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Gonçalo Nuno de Pedrosa Santos Pires
Aluno do curso de especialização em
Gestão de Instituições Federais de Educação Superior (GIFES)- FAE/UFMG.
Leonardo Antonio Soares
Professor adjunto UFMG - FALE.
RESUMO
Com relação aos três pilares da
universidade, ensino, pesquisa e extensão, percebemos que as duas primeiras,
são claramente identificáveis no cotidiano do campus universitário, sendo assim
o ensino ocorrendo nas salas e em vários outros espaços didáticos; a pesquisa
nos laboratórios, in loco ou nas bibliotecas. Porém, vários pesquisadores
identificam a importância de a instituição não se afastar do compromisso com a
sociedade, sendo assim a extensão universitária possui grande relevância nesse
contexto, pois seu compromisso com valores como transformação social,
democratização da sociedade e formação crítica e cidadã, convoca a universidade
a estabelecer um elo com a comunidade
que a cerca. Este artigo tem como foco de análise o Projeto Incluir, da UFMG, e
seu objetivo principal é analisar a gestão participativa e sua importância como
fator de crescimento pessoal e profissional dos educandos e, principalmente,
dos voluntários do projeto. Para que os objetivos sejam atingidos foram usados
autores como Ruas e Romanini (2013), Vaz (2008), Sancho (1998; 2006) e Freire
(2001), além de documentos oficiais que incluem o próprio manual de criação do
projeto em análise. Pela análise dos dados ficou comprovado que, através da
gestão e organização compartilhada, o projeto é capaz de identificar problemas
e atender à comunidade de forma eficaz, os recursos tecnológicos se mostram
ferramentas essenciais, não comente para gestão compartilhada, mas para a
interação e execução de tarefas ligadas à manutenção dos cursos ofertados. Por
fim, ficou claro o alto grau de satisfação e integração entre os voluntários e
o projeto, o que significa um atendimento mais eficiente ao público atendido.
Palavras-chave: Extensão. Gestão. Tecnologias. Voluntariado.
ABSTRACT
Regarding the
three pillars that support the university, teaching, research and extension; we
realize that the first two are clearly identifiable in the daily life of the
university campus, thus the teaching takes place in the classrooms and many
other didactic spaces; research in laboratories, onsite or in libraries.
However, several researchers have identified the importance of the institution
not departing from its commitment to society, thus the university extension has
great relevance in this context, because its commitment to values such as
social transformation, democratization of society and critical formation calls
for university to establish a link with the surrounding community. This article
focuses on the Project Incluir, UFMG, and its main objective is to analyze the
participatory management and its importance as a factor of personal and
professional growth of students and, mainly, the project volunteers. In order
to achieve the objectives, authors such as Ruas and Romanini (2013), Vaz
(2008), Sancho (1998; 2006) and Freire (2001) are used, as well as official
documents that include the project creation manual itself. The data analysis
showed that, through shared management and organization, the project is able to
identify problems and serve the community effectively. Technological resources represent
essential tools, not only for shared management, but for interaction and
execution of tasks related to the maintenance of the courses offered. Finally,
it was clear the high degree of satisfaction and integration between the
volunteers and the project, what means more efficient service to the public
served.
Keywords:
Extension. Management. Technologies. Volunteering.
INTRODUÇÃO
A
universidade se caracteriza como um espaço de formação e produção de
conhecimento, ou seja, ela não pode ser vista apenas como a porta para se
conseguir uma colocação no mercado de trabalho, mas “o núcleo de uma
instituição universitária é a qualidade e eficácia dos processos de ensino e aprendizagem que,
alimentados pela pesquisa, promovem
melhores resultados de aprendizagem dos alunos” (LIBÂNEO, 2003). A universidade
deve, pois, promover a pesquisa, estudos específicos com vistas ao
desenvolvimento humano e tecnológico para, dessa forma, cumprir seu papel
transformador na sociedade na qual está inserida. Libâneo (2003) ressalta ainda
que o ensino é uma das facetas da
universidade, mas é preciso considerar o tripé que dá sustentação à
universidade: ensino, pesquisa, extensão. O que demonstra a importância
fundamental do ensino, da pesquisa e da extensão que na universidade devem ser
inseparáveis. Direcionamos o olhar para uma das bases deste tripé, através de
um foco mais direto nos cursos de extensão.
Nos sábados pela manhã, a Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se transforma no espaço do Projeto
Incluir – EICIS, um projeto de extensão, gerido por uma equipe de 140 voluntários
que, durante seis horas, transforma a Escola de Engenharia em uma ação social
que oferece dezoito cursos de capacitação e cultura para aproximadamente 1.300 alunos.
Meu interesse pelo projeto surgiu pelo fato de minha
esposa e filha participarem de atividades aos sábados pela manhã pelo período
de quase dois anos e, quando possível, eu as acompanhava. Como não estava
inscrito nas atividades, tornei-me um espectador das dinâmicas do projeto, que indicaram
algo que iria além do cotidiano escolar formal e tradicional.
Cabe ressaltar que o projeto é muito
interessante do ponto de vista da participação dos jovens e dos adultos que o
frequentavam, seja devido ao acesso aos cursos, principalmente de Inglês, ou
pelas possibilidades que se abrem a partir dessa participação. Neste sentido,
muitos alunos que lá estão inscritos, apresentam relatos acerca das chances e
oportunidades que eles possuem ao fazerem os cursos.
O artigo tem como foco de
análise o Projeto Incluir e seu objetivo principal é analisar a gestão
participativa e sua importância como fator de crescimento pessoal e
profissional dos educandos e, principalmente, voluntários inscritos no projeto.
Dentre os objetivos específicos estão (a) identificar como as novas tecnologias
de comunicação podem se tornar parte de projetos e contribuir para a gestão
participativa, (b) analisar o grau de satisfação dos voluntários participantes
a partir do uso dos recursos tecnológicos e (c) apontar a importância de
projetos capazes de integrar a universidade ao seu contexto de inserção.
É importante ressaltar que, em termos de público
envolvido, nosso foco recairá sobre os voluntários e seu papel no projeto e não
sobre os alunos atendidos. Por outro lado, as tecnologias por eles usadas no
processo também serão analisadas.
Foi realizado um levantamento bibliográfico e documental
sobre o Projeto Incluir, que apesar do tempo existência, quase uma década, da
quantidade e da importância para a vida dos atendidos, não se configura de
forma enfática como objeto de pesquisa ou investigação acadêmica.
Sendo assim, este estudo utiliza-se de investigações que contemplam
os métodos qualitativo e quantitativo, uma vez que entrevistas com os voluntários,
análise de documentos internos e publicações sobre o Projeto Incluir e
observações servem de suporte.
Na discussão do uso das tecnologias da informação, optamos
por artigos acadêmicos e reportagens sobre conceitos de uso de equipamentos e
plataformas, como BYOD – do inglês, Bring Your Own Device (traga seu
próprio dispositivo), que são parte da dinâmica de trabalho dos voluntários do
projeto.
Por outro lado, foram usados fragmentos de entrevistas
feitas com três voluntárias participantes do projeto com o intuito de poder
analisar o grau de autonomia, satisfação e envolvimento.
A pesquisa visa ainda responder aos seguintes
questionamentos:
I.
Como o projeto é gerido para que ele consiga
abranger e atender efetivamente todos os alunos?
II.
Qual o papel dos recursos tecnológicos e quais
são as ferramentas e plataformas utilizadas, tanto na gestão quanto na sua organização?
III.
Qual o papel dos voluntários e integrantes do
projeto na busca de integração com a comunidade atendida?
Ainda considerando
o viés de um projeto social, com base no voluntariado, que conta com recursos
financeiros restritos, pergunta-se como o uso compartilhado de equipamentos,
plataformas pessoais, redes sociais e acesso à internet se dá nesse contexto.
Passo a seguir à apresentação da base teórica que será
usada como suporte neste artigo.
1- BASE
TEÓRICA
Porém,
vários pesquisadores identificam a importância de a instituição não se afastar
do compromisso com a sociedade que financia tais pesquisas:
A extensão universitária possui grande relevância
nesse processo, pois seu compromisso com valores como transformação social,
democratização da sociedade e formação crítica e cidadã, convoca a universidade
a se deslocar de um lugar elitista e muitas vezes desqualificador de nossa
própria
história, valorizando saberes distintos e reconhecendo atores diversos como
autores desses saberes. (MAYORGA, 2016:02)
Neste sentido, Rua e Romanini (2013) afirmam que o reconhecimento
dos problemas políticos e a absorção das demandas dependem, de dois fatores: a
ação coletiva e do grau de abertura do sistema político institucional. Deste
modo, um projeto representaria tal elo entre universidade e sociedade e poderia
agir para solução de uma demanda identificada.
Sendo assim, um conjunto de atores sociais se organiza na
busca de formas de enfrentamento de um problema, através de uma política
pública, programa ou projeto e, conforme enfatizam Rua e Romanini (2013) o
enfrentamento irá dispor de uma estrutura política e social composta por
indivíduos e grupos com funções e papeis definidos (gerentes, administradores,
prestadores de serviços, fornecedores, financiadores, implementadores, usuários
ou beneficiários do programa/projeto.
Mas identificar os problemas sociais que demandam
atuação, apesar dos seus efeitos estarem muitas vezes visíveis aos olhos em
forma de sofrimento ou dificuldade para acesso a direitos e bens comuns negados
por conta do pertencimento a uma condição social excludente, quase sempre se
mostra uma tarefa desafiadora.
Dentre as várias mazelas sociais que afligem a população,
em especial a população jovem, foi a dificuldade de acesso à educação e à
formação para o trabalho os pontos identificados pelos criadores do Projeto
Incluir e transformados em foco de atuação.
Neste ponto identificamos outro autor cujas teorias são
importantes para este artigo, pois o trabalho sistemático e as ações focalizam
no atendimento aos educandos atendidos perpassam pelas reflexões de Paulo
Freire (2001) que afirma que “o respeito
à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que
podemos ou não conceder uns aos outros” (p.58), de modo que a organização
interna, mesmo a burocrática, tenha como
foco a melhoria dos processos para possibilitar um atendimento digno aos
usuários do projeto.
Cabe ressaltar que estamos lidando com um projeto e, como
tal, ele possui sua gama de atuação, mas também possui limites. Rua e Romanini
(2013) advertem que “não se deve se
confundir o objetivo da política pública, do programa ou projeto” (p. 126), de
modo que apesar de resultados muito positivos para a população atendida e para
os que participam do projeto como voluntários, ele se configura como um simulador
em pequena escala de ações que poderão tornar-se, quem sabe um dia, uma
política pública.
Ao propormos um olhar sobre a
organização do projeto, que como toda organização demanda utilizar as mais
diversas ferramentas de gestão, recorremos a Vaz (2008:02) que faz um resumo
das teorias de gestão no qual aponta os principais componentes de um processo
são:
(a) Entradas:
são os insumos necessários ao funcionamento do processo;
(b) Saídas:
são os produtos e informações geradas pelo processo;
(c) Procedimentos
de operação: são as várias operações, estruturadas de maneira lógica e pré-concebida,
que garantem a transformação dos insumos em produtos;
(d) Critérios
de controle: são os elementos de avaliação, baseados em padrões de desempenho pré-estabelecidos,
que permitem a mensuração de resultados e o controle pelos gestores do processo;
(e) Recursos
humanos: são as pessoas envolvidas nas várias etapas de operação do processo;
(f) Infraestrutura:
são os recursos materiais que criam as condições básicas para a operação do
processo, como instalações, equipamentos, materiais de consumo etc.; e
(g) Tecnologia:
são os recursos tecnológicos empregados, incluindo tanto os recursos físicos
(computadores, máquinas etc.), como as técnicas e softwares.
Nesse estudo focaremos basicamente em dois dos
componentes do processo apontados por Vaz (2008), que são os recursos humanos e
a tecnologia, incluindo as ferramentas de comunicação e softwares
compartilhados durante o trabalho e em função dele.
Apesar de usarmos em larga escala as tecnologias de
comunicação e informação “poucas vezes nos perguntamos como tais tecnologias organizadoras
e simbólicas configuram e transformam nosso mundo” (SANCHO, 1998 p.24) e isso
se faz importante ao investigarmos os voluntários se integram a esses processos
em busca de um bem maior que se resume em resolver as demandas dos alunos.
Para a análise do uso das
tecnologias, em especial sobre seus impactos nas relações humanas, buscamos as
contribuições de Sancho (1998:23), que busca dar enfoque na tecnologia para
além do utilitarismo:
Um dos aspectos considerados mais perigosos
da chamada cultura tecnológica é a sua tendência para descontextualizar, a
levar em consideração somente aqueles componentes que têm uma solução técnica e
a desconsiderar o impacto – nos indivíduos, na sociedade e no ambiente
provocado por ela.
É possível perceber um outro fato que chama a atenção,
que é o uso de ferramentas pessoais (hardwares e softwares) pelos voluntários, que
compartilham suas ferramentas digitais pessoais com o projeto, formando uma
grande rede interligada informal. Tal cooperação é relatada no artigo de
Barbosa et al. (2019:12) que afirmam que
Como qualquer inovação, o Projeto Incluir
passou pelas etapas de geração da ideia, desenvolvimento e implementação. Esse
processo não foi rápido, assim como o crescimento, que ocorreu de maneira
gradual e com base na construção de cooperações e parcerias.
Pela afirmação dos autores, que na verdade são também
idealizadores do projeto, percebe-se também que, em termos de gestão e
organização, descobriu-se um caminho para a manutenção do projeto. Isso nos
remete à análises de Secchi (2006) que enfatiza que é essencial gerar
alternativas consistentes, projetar custos e benefícios e dissolver (ou
antecipar) conflitos de interesses e tudo isso irá evitar a repetição,
imitação, preconceito ou auto interesse, levando os idealizadores a saírem do
achismo para evitar falhas de implementação.
E foram nesses processos, de gestão,
mas principalmente de trocas, de diálogos e buscas de soluções em conjunto que
a autonomia do projeto se constituiu, se construiu também a autonomia dos
participantes, se iniciando com voluntários e transitando entre educadores e
educandos com os processos coletivos de trabalho e uso de tecnologias, de forma
que “nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando
em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do
educador, igualmente sujeito do processo” (FREIRE, 2001,p.13).
Devido à exiguidade de tempo e
espaço, o artigo focalizará no trabalho dos voluntários, em especial dos
voluntários que atuam na secretária e sua relação com as ferramentas tecnológicas
compartilhadas. É importante ressaltar que projeto possui um portal em SQL[1]:
O sistema
desenvolvido por voluntários é utilizado efetivamente desde o segundo semestre
de 2014 e possui todas as informações relacionadas ao cadastro dos estudantes, como
turmas, notas, frequências e outras informações de interesse do Projeto. O
referido banco utiliza a linguagem SQL. (BARBOSA, 2019. Pg.06)
Mas apesar de um portal próprio, também desenvolvido por
outro grupo de voluntários, percebe-se que muitas de informações passam antes
por ferramentas do pacote Microsoft Office transferidos via aplicativo WhatsApp.
Com relação aos equipamentos usados no espaço
físico do projeto, ele conta com algumas poucas impressoras que foram doadas,
mas a maior parte dos notebooks e celulares pertencem aos voluntários, o que
nos remete à relação chamada de BYOD –
do inglês, Bring Your Own Device (traga seu próprio dispositivo), onde o
voluntário compartilha tais recursos. No caso do projeto, isso vai além e há
também compartilhamento de licenças de programas, espaço de armazenamento em
nuvem, aplicativos e redes sociais.
A rede de internet que interliga as atividades na
faculdade de Engenharia, é cedida pela UFMG, com senhas exclusivas para o
projeto, mas fora da universidade, a internet também é cedida pelos usuários, o
que nos leva a refletir no grau de comprometimento que os participantes possuem.
2- O
PROJETO INCLUIR
Embora algumas nuances a respeito do projeto tenham sido
detalhadas acima e comparadas com os autores da base teórica, nesta seção
analisamos o projeto de forma mais direta e isso significa identificar
concepções, embasamento legal e foco de atuação no contexto de inserção. Para
isso faremos uso de Manual do Voluntariado do Projeto Incluir e do artigo de
Barbosa et al. (2019) que possuem foco direto nos aspectos supracitados.
O Projeto Incluir é uma atividade de extensão coordenado
pelo Professor Titular da UFMG, Francisco Vidal Barbosa[2], tendo a Fundação
Christiano Ottoni como responsável pela a gestão financeira e contábil e contando
com a parceria da Fundação Mendes Pimentel.
A partir de uma análise no Manual do Voluntário,
doravante MV, detecta-se que a missão principal é
Incluir
pessoas por meio do acesso ao conhecimento e novas experiências visando a
formação de cidadãos solidários, conscientes de seu papel social e político, a
fim de se tornarem protagonistas de um mundo melhor e sustentável. (MV, p.07)
Já os princípios que orientam o trabalho incluem
I.
Estimular aos alunos da UFMG a cultura do
voluntariado
II.
Oportunizar a experiência dos alunos
exercerem as atividades de gestão, ensino, pesquisa
III.
Estimular a criação de startups, spinoffs
e empreendimentos sociais
IV.
Atendimento prioritário a população de baixa
renda
O projeto oferece cursos semestrais, de línguas
estrangeiras, matemática, empreendedorismo matemática financeiro e noções de
direito, informática e cultura, que inclui capoeira e forró. Além disso, ele possui apoio escolar e
orientação profissional.
O projeto funciona nos sábados de manhã das 8h às 12h30 e
tem como público principal a comunidade não acadêmica, em especial a “população
em situação de vulnerabilidade social e econômica” (MV, p.09).
Um objetivo se sobressai “criar uma
oportunidade da inclusão social e formação cidadã” (MV, 2018: 09), sendo assim
o projeto se inicia com um olhar imediato, para aqueles membros “invisíveis”
que por várias questões não se beneficiam dos saberes ali produzidos.
Ainda, segundo o MV (2018), após pesquisas que
consideravam uma necessidade imediata e várias conversas com os futuros alunos,
foram definidos alguns cursos sobre Empreendedorismo, Educação Financeira,
Direitos do Cidadão, Inteligência Emocional, Direito Trabalhista, Direito do
Consumidor. Naquela ocasião, o projeto ofertava o curso de Inglês dado em
módulos I, II e III para instrumentalizar os alunos para trabalhar na Copa de
Futebol em 2014, que se realizaria no Brasil. Assim nasceu a primeira turma de
12 alunos que aconteceu semanalmente aos sábados de 8h00 às 12h00 no Auditório
1070 do prédio da FACE, durante o segundo semestre de 2010.
Em 2012 o Projeto já contava com 300 e ocupando seis
salas de aula do prédio da FACE (Faculdade de Ciências Econômicas), por decisão
da Congregação da unidade, foi convidado a não permanecer na Faculdade de
Administração Contabilidade e Economia. O apoio e o espaço vieram pela Escola
de Engenharia da UFMG, que ofereceu dois andares do moderno bloco 4. A parceira se estendeu com o apoio da
Fundação Christiano Ottoni e profissionais da comunidade externa à UFMG,
oriundos das seguintes instituições: Universidade Federal de Ouro Preto,
Universidade Federal do Amazonas, UNA-Centro Universitário, Polícia Militar de
Minas Gerais, Instituto Nacional de Propriedade Intelectual – INPI, Instituto
Federal de Educação Tecnológica-IFET, Secretaria Estadual de Ciência e
Tecnologia e Ensino Superior, onde cada qual teve sua importância e
contribuição.
A partir de 2013, o Projeto Incluir inaugurou uma
identidade visual e deu um passo muito significativo ao iniciar a confecção de
materiais didáticos próprios, que iriam contemplar a dinâmica dos cursos, a
carga horária oferecida e, talvez um dos pontos mais relevantes, que seria o
fato de que esse material seria gratuito para o educando.
Nessa última década, o Projeto Incluir cresceu e se
organizou com a ajuda dos gestores, dos parceiros e isso indica que “além do
aumento de voluntários, a diversidade de conhecimentos, habilidades, níveis de
escolaridade e formações também auxiliam nessa subdivisão de tarefas e aumento
dos cursos ofertados” (BARBOSA et ali,
2019: 08), sendo possível dizer que é participação dos voluntários que tornam o
projeto vivo e eficaz em seu contexto de atuação contando com uma
multiplicidade de experiencias e saberes.
O projeto tem contribuído para inserção no mercado de
trabalho, seja pela via do fortalecimento e continuidade do ciclo de estudos ou
pela inserção na universidade. Entendemos que identificar as contribuições do
Projeto Incluir na vida dos participantes demandaria um trabalho muito complexo,
que iria além dos limites de um artigo, seja pela quantidade de pessoas
beneficiadas, seja pela diversidade de histórias e trajetórias que compartilharam
os cursos.
Em 2019, o projeto incluir está se colocando em um novo
patamar, não somente pelo número recorde de inscrições (2.300) e educandos
atendidos (1300), mas principalmente pela inciativa de “profissionalização” dos
processos.
Nesses dois últimos anos, o Grupo EICIS (Empreendedorismo, Inovação, Conhecimento,
Inteligência e Sustentabilidade) tem mapeado alguns processos e criado fluxos
para os procedimentos administrativos, dessa maneira é possível perceber que em
geral, “os processos tendem a articular-se entre si no interior de uma
organização ou no âmbito da cadeia de trabalho” (VAZ, 2008: 01).
Passo a seguir a análise dos dados que tem como função
unir as duas seções previamente discutidas neste artigo, ou seja, a base
teórica e as concepções, forma de gestão e organização do Projeto Incluir serão
combinados com a opinião dos voluntários que lá atuam para que possamos
identificar o grau de satisfação dos envolvidos.
3- ANALISE
DE DADOS
Além das observações
que se estenderam por um ano onde várias conversas colaboraram para a construção os saberes sobre a dinâmica do
trabalho, foram realizadas três entrevistas formais com os voluntárias que
atuam na secretaria, sendo: (a) Angelyna, a coordenadora da secretaria que já
atua no projeto à 6 anos, (b) Juliana, responsável pelos requerimentos e que está
no projeto a 3 anos e (c) Simone, que chegou esse ano ao grupo de voluntários.
Desta forma, tem-se diferentes perspectivas acerca do trabalho executado, pois
o tempo de atuação no projeto das entrevistas varia.
Quando falamos em voluntários, devemos, neste caso, ampliar
nossa visão de participação, pois para equipe que compõe o Projeto Incluir, tal
termo inclui diversos fatores e recursos, como a cessão do tempo, da força de trabalho
e equipamentos e de espaço digital em suas contas de aplicativos. Existe uma mudança de paradigma que vai
estender as ações e participações dos envolvidos no projeto, por meio das
tecnologias da informação, mas principalmente pelas relações de confiança e sentimento
de pertencimento ao trabalho desenvolvido.
A primeira fala da entrevistada comprova envolvimento e
dedicação: “O projeto me dá senso de utilidade. Sinto que estou cumprindo
meu papel social” (SIMONE, 2019), o que nos remete a Barbosa et al.
(2019:12):
Além das indicações de conhecidos e da
divulgação realizada por aqueles que estão inseridos no ambiente educacional,
tem-se também estudantes e ex-alunos do Projeto Incluir fazendo parte do quadro
de voluntários, o que comprova que esse empreendimento social está ensinando
não só disciplinas, mas também os valores de inclusão, solidariedade,
generosidade, gratidão e a importância do voluntariado.
O número
de alunos, cerca de 1697, surpreende, se pensarmos que o projeto não possui uma
instalação fixa, sendo montado e desmontado todos os sábados e tendo suas
demais atividades feitas em regime de home-office pelos voluntários. Para
Barbosa et al. (2019) são “os voluntários também são fator essencial para o
projeto, afinal, eles são responsáveis por 100% das atividades realizadas, seja
no ensino, no apoio ou na gestão” (p.12).
Dentre as contribuições para que se mantenha essa
dinâmica operacional, podemos apontar a flexibilidade gerada pelas mediações
tecnológicas, que “permitem e exigem novas formas de experiência que requerem
novos tipos de habilidades e competências” (SANCHO, 1998 p. 28). Neste sentido
Angelyna, uma das voluntárias entrevistas destaca que “em relação ao tempo
eu disponibilizo para o projeto é em torno de 10 a 15 horas semanais. Mas nos
picos, eu dedico umas 20 a 30 horas semanais entre as atividades
presenciais aos sábados e os outros encontros e horários em regime de “home
office”.
O mesmo tipo de organização pode ser detectado na fala de
outra entrevistada:
Aos sábados, eu chego as 7h30 e saio por volta da 13h30
ou 14h depende do dia, então além do meu tempo a gente também se encontra em
reuniões às terças-feiras e nos falamos. Se temos alguma dúvida a gente
conversa sempre pelo WhatsApp durante a semana, então é uma coisa, que não é
algo fixado apenas no sábado. Querendo ou não o projeto faz parte da nossa
rotina. (Juliana, 2019)
E essas ações tem em comum a troca imediata de
informações entre os voluntários, que nem sempre precisam estar próximos para se
fazerem presentes. Juliana ainda destaca que “ou mesmo falar com algum
professor, ou com o coordenador, então eu preciso resolver algum assunto de
determinado aluno com o coordenador de inglês, mandamos pelo WhatsApp. A gente
usa muito o aplicativo”.
É interessante observar que a equipe de voluntários
desenvolveu a competência de atuar de forma flexível, seja na utilização de
outros espaços dentro da universidade ou em espaços externos, como as próprias
residências dos membros: “E quando trazemos alguma coisa para casa porque
não deu tempo ou porque o atendimento foi muito extenso. Temos que fazer
algumas tarefas em casa, conversamos pelo WhatsApp para resolver quem vai fazer
determinada coisa ou não. (Juliana, 2019).
Temos no Projeto Incluir, elementos muito importantes
para o processo educacional, tanto no seu objetivo principal, quanto nas trocas
interpessoais diretas ou mediadas pelas tecnologias, o que no remete
diretamente a Sancho (2006:12)
...baseiam
na troca e na cooperação, no enfrentamento de riscos, na elaboração de
hipóteses, no contraste, na argumentação, no reconhecimento do outro e na
aceitação da diversidade vê nos sistemas informáticos, na navegação pela
informação e na ampliação da comunicação com pessoas e instituições
geograficamente distantes a resposta às limitações do espaço escolar.
A secretaria do Projeto Incluir, assim como as demais
salas de aula, também é montada e desmontada todos os sábados, ocupando uma das
salas de aula do segundo andar da Faculdade de Engenharia, onde as carteiras são
reorganizadas para atender as demandas dos alunos. Mas ao nos direcionarmos aos
notebooks percebemos que esses equipamentos pertencem aos voluntários através
da proposta de BYOD já discutida neste artigo.
Se em outras instituições privadas, o conceito BYOD,
surge pela proposição do acesso mais livre a equipamentos, no projeto analisado
é possível perceber que ele sugere uma contribuição, pois quando indagados
sobre suas contribuições no projeto as respostas dos voluntários se
assemelhavam a fala da coordenadora Angelyna: “O primeiro elemento é o tempo
e nos equipamento eu contribuo com o notebook e o celular também”. Simone corrobora a fala de Angelyna: “Tenho
a sensação de que meu tempo está sendo bem utilizado, assim como meus
equipamentos, já minha experiência vem sendo lapidada com novas formas de elaboração
de conhecimentos e práticas.
Pelos relatos acima percebe-se que um
fator vital de integração é sem dúvida a internet e os equipamentos com
características “mobile”, que podem ser transportados de um local para outro
que, somados aos os aplicativos de comunicação, ficam naturalizados no
processo. Para a equipe da secretaria, as tecnologias são vistas como fator natural
de interação, que faz parte da própria dinâmica do trabalho, sendo amplamente
acordado pelos voluntários: “acho
tranquilo trazer meu equipamento para trabalhar no incluir, nunca tinha pensado
nas consequências ou benefícios...mas me sinto à vontade trazendo meu
equipamento, não acho ruim não” (Angelyna, 2019). Fica claro que a cessão
dos equipamentos e aplicativos é uma extensão do próprio voluntariado, um meio
para um fim maior, se pensarmos que “os ambientes multimídia ativos favorecem a
comunicação, a cooperação e a colaboração entre professor e alunos” (SANCHO,
1998:41).
Uma questão que vem à tona é que mesmo com poucos
encontros presenciais ou um local fixo para os encontros, os processos fluem
normalmente, as tarefas são executadas, as presenças e faltas são lançadas, as
notas são atribuídas aos alunos e as declarações e certificados são emitidos.
Existe uma gama de ferramentas digitais gratuitas que são
compartilhas entre os voluntários da secretaria, o que é relatado por Anglyna: “Eu
utilizo para Projeto Incluir meu WhatsApp, e compartilho meu Google docs. Eu
tenho o gratuito de 15 gigas, mas é bem pouco docs, a gente ainda criou um e-mail
específico para ter as informações aqui”. Ficou claro também que os dois aplicativos
mais utilizados são o Google Drive e o WhatsApp, conforme enfatiza a
entrevistada Juliana:
Ajuda muito, o WhatsApp e que nos ajuda
bastante, que é particular, mas a gente usa para o profissional. A gente
conversa tudo pelo WhatsApp, marca reunião pelo WhatsApp. Nós temos outras
formas de comunicação porque a gente faz a reunião de terça-feira e a pauta é
feita na hora e colocada no Google drive. A gente utiliza o drive gratuito do Google,
os próprios arquivos são disponibilizados no drive do Google aqui para o pessoal
da gestão.
Por outro lado, temos nas falas dos voluntários que,
mesmo em um ambiente nitidamente burocrático, é possível o compartilhamento e a
contribuição com o “saber fazer”, sendo nas pequenas trocas como o
preenchimento de um formulário ou o envio de uma solicitação por e-mail, que essas
ferramentas digitais que são incorporadas ao trabalho, ao ensino e são
ressignificas para os usos cotidianos.
As redes sociais também são incorporadas à dinâmica de
trabalho e promoção do projeto, conforme aponta Juliana: “a gente usa muito
o Instagram para promover o Incluir, então quando o pessoal do marketing
disponibiliza alguma informação, eu também acabo compartilhando essa informação
tanto no meu Instagram quanto no meu Facebook”.
Se
pensarmos em fins ou objetivos que possam mover os voluntários teremos um sentimento,
um ideal, um desejo de bem coletivo, que é resumido pela voluntária Simone da
seguinte forma: “o projeto se articula em um sistema, que integra a
população marginalizada dentro de um ambiente em que possa evoluir suas
capacidades cognitivas e laborais”. Por outro lado, Angelyna define seu
propósito através do seguinte comentário: “O que mais me motiva a participar do
projeto incluir como voluntária, e poder repassar para a sociedade, um pouco,
todo o meu conhecimento adquirido durante minha vida...então tudo que eu puder
ajudar, seja um pontinho na sociedade eu faço”.
Para Juliana a participação no projeto se define a partir
das seguintes afirmações: “Eu acredito que primeiro foi para retribuir tanta
coisa boa que eu recebi do projeto enquanto aluna, também para a gente poder
trazer um mundo melhor. Eu acredito nisso que a gente possa promover um mundo
melhor através de oportunidades”. Por outro lado é possível perceber que
existe um reconhecimento das contribuições como sujeito que a participação no
projeto proporciona, conforme indica Angleyna: “Eu acho que meu relacionamento
interpessoal, as práticas de gestão de equipe, o próprio amadurecimento como
pessoa, como cidadã, a contribuição de que você está fazendo algo para a
sociedade isso é muito impactante.”
Pelas análises dos fragmentos de entrevistas feitos entre
os dias 20 e 30 de novembro de 2019, com as voluntárias atuantes na secretaria
do Projeto Incluir ficou claro o entrelaçamento dos três elementos propostos
para análise neste artigo. Em primeiro lugar, mostrou-se como a gestão e
organização compartilhada são bem-sucedidas no processo. Em seguida,
demonstrou-se com se inserem as novas tecnologias e seu papel no contexto e,
finalmente, comprovou-se não somente a satisfação dos voluntários, mas seu algo
grau de comprometimento e disponibilidade na busca de atingirem seus objetivos
de promover o bem comum.
CONCLUSÃO
Devido à complexidade do projeto e à gama de
possibilidades de pesquisa que poderiam ser derivadas desta ação de extensão,
seja como contribuição para as trajetórias de vida profissional e pessoal dos alunos
participantes ou pelas contribuições para a trajetória dos voluntários
envolvidos, decidimos focalizar em três aspectos básicos: (a) gestão e
organização do projeto, (b) uso das tecnologias e seu valor no processo como um
todo e (c) satisfação e envolvimento dos voluntários envolvidos.
Fica ainda comprovado e importância da conexão entre
fatores educacionais e sua gestão e organização, sobretudo a noção que uma
organização bem-sucedida precisa ser flexível e dinâmica para não perder de
vista o foco na formação humana.
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Anexo 1 – formulário
para entrevistas
Entrevistas (proposta de entrevistas / questionários
semiestruturados)
Nome:
idade
Origem
formação
Trabalho fora do projeto?
Como chegou ao projeto?
Qual sua atuação no projeto incluir
O que te motiva a participar do
projeto como voluntário?
O que você sente estar contribuindo
com o projeto, tempo? Experiência? Know how? Outro.
você cede algum tipo de equipamento
para uso durante o projeto BYOD
(computador / celular / data show)
Você Cede ou empresta ferramentas pessoais
de comunicação ao projeto? (e-mail pessoal sua rede social o seu WhatsApp, etc.)?
Você acredita que essas ferramentas
“mais informais” ajudam na dinâmica do trabalho?
É para você? Como o projeto incluir
contribui para sua formação pessoal?
Anexo
2 – Folder de divulgação do projeto compartilhado pelos voluntários.
Fonte: https://func.eng.ufmg.br/tag/projeto-incluir/
acesso: 04 dez. 2019.
[1] SQL significa “Structured Query Language”, ou
“Linguagem de Consulta Estruturada”, em português. Resumidamente, é uma
linguagem de programação para lidar com banco de dados relacional (baseado em
tabelas). https://www.tecmundo.com.br/software/146482-sql-que-ele-serve.htm
[2]
É professor
titular da Universidade Federal de Minas Gerais e professor visitante da
University of Applied Sciences Schmalkalden - Alemanha desde 2002. Pós-doutorado
em Gestão de empresas de base tecnológica - setor de biotecnologia pela Harvard
University em Cambridge - EUA (2001/2002), doutorado em Competitividade
Empresarial - Aston University em Birmingham - Reino Unido (1996), mestrado em
Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (1984).: http://lattes.cnpq.br/5115477440886635