visa proporcionar, então, o bem-estar físico, convívio social e comunitário, além de contribuir em alguma medida para a melhoria socioeconômica. O resultado esperado, assim, será um conjunto das diferentes habilidades do grupo, com contribuições orquestradas por um grupo gestor da instituição.

As hortas comunitárias podem estar se tornando comuns[1] na organização das cidades, normalmente com incentivo e protagonismo municipal, mas no campus em questão existem espaços disponíveis e inexiste essa prática. As culturas tradicionais de um modo geral produzem conhecimentos importantes, aonde ainda que de maneira tácita (TRAVAHA, 2016 in PAES, PEREIRA, orgs.) fazem parte da prática social de diversos grupos, constituindo um ethos (GEERTZ, 2011) comunitário próprio. Pela falta de registro material, assim como por constituírem práticas cotidianas, são muitas vezes ignorados ou apropriados indevidamente. O diálogo participativo entre as comunidades tradicionais e a universidade é um dos instrumentos mais eficientes na construção de práticas mais humanizadas na saúde, na educação e nas questões ambientais.

De acordo com a Lei nº 7.794, de agosto de 2012, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), algumas ações contribuem para o desenvolvimento territorial e a qualidade de vida da população por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis. Neste contexto, os espaços comunitários aparecem como um dos ambientes prioritários e são considerados estratégicos para a promoção da saúde. A construção da horta comunitária constitui-se, assim, em um instrumento que, pelos aspectos ecológicos e de biodiversidade apresenta-se como potencial da agricultura urbana no desenvolvimento das cidades.

A ideia deste projeto iniciou pela busca da qualidade de vida para os servidores, principalmente os idosos, unindo com a experiência e legado que poderá ser deixado aos jovens universitários, como visão geral, temos o planejamento da implantação de uma prática com resultados positivos em outras experiências. Observa-se um histórico de resistências combinado com processos de rápida ocupação, desenraizamento cultural e perda do vínculo com as atividades agrícolas, principalmente em um ambiente universitário de áreas exclusivamente exatas, o que faz com que a implantação da horta venha não só para superar os limites acadêmicos, mas também como forma de construção de uma cultura social, humana e sustentável, resgatada por meio do convívio intergeracional que ocupam e se ocupam no campus, desfragmentando conhecimentos.

 

2.         Contextualização

 

A UNIFEI campus Itabira abriga nove cursos de engenharia, sendo eles mobilidade, elétrica, controle e automação, mecânica, saúde e segurança, produção, ambiental, computação e materiais.

Através de uma parceria pioneira entre governo local, representado pela Prefeitura Municipal de Itabira, setor privado, através da empresa Vale e Ministério da Educação (MEC) e UNIFEI foi dado início à implantação do Campus Itabira, cujas atividades tiveram seu começo efetivo em julho de 2008 com a realização de seu primeiro vestibular. O Convênio de Cooperação Técnica e Financeira, firmado entre a UNIFEI, a mineradora Vale e a Prefeitura de Itabira, garantiu a construção do campus da universidade e a montagem dos laboratórios.

Esse convênio estabeleceu o comprometimento da Vale com o provimento dos equipamentos destinados aos laboratórios dos cursos, que são utilizados nas atividades de formação, geração e aplicação de conhecimento. À Prefeitura de Itabira coube prover a infraestrutura básica necessária, sendo esta a área com benfeitorias, para funcionamento da Universidade. A área já destinada e alocada ao Complexo Universitário possui aproximadamente 604 mil m² e fica localizada no Distrito Industrial II da cidade.

A proposta do Campus de Itabira é de uma universidade essencialmente inovadora e tecnológica, com ensino e pesquisa voltados às demandas atuais e futuras de mercado, incentivo ao empreendedorismo e comprometimento com o desenvolvimento local e regional.

Em setembro de 2019, conforme dados obtidos com a instituição, a UNIFEI de Itabira contava com aproximadamente 85 servidores técnicos administrativos, 156 docentes, 81 empregados públicos e 2100 alunos, distribuídos em dois prédios e três anexos. Em dois anos e meio estão previstas a entrega de mais três prédios, aonde a meta é atingir 4500 alunos. A cidade que abriga o campus está distante cerca de 548 km da sede da Universidade em Itajubá, envolvendo um deslocamento com duração aproximada de 7h30min entre as unidades. É importante apontar a grande diferença regional que existe entre ambas as localidades, sendo a sede quase na fronteira com São Paulo, com forte presença de empresas de tecnologia e alto índice de desenvolvimento, e Itabira, no Quadrilátero Ferrífero, com economia fortemente vinculada à mineração. O campus fica em uma área mais afastada do centro urbano, como pode ser visto na figura 1.

 

FIGURA 1: Localização do campus da Unifei em Itabira


Fonte: Google Maps, 2019.

 

As universidades apresentam três pilares, sendo eles o ensino, a pesquisa e a extensão. A extensão é a vertente em que os projetos sociais abrangem toda a comunidade de forma mais efetiva e imediata, visto que aglomera discentes, docentes, técnicos e demais funcionários em um projeto único com participação voluntária e grande troca de experiência.

De acordo com as Diretrizes Nacionais da Extensão para a Educação Superior Brasileira (2018), em seu artigo 3º, esta passa a ter foco na atuação direta para com a comunidade externa:

 

A Extensão na Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa.

 

A construção da horta comunitária dialoga também com as diretrizes da Educação em Agroecologia por atingir a dimensão social, que ultrapassam os processos de ensino-aprendizagem formal. Um exemplo da dimensão da Horta Comunitária será que as pessoas envolvidas no projeto poderão além de melhorar a sua alimentação, por meio do consumo de alimentos saudáveis, voltarão a ter um espaço comum de encontro, o qual pode ter se perdido em meio à diversidade cultural do ambiente universitário. Será possível discutir e encaminhar outras questões referentes à organização comunitária, como por exemplo, dialogar com as atividades da Educação Alimentar e Nutricional (EAN), campo de conhecimento e de prática transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional.

Pautado em metodologias críticas e dialógicas, a EAN orienta-se pelos princípios que visam a promoção da saúde e a garantia da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), prevista na Lei nº 11. 346, de 15 de setembro de 2006, conhecida como Lei Orgânica de SAN (LOSAN), para promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares progressivamente mais saudáveis. Dentre os princípios da SAN destacam-se a diversidade de cenários de práticas, a valorização da cultura alimentar e da culinária, a defesa dos diferentes saberes e a sustentabilidade social, ambiental e econômica (BRASIL, 2012).

Analisando essa percepção é onde surgiu a necessidade desse estudo, uma pesquisa-ação que irá englobar toda a comunidade e a qualidade de vida, pois a produção e o consumo de alimentos da horta contribuirão para estimular hábitos saudáveis de alimentação, além de promover a interação homem/homem e homem/meio ambiente.

A grande diversidade de espécies vegetais medicinais, alimentares e ornamentais, cultivadas nos quintais pode contribuir para a complementação da dieta familiar, mesmo quando o cultivo é em pequena escala, resgatando a relação com a territorialidade. Assim como nos quintais, podemos buscar todos estes benefícios no cultivo comunitário, aonde além de proporcionar o prazer e o gosto de plantar, cultivar é também uma ocupação com impactos sobre a saúde e o bem-estar, podendo ser ainda uma opção de lazer que contribui de forma positiva para um estilo de vida saudável, com a possibilidade de incremento da qualidade de vida.

 

3.         Problema

 

No momento atual, um dos principais desafios que as universidades enfrentam é a legitimação das suas ações, visto o contexto da falta de recursos e a dificuldade de compreensão por parte da sociedade da sua função e do alcance das suas ações (BOAVENTURA, 2010), constituindo essas organizações em espaços de desenvolvimento, onde o ensino, a educação e a aprendizagem mantém relações dialógicas, complexas e recursivas. Diante desse desafio é importante a articulação de ações com as comunidades, dentro e fora dos espaços físicos delimitados pelas fronteiras do campus e pelas barreiras socioculturais.

 

4.         Justificativa

 

A UNIFEI campus Itabira é afastada da área comercial e central da cidade. O transporte público é limitado a poucas horas do dia e poucas rotas em torno da cidade, assim estas condições aumentam o tempo de permanência de alunos e servidores no campus durante todo o dia. Há de se considerar também que existe uma grande área verde que não será ocupada pelas novas obras dos prédios.

Os servidores apontam, ainda que de maneira pouco estruturada, a vontade de ocupar algum tempo com atividades de lazer e qualidade de vida, evitando os possíveis quadros de adoecimento mental, uma demanda apresentada pela equipe de saúde do campus não só em idosos, mas também em grande número de alunos jovens e adultos. De acordo com o setor de psicologia do campus, no segundo semestre de 2018 foram atendidos 65 alunos, totalizando 91 atendimentos. Já no primeiro semestre de 2019 foram atendidos 59 alunos em 79 atendimentos. Analisando esses tópicos, vê-se a necessidade de uma atividade voluntária e contínua, que permita a participação e envolvimento de pessoas a fim de trabalharem o corpo em conjunto com a mente. A implantação desta horta comunitária no campus ajudará a suprir essas necessidades, além de demandas de alimentação saudável para comunidade mais necessitada.

 

5.         Objetivo Geral

 

O objetivo geral do projeto consiste na implantação de uma horta comunitária na UNIFEI campus Itabira.

 

5.1      Objetivos Específicos

 

Diante do objetivo geral proposto, encontra-se os seguintes objetivos específicos:

a)        Trabalhar a horta comunitária como espaço de convívio;

b)        Socialização entre a comunidade acadêmica;

c)         Promover incentivo de atividades físicas, associadas ao cultivo na horta;

d)        Incentivar a alimentação saudável, por meio do consumo dos produtos da horta;

e)        Incentivo ao voluntariado em um projeto social;

f)         Redução de lixo com aproveitamento e reuso de materiais, tanto para a produção de adubo quanto para construção de canteiros e cercamento da horta.

 

6.         Revisão Conceitual

 

Um dos aspectos mais relevantes da qualidade de vida é a integração social (FLECK, 2008), em que fazer parte de um projeto coletivo é uma forma de incremento deste fator. Segundo Fleck (op. cit, p. 25) a qualidade de vida, sob a ótica da Organização Mundial de Saúde (OMS) pode ser definida da seguinte forma: “[...] a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que vive em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações”.

Entre as estratégias existentes para a integração está o trabalho voluntário. O trabalho voluntário consiste em se dedicar a uma causa, podendo ajudar parte do tempo de forma a contribuir para o desenvolvimento de algo que se acredita e que doando o melhor que sabe fazer pode contribuir para o propósito. Segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos[...]". Barros (2010), caracteriza um voluntário a pessoa que realiza esse trabalho pela vontade de contribuir, independentemente da idade, com o bem-estar social.

No Brasil, 54% dos adolescentes querem ser voluntários, mas apenas 7% realizam algum trabalho comunitário; nos EUA, 62% dos jovens o fazem. Esse índice é quase o mesmo entre os adultos (QUADROS, 2015), uma das razões frequentemente apontadas para o engajamento em trabalhos voluntários é que nas atividades diárias não existem muitos desafios nem realizações, nem liberdade de ação suficiente, e nas empresas em geral não existe uma missão, apenas conveniência. (ZÁRATE, et al., 2016).

Atualmente é comum voluntários citarem que estão colaborando para retribuir algo a sociedade, porém ao analisar os motivos que mobilizam em direção ao trabalho voluntário, descobrem-se pelo menos dois componentes fundamentais: o de cunho pessoal, a doação de tempo e esforço como resposta a uma inquietação interior que é levada à prática, e o social, a tomada de consciência dos problemas ao se enfrentar com a realidade, o que leva à luta por um ideal ou ao comprometimento com uma causa (Corullón, 2010).

 

6.1      Promoção da saúde

 

O estado de normalidade de funcionamento do organismo humano é o conceito de saúde, além da boa disposição do corpo e da mente, a OMS insere o bem-estar social entre os indivíduos no conceito.

A definição de promoção de saúde iniciou com a Declaração da Alma-Ata (1978), e foi desenvolvido na Carta de Ottawa (1986) durante a I Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde (MARTINS, 2005; RIBEIRO, 2013). O Ministério da Saúde (2018), define a promoção de saúde como um conjunto de estratégias voltadas à melhoria da qualidade de vida de indivíduos e coletividades. Já a carta tem como objetivo garantir o acesso universal à saúde, em consonância com o princípio da justiça social, e não deve ser atribuição somente do setor de saúde, mas também dos outros não diretamente implicados, e que a saúde seja meta nas elaborações de programas políticos e responsabilidade de todos os setores.

 

Segundo Gutierrez (apud BUSS, 2003) promoção de saúde é um conjunto de atividades, processos e recursos, orientados ao melhoramento de condições de bem-estar e acesso a bens e serviços sociais, que favoreçam o desenvolvimento de conhecimento e comportamentos positivos ao cuidado com a saúde e a criação de estratégias que permitam que a população tenha mais controle sobre sua saúde e suas condições de vida, a nível individual e coletivo.

A OMS (1997) define que uma das melhores formas de promover a saúde é através da escola e conforme Sperandio (2010), a promoção da saúde permite e estimula a integração e articulação dos diferentes setores, gestores do espaço, a fim de desenvolver territórios saudáveis, o que permite a criação do sentimento de participação dos usuários e consequentemente, cria-se um espaço de diálogo. A horta comunitária é um exemplo de atividade que contribui para a promoção de saúde, além de fomentar o empoderamento dos sujeitos (Honda, 2018),

 

6.2      O papel da Horta e Importância da Agricultura Urbana e Periurbana

 

Segundo Sperandio et al., (2015). Horta Comunitária Saudável é aquela que permite, para além da alimentação saudável, uma adequação do Planejamento Urbano, considerando os documentos legais que o norteiam. Estudos indicam uma associação entre proximidade de áreas verdes e desfechos positivos de saúde, como menores índices de obesidade, de doenças cardiovasculares, de doenças mentais, menos estresse, aumento da coesão social e da frequência de atividade física, além dos serviços ambientais prestados (AMATO-LOURENÇO et.al., 2016).

A agricultura urbana e periurbana tem-se apresentado como alternativa sustentável para o meio ambiente e à saúde humana, por consistir em uma forma de suprir os sistemas urbanos de produção alimentar conforme aponta Ribeiro (2013) Esse tipo de agricultura pode ser encontrado em hortas comunitárias, quintais, escolas, e traz benefícios nos âmbitos ambiental, social, econômico e de saúde (FAJERSZTAJN; VERAS; SALDIVA, 2016).

De acordo com Honda (2018) a agricultura apresenta benefícios como melhoramento do uso eficiente de energia e água e os benefícios para a produção de alimentos, e mais ainda se forem utilizadas alternativas agroecológicas. Para Irala (2001) a horta pode proporcionar uma grande variedade de alimentos gratuitos permitindo que toda a comunidade tenha acesso a essa variedade.

 

6.3      Programa e políticas públicas

 

A definição de políticas públicas relacionadas à promoção da saúde depende, diretamente, do reconhecimento por parte da gestão em relação a necessidade de ações intersetoriais (MOYSES; KREMPEL; MOYSES, 2010). Segundo Sperandio et al., (2015) as mudanças em relação às práticas de governo exigem novas formas de organização, sobretudo no desenvolvimento e aplicação do planejamento urbano e territorial, essencial na contribuição com o fortalecimento das autoridades e gestores administrativos.

Na cidade de Itabira, segundo Rosana Linhares, Secretaria Municipal de Saúde, em setembro de 2019, existe um projeto de agricultura familiar aos cuidados da Secretaria de Agricultura, onde o manuseio fica aos cuidados da vigilância sanitária. E demais projetos que promovem a prevenção e qualidade de vida, como o Pics que garante assistência a pacientes com medicamentos, curativos e exame. Bem como, controle de endemias através da vigilância sanitária em conjunto com os agentes de saúde com visitas familiares para orientação sobre cuidados para a saúde, explicações sobre como evitar criadouro de mosquitos, acúmulo de lixos e também implementação de 100% de Programa Saúde da Família.

Diretamente na área de promoção de produtos alimentícios existe palestras e cursos ministrados pelos agentes de vigilância sanitária, realizando a prevenção e promoção de saúde, seguindo assim as diretrizes da política pública em Itabira.

 

7.         Estratégia de Ação: implantação e monitoramento

 

A ideia do projeto teve início através de uma reunião entre a equipe de saúde da UNIFEI campus Itabira, direção do campus e a Coordenadora de Gestão de Pessoas. Foi reportado pela equipe de saúde os problemas relacionados aos empregados públicos, sendo vários deles senhores mais velhos que apresentam graves problemas de saúde física e mental, o que gera, além de má qualidade de vida no trabalho, um grande crescimento no absenteísmo.

 

Assim foram buscadas alternativas que pudessem melhorar a qualidade de vida dentro do campus, que atingissem a todos, mas principalmente aqueles que reportavam adoecimento mental, área em que a instituição pode e deve atuar de forma mais efetiva. A ideia da implantação da horta comunitária emergiu pela existência de empregados públicos com habilidades e interesse nessa prática, que poderiam fazer muitas atividades e que no momento da construção do Projeto estavam relatando estarem subutilizados. Desde então a universidade decidiu assumir esta responsabilidade e colocar o projeto em prática.

A primeira ação consistiu em convencer a Diretoria geral do campus, que forneceria espaço e estrutura física para viabilizar a horta. Após reunião com o Diretor, na qual foram explicados todos os benefícios possíveis e o que seria necessário para implantação, bem como seria mantida a horta, este permitiu a execução das atividades, sendo necessária a construção do projeto e definição da equipe responsável.

O segundo passo foi convidar uma equipe interessada e comprometida com a criação da horta e que pudesse se dedicar pelo menos nessa fase inicial. Até o momento, a equipe consiste em uma gestora de recursos humanos, na função de coordenadora[2], uma auxiliar de enfermagem, que ainda é formada em ciências biológicas, um engenheiro civil e um jardineiro atuando diretamente, cada qual com sua experiência para construção da estrutura inicial.

 

QUADRO 1: Equipe gestora do projeto

Atribuição

Cargo

Formação

Efetivo – quadro

permanente

Coordenadora

Assistente em Administração

Gestora de RH

Sim

Co-coordenadora

Auxiliar de Enfermagem

Enfermeira

Sim

Engenheiro

Engenheiro Civil

Engenharia Civil

Sim

Jardineiro

Jardineiro

Fundamental

Não (anistiado)

Fonte: Autora, 2019

 

Essa equipe circulou pelo campus e dialogou com os trabalhadores a fim de encontrar o melhor espaço, considerando algumas questões nessa fase:

-           o projeto das obras de expansão do campus, para ter certeza que os espaços vagos continuarão sem uso;

-           disponibilidade de água;

-           análise do solo;

-           quantidade de sol por dia;

-           tamanho do terreno.

Após as considerações do Engenheiro Civil e do jardineiro, que atuam no setor de Infraestrutura da UNIFEI, foram selecionados dois possíveis terrenos, que foram repassados à Diretoria Geral do Campus para análise e autorização, assim o espaço foi definido. O terreno disponibilizado está localizado atrás de uma estrutura pré-moldada de salas, anexa ao campus, e tem um tamanho inicial de mil metros quadrados. Uma situação que ajudou a definir o espaço foi aproveitar parte do cercamento já existente, considerando que o recurso para esta proposta é inexistente, gerando a dependência de doações e patrocínios para esta estruturação, especialmente no atual contexto de falta de verbas das universidades federais. Na figura 2 é possível a visualização do espaço de forma mais concreta, sendo as mesmas imagens reais do terreno registradas em setembro de 2019.

 

FIGURA 2: Terreno da horta



Fonte: Autora, 2019

Definido o terreno, foi realizado o pedido junto à Infraestrutura para limpeza do mesmo e continuidade do cercamento a fim de conseguir ter controle do espaço e manter a organização constante. Foi feita uma licitação para contratação da empresa responsável pela limpeza deste terreno. Após a finalização deste processo o próximo passo é o cercamento. Este será feito com pedaços de telas metálicas que serão retiradas de outros espaços em que não são necessários. Ainda serão necessários aproximadamente 10 sacos de cimento para estabilização das estacas das cercas. Quanto ao material, estimado pela equipe, ressaltando a falta de recursos, é de pequena monta conforme o quadro 2.

 

QUADRO 2: Material necessário para o cercamento do terreno

Material

Quantidade

Forma de obtenção

Grades

200 metros lineares

Remanejamento dentro do

Campus

Cimento portland CP 32 II

10 pacotes de 50 kg, total de

500kg

Patrocínio de depósitos de

construção / Vale

Areia

1500 kg,

Patrocínio de depósitos de

construção / Vale

Água

Cerca de 1500 litros

Universidade

Material para manejo dos

produtos

Bacias, enxadas, pás

Universidade

Fonte: Autora, 2019

 

Após a limpeza do terreno e finalização do cercamento, serão definidos quais serão os plantios, as regras de manutenção e colheita considerando o tempo de crescimento de cada espécie, bem como as esquipes responsáveis por esta manutenção e acompanhamento. As mudas serão adquiridas por doações através da Prefeitura Municipal e Secretaria de Saúde e dos servidores já envolvidos. Para definição destas questões será feita uma consulta pública à toda comunidade Unifei, sendo servidores e alunos do campus, já que estes são os maiores interessados e beneficiários deste projeto. A sabedoria e experiência de todos serão fundamentais para a tomada de decisão sobre os rumos da horta.

O monitoramento do Projeto será qualitativo e quantitativo, com o qualitativo a partir do feedback dos participantes e através da observação estratégica, como rodas de conversa. Quantitativamente serão registrados, em formulário próprio, que será testado previamente, a frequência dos participantes. A análise da frequência ocorrerá no acesso a horta, informado na entrada do Campus e gerenciado por uma planilha eletrônica, com registro do gênero, idade, quantidade de dias em que foi ao projeto e participação nas atividades de formação.

Poderá assim, a partir do exposto, delimitar a proposta como uma intervenção baseada na pesquisa-ação, aonde, como aponta Gil (1991, p. 130):

 

“A pesquisa-ação concretiza-se com o planejamento de uma ação destinada a enfrentar o problema que foi objeto de investigação. Isto implica a elaboração de um plano ou projeto que indique:

 

a)       quais os objetivos que se pretende atingir;

b)      a população a ser beneficiada;

c)       as natureza da relação da população com as instituições que serão afetadas;

d)      a identificação das medidas que podem contribuir para melhorar a situação;

e)       os procedimentos a serem adotados para assegurar a participação da população e incorporar suas sugestões; e

f)       a determinação das formas de controle do processo e de avaliação de seus resultados.

 

Nesta metodologia de pesquisa e intervenção as fases de planejamento, implantação, controle, monitoramento e avaliação são interdependentes, principalmente em um projeto previsto para ter uma longa duração.


 


9.         Considerações Finais

 

O acesso à Universidade não pode ter como objetivo apenas a obtenção de um certificado para fins de inserção no mercado de trabalho, deve também agregar conhecimentos e valores que contribuam para a formação de cidadãos capazes de construir uma sociedade melhor e mais integrada com a comunidade em que está inserida.

Como todo espaço comunitário, cuidados deverão ser tomados para que não seja usado ou frequentado de forma indevida. Considerando que a universidade é frequentada por um grande número de jovens em fase de inquietações emocionais e descobertas pessoais, o espaço deverá ser monitorado a fim de impedir que vire um ponto de uso de álcool, drogas ou para encontros indevidos para o ambiente.

Mesmo sendo um terreno não afastado dos demais espaços do campus, o cercamento e a monitoração não constante podem facilitar estes usos. O controle de acesso será feito pela Coordenadora do Projeto e este será liberado apenas para a equipe de empregados públicos e alunos designados como responsáveis pelo plantio e colheita, bem como toda a manutenção dos canteiros, controle de pragas, adubação e demais cuidados necessários. Apenas estes terão as chaves do portão. A colheita será distribuída aos usuários externamente ao terreno e através de regras ainda não definidas.

Após as primeiras colheitas será possível avaliar quais as melhores opções de hortaliças para se manter, considerando melhores épocas do ano, tempo de retorno entre plantio e colheita e maior demanda de consumo. Também considerando as demandas de consumo, deverá planejar regras de sustentabilidade para que a horta tenha condições de se manter de forma autossuficiente. A ideia da Coordenadora do Projeto é que os alunos e servidores possam consumir de forma consciente, contribuindo com um valor simbólico que será revertido para o sustento da horta, com manutenção dos canteiros, prevenção e controle de pragas, adubos e futuro crescimento do espaço físico.

Dentre as principais contribuições da horta comunitária, espera-se poder destacar três eixos: saúde e qualidade de vida, meio ambiente e organização comunitária. A saúde e qualidade de vida por meio de discussões sobre melhores hábitos alimentares, bem como acesso a estes hábitos por toda a comunidade e interação social vinculada ao trabalho e lazer, como forma de cuidar da saúde mental. Em relação ao meio ambiente, espera-se a conservação dos recursos naturais e amenização do impacto ambiental decorrente da ocupação humana, buscando a sustentabilidade e reutilização e reciclagem de resíduos. Em relação à organização comunitária, vinculando à qualidade de vida, ressalta-se a importância da integração entre toda a comunidade, podendo expandir para além da Unifei, como incentivo à Prefeitura Municipal a ampliar o projeto à toda comunidade Itabirana, envolvendo crianças e adolescentes de escolas públicas como parte de projetos sociais.

Possivelmente o tamanho não será suficiente considerando o número de usuários, que são estimados em aproximadamente 350 servidores e 2000 alunos. Será trabalhada a possibilidade de crescimento quando surgirem maiores demandas por parte destes usuários e gradativamente com o consumo ativo.

 

Referências

 

AMATO-LOURENÇO, Luís Fernando; MOREIRA, Tiana Carla Lopes; ARANTES, Bruna Lara de; SILVA FILHO, Demóstenes Ferreira da; MAUAD, Thais. Metrópoles, cobertura vegetal, áreas verdes e saúde. Estudos Avançados, v.30, n.86, p.113-130, 2016.

 

BARROS, K. O Valor do Trabalho Voluntário. Disponível em

<http://www.assema.org.br/artigos2.php?id_artigo=7 > Acesso em 29 de ago. 2019.

 

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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde).

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira. Brasília: Ministério da Educação,            2018.  Disponível    em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=104251- rces007-18&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 Acesso em 15 out. 2019.

 

BUSS, Paulo Marchiori. Uma introdução ao conceito de Promoção da Saúde. In: CZERESNIA, Dina e FREITAS, Carlos Machado de. Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2003, p. 15-38.

 

CORULLÓN,            M.O.    Trabalho      Voluntário.   Disponível    em:

<http://www.portaldoespirito.com.br/portal/artigos/divers        os/assistencia/o-trabalho voluntario.html> Acessado em 28 de ago. 2019.

 

FAJERSZTAJN, Laís; VERAS, Mariana; SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Como as cidades podem favorecer ou dificultar a promoção da saúde de seus moradores? Estud. av., São Paulo, v. 30, n. 86, p. 7-27, abr. 2016. Disponível em

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[1] Um exemplo desta política é o Programa Territórios Sustentáveis da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) que incentiva e assessora os projetos de hortas comunitárias. Maiores informações podem ser obtidas no endereço eletrônico da PBH: <https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/prefeitura-de-belo-horizonte-incentiva- hortas-comunitariase-inclusao-social>. Acesso em 08 de outubro de 2019.

[2] Convém apontar que a autora deste trabalho atua na Gestão de Pessoas da instituição, sendo servidora deste setor desde outubro de 2015 e está Coordenadora desde Dezembro de 2017.



Recebido em 07 de agosto de 2020
Publicado em 01 de setembro de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

SILVA, Bianca Jacqueline. MENDES, André de Carvalho Bandeira. Implantação de Horta Comunitária em Uum Campus Universitário: Inclusão Social e Qualidade de Vida. Revista MultiAtual, v. 1, n.4., 28 de agosto de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/08/gestao-de-documentos-e-producao.html