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Tamires Regina da Silva Santos
Graduação em Administração (UniHorizontes). Especialista em Gestão de
Instituições Federais de Educação Superior (UFMG). Assistente em Administração
na Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFMG. tamiregina@yahoo.com.br
Wellington Marçal de Carvalho
Professor conteudista e orientador de TCC do Curso de Especialização em
Gestão de Instituições Federais de Educação Superior. Graduado em
Biblioteconomia (UFMG) e Doutor em Letras / Literaturas de língua portuguesa
(PUC Minas). Bibliotecário-Documentalista coordenador da Biblioteca da Escola
de Veterinária da UFMG. marcalwellington@yahoo.com.br
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo
analisar a influência que a comunicação, como principal instrumento nas
relações interpessoais, exerce nos resultados dos processos de trabalho em
equipe de uma secretaria administrativa do setor público. A pesquisa foi
realizada mediante levantamento bibliográfico, abordando a gestão de
organizações públicas, relações interpessoais e comunicação organizacional,
além de observações de todo o processo no setor estudado. Constatou-se que
realmente a problemática se referia a falhas na comunicação e ficou demonstrado
as melhorias nos processos de trabalho e na compreensão do trabalho após as
intervenções realizadas no que tange a comunicação na equipe.
Palavras-chave: Comunicação organizacional. Gestão pública.
Relações interpessoais.
ABSTRACT
The present study aims to analyze the
influence that communication, as the main instrument in interpersonal relations,
has on the results of team work processes of a public sector administrative department.
The research was conducted through bibliographic survey, addressing the
management of public organizations, interpersonal relations and organizational
communication, as well as observations of the entire process in the sector
studied. It was found that the problem really referred to communication
failures and it was demonstrated the improvements in work processes and work comprehension
after the interventions performed regarding the communication in the team.
Keywords: Organizational communication. Public Management.
Interpersonal relationships.
1 INTRODUÇÃO
O trabalho em equipe é uma das abordagens mais
exploradas na Administração ao longo dos tempos. Park (1988) explica que as
experiências do professor Elton Mayo em sua pesquisa na fábrica Western
Eletric, demonstraram que as relações entre os indivíduos no ambiente de
trabalho se transformaram no centro de interesse dos estudiosos da
administração, ou seja, tornou-se evidente a importância da relação
interpessoal na produtividade do trabalhador. Desde então, a Administração
deixa de ser apenas voltada para o trabalhador com foco na "tarefa",
acrescentando com isso o aspecto humano/social.
A Comunicação é considerada como o elemento principal
nas relações interpessoais nos processos de trabalho, pois, sua eficácia
contribui de forma estratégica no desenvolvimento da gestão dos negócios. Esta
comunicação que realizada de maneira efetiva, ou seja, tende ao entendimento e
receptividade das informações, estando é claro, em consonância com os objetivos
da organização, diminuirá as "margens de erro" ao longo do processo,
principalmente na Administração pública que por vezes é conhecida como morosa e
complexa.
O processo de comunicação vai além da informação
propriamente dita, pois, considerando o cenário tecnológico atual, informações
das mais diversas esferas são geradas o tempo todo, contudo, se não propagadas
adequadamente, com entendimento e compreensão, todo o processo se torna
ineficaz, gerando até retrabalhos desnecessários. Organizações tendem a perder
a credibilidade quando transparecem uma falta de sintonia entre seus
colaboradores, fazendo com que consequentemente o resultado do trabalho não
transmita sua missão, visão e valores.
O presente trabalho relata a importância da
Comunicação nos processos de trabalho em equipe, para desenvolvimento e
melhoria no setor público, principalmente considerando este cenário atual de
tentativa da deterioração da figura do servidor, tão desfavorável que por vezes
desmerece o serviço público.
A comunicação no trabalho em equipe é um processo que
precisa ser desenvolvido e identificado como ponto estratégico nas
organizações, mesmo no âmbito do serviço público, que tende a ser mais complexo
e burocrático, contudo, tem buscado nos princípios da gestão pública,
orientações para maior eficácia em seus processos.
Neste contexto, em uma análise da problemática do
setor em questão, percebeu-se que o fator "comunicação falha no trabalho
em equipe” tinha sido a causa de muitos retrabalhos e desconfortos
desnecessários, influenciando negativamente na otimização dos serviços do setor.
Os resultados obtidos neste estudo, serão de grande
relevância para o âmbito da administração principalmente do serviço público,
considerando que as secretarias administrativas são responsáveis por grandes
demandas de trabalho e geralmente possuem um contato mais direto com o público
externo.
Em se tratando de um tema muito abordado na
administração e considerando a necessidade de um reforço quanto a credibilidade
do serviço público, o trabalho proposto irá demonstrar resultados reais no
processo de comunicação em equipe do setor pesquisado.
Com isso, este artigo tem como objetivo geral,
compreender a importância da comunicação interna efetiva para o desenvolvimento
do trabalho em equipe dentro de uma secretaria administrativa no setor público.
Como objetivos específicos pretende-se: Explanar sobre a necessidade de uma
comunicação efetiva na equipe; compreender os problemas encontrados referente a
falhas na comunicação no trabalho em equipe; e demonstrar os resultados
positivos do desenvolvimento de uma comunicação efetiva nos processos de
trabalho.
No desenvolvimento do artigo serão ressaltados os
princípios da Administração referente ao desenvolvimento do trabalho em equipe,
da comunicação interna e Administração pública.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Gestão
de organizações públicas
A gestão como instrumento nas organizações públicas,
busca um desenvolvimento nos processos de trabalho, englobando princípios da
administração privada para o contexto público, com ênfase na melhor utilização
dos recursos existentes visando o cumprimento das políticas públicas. A prática
da gestão pública é uma ferramenta consideravelmente atual, pois, sua
necessidade veio surgindo devido à falta de credibilidade de governos ao longo
do tempo e da morosidade dos processos de trabalho. Os gestores públicos foram
percebendo a necessidade de transformações no sistema essencialmente
burocratizado, mas, sem abdicar da formalidade e impessoalidade, já que o foco
não é essencialmente lucrativo, mas sim no atendimento ao cidadão.
Quando trata-se de gestão, dois princípios são
essenciais neste contexto: eficiência e eficácia. A primeira, relaciona-se a
melhor utilização dos recursos, com foco na economia destes, uma relação de
custo/benefício, já a segunda, diz respeito a obtenção do resultado,
cumprimento de metas. O desafio da gestão pública neste sentido está em
equilibrar estes dois princípios, com objetivo de trazer ao cidadão uma
perspectiva positiva do serviço público, uma percepção da qualidade do serviço
que lhe é prestado. Este equilíbrio pode ser então caracterizado como
efetividade.
Os princípios da administração privada como direcionamento
na administração pública são conhecidos como New Public Management (NPM),
como enfatizam Pinto e Magro (2012):
O NPM defende que o setor público
deve ser administrado sob os preceitos da administração privada, devendo os
impactos das políticas governamentais demonstrarem, além de eficiência, maior
eficácia. Os resultados devem ser medidos por meio de índices de desempenho de
forma a criar situações de competitividade, fazendo com que haja disputa, o que
leva à melhoria da eficiência produtiva. (MAGRO; PINTO, 2012, p. 78-79).
Peters e Pierre (2010), entendem que a concepção mais
atual da gestão pública está na ênfase em decisões, resultados e ações e também
na habilidade política considerada necessária para desempenhar com eficácia os
papéis gerenciais específicos.
Matias-Pereira (2012) aponta que a gestão das
organizações no setor público, ocorre no contexto do Estado de direito e da
democracia pública. O ambiente da gestão pública é retratado pelo cenário
social, jurídico, econômico e político do Estado e da administração. Com isso,
os princípios da democracia e legalidade são indispensáveis para a apreciação e
avaliação do desempenho das organizações públicas. Considera-se então que a
gestão pública não pode ser puramente relacionada a questões de eficiência e
eficácia, mas, julga-se também a abordagem da legalidade e da legitimidade que
vão além do contexto dos negócios.
Em se tratando da gestão dos recursos, Neto, Silva e
Silva (2017), entendem que nesse contexto, os relatórios disponibilizados pela
contabilidade do setor público apontam informações econômico-financeiras que
orientam o processo de decisão e visam a beneficiar a instrumentalização do
controle social. Os gestores então terão a responsabilidade de gerir os
recursos públicos, buscando proporcionar um retorno eficiente através da
prestação de bens e serviços para a sociedade. Neto, Silva e Silva (2017),
enfatizam que a eficiência da gestão pública ainda é algo preocupante e difícil
de mensurar no setor público.
Acredita-se que esta dificuldade está relacionada aos
diversos métodos existentes, a procedimentos por vezes demasiadamente
burocráticos e também aos problemas de corrupção ao longo do tempo que tendem a
comprometer a transparência dos processos de trabalho. Peters e Pierre (2010),
acreditam que um dos principais problemas para a ampliação dos indicadores de
desempenho e orientações ao resultado final, é o de chegar a um consenso sobre
os objetivos claramente definidos, entre todos os níveis organizacionais e
gerenciais; níveis estes que por vezes tendem a ser uma grande pirâmide
hierárquica, que consequentemente retarda a tomada de decisão. Um dos objetivos
da prática da gestão no serviço público é justamente tornar o fluxo da
informação mais objetivo e reduzir os níveis hierárquicos, contudo,
principalmente nas instituições públicas este é um grande desafio, já que se
trata de uma cultura predominantemente burocrática.
Nascimento (2010), aponta como as principais características
da Gestão Pública:
Ser orientada para o cidadão; ser
orientada para obtenção de resultado; presumir que políticas e funcionários
públicos sejam merecedores de grau limitado de confiança; como estratégia,
servir de descentralização e do incentivo à criatividade e à inovação; utilizar
o contrato de gestão como instrumento de controle dos gestores públicos
(NASCIMENTO, 2010, p. 9).
Matias-Pereira (2012), acredita na gestão pública como
empreendedora, neste contexto ele explica:
A Construção desse novo paradigma de
gestão pública empreendedora, orientada para resultados efetivos, depende,
especialmente, do nível de qualificação profissional e remuneração das
carreiras de Estado, bem como da geração de estímulos para a formação de novas
lideranças no setor público. Esses atores devem estar motivados em direção a
objetivos comuns, tendo como referência o desejo de servir ao público.
(MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 72).
A gestão pública precisa ser desenvolvida no contexto
de melhoria e transparência do serviço público, considerando a principal
finalidade do Estado que é o bem comum.
2.2 Relações
interpessoais
Segundo Minicucci (1992) o relacionamento interpessoal
refere-se as relações humanas. Costa e Oliveira (2010) explicam que o processo
de interação humana ocorre continuamente e é complexo, sob a forma de
comportamentos que podem ser evidentes ou não, de maneira verbal e não verbal,
como por exemplo, pensamentos, sentimentos, reações mentais e até demonstrações
físicas.
Este contexto das relações interpessoais é de extrema
importância no que diz respeito ao ambiente de trabalho, pois, o estudo da
Administração principalmente a partir da Escola das Relações Humanas, vem
considerando a interação entre os indivíduos no trabalho como fator
determinante para o desenvolvimento das organizações. Maximiano (2012), explica
que este estudo não alterou os modelos da Escola Clássica, mas, influenciou nas
atitudes dos administradores com relação aos trabalhadores, desempenhando papel
importante no que tange a modificar as concepções a respeito das organizações,
dos trabalhadores e do papel dos administradores.
Bessi e Schreiber (2015) sobre a relação interpessoal
organizacional entendem:
A estrutura organizacional é,
normalmente, formal e se reflete em regras, regulamentos, procedimentos que
fomentam a constituição de papéis sociais que a organização deseja ou
necessita. É com base na estrutura organizacional que o grupo constrói a sua
identidade que o acompanha ao longo do tempo, em virtude da estabilidade que
lhe é característica. (BESSI; SCHREIBER, 2015, p. 66-67).
Todo este processo de interação, transcorre
primeiramente do comportamento de cada indivíduo, que trarão algum tipo de
impacto nas relações dos grupos de trabalho. Sobre isso, o estudo da Escola
Comportamental, de acordo com Maximiano (2012), tende a destacar as
características individuais que consequentemente vão interferir no trabalho em
equipe: traços de comportamento ou traços de personalidade definidores de
preferências ou temperamento; atitudes que determinam reações favoráveis ou
desfavoráveis em relação ao próprio indivíduo e à realidade; competências, ou
aptidões e habilidades, que compõem o sistema de forças que definem as escolhas
profissionais e o nível de desempenho dos indivíduos e dos grupos; sentimentos
e emoções.
Nesta perspectiva de interferência do grupo e das
características individuais, pode então surgir o chamado conflito. Park (1998)
explica o conflito como uma divergência de opiniões ou interesse, que podem
ocorrer nos diversos grupos em uma relação de trabalho, podendo ser entre
superior ou subordinado ou pessoas de mesmo nível hierárquico. Deve-se
considerar também a existência do conflito pela falha de comunicação, que tende
a gerar algum retrabalho ou resultado diferente do esperado em algum processo
de trabalho. O conflito gerado precisa ser avaliado, buscando fazer com que se
torne uma oportunidade para o reconhecimento de algum tipo de mudança ou
interferência necessária.
Marras (2009, apud MALAKOWSKY e KASSICK, 2014)
alega que:
[...] o conflito é uma disputa de
interesses pessoais x organizacionais e que somente uma boa comunicação entre
as partes consegue melhorar ou diminuir as consequências que o conflito pode
vir a causar no ambiente de trabalho, entre elas, a queda da produtividade e da
motivação dos envolvidos, a qualidade dos resultados, do clima e a mudança no
comportamento. (MARRAS, 2009 apud MALAKOWSKY; KASSICK, 2014, p. 115).
O conflito tende a ser positivo ou também negativo,
dependerá da postura dos envolvidos para que se chegue a um equilíbrio entre as
partes. As organizações ao longo do tempo têm enxergado o conflito não como um
problema, mas, uma ferramenta de competitividade, contudo Malakowsky e Kassick
(2014) apontam que é necessário atentar para a situação conflituosa, pois,
percebe-se que o conflito reduz a satisfação e a confiança dos indivíduos no
grupo, quando não é tratado de maneira transparente.
No que tange as relações interpessoais, é importante
salientar que o processo de interação entre uma equipe de trabalho é
determinante para o alcance dos objetivos da organização, seja ela pública ou
privada. Minucucci (1992) enfatiza que a interação está diretamente relacionada
ao desenvolvimento, manutenção, crescimento e coesão do grupo envolvido.
Os comportamentos individuais e a cultura
organizacional influenciarão diretamente no desenvolvimento das relações
interpessoais entre os grupos, sendo o resultado destas positivos ou negativos
para a organização. Estas relações, para que bem-sucedidas, demandam um
desenvolvimento de habilidades de interação, sendo a principal delas a
comunicação.
2.3
Comunicação Organizacional
Minicucci (1992) acredita que a comunicação só pode
acontecer quando as pessoas envolvidas no processo de comunicação se encontram
ou se reencontram. Para que a mensagem não seja “filtrada”, ou seja, apenas uma
das partes recebendo a informação, não pode haver bloqueios envolvidos,
considerados ruídos que podem interferir e distorcer as mensagens. Ele também
enfatiza que todas as relações interpessoais envolvem a comunicação.
A comunicação é um processo que está em contínua
mudança e também é a base para o relacionamento interpessoal desde os
primórdios; ela faz parte do desenvolvimento do indivíduo, das mais variadas
formas, sendo transmitida de formas verbais e não verbais. Neste contexto,
entende-se também que as organizações não podem se desenvolver sem um processo
de comunicação efetivo, já que é neste processo que as informações e interesses
serão transmitidos.
Monteiro, Karpinski e Angnes (2015) explicam:
Pode-se inferir que o olhar da
comunicação em relação à organização é responsável pela ampliação do nível de
interpretação, pois, vinculam-se na análise organizacional não somente as
formas e processos de trabalho, mas, também, os símbolos, os significados e os
relacionamentos visando revelar as diferentes realidades. (MONTEIRO; KARPINSKI;
ANGNES, 2015, p. 122).
Percebe-se então, que o processo de comunicação
perpassa pela necessidade de interpretação entre os indivíduos, já que são
estes mesmos indivíduos os responsáveis pela correta disseminação da
informação, refletindo diretamente nos resultados do serviço prestado pela
organização. Para Monteiro, Karpinski e Angnes (2015, p. 123) “[...] a maneira
que uma pessoa compreende a outra no processo de interação pode afetar a forma
pela qual o indivíduo compreenderá a comunicação”
Minicucci (1992) assim demonstra que o problema da
comunicação ineficaz transcorre pela maneira como a informação é emitida e pela
maneira como é recebida. Para que então haja um processo de comunicação
produtivo, faz-se necessário a utilização do feedback, que de acordo com
Minicucci (1992), pode ser traduzida como realimentação, que tem o sentido da
verificação do próprio desempenho e se for necessário, a correção deste. Grande
parte dos processos de comunicação organizacional, não realizam o feedback em
sua essência, seja por impaciência em responder, ou receio em demonstrar o não
entendimento sobre algum assunto ou diversos outros fatores que estão
diretamente relacionados ao comportamento do indivíduo em si, e/ou a cultura da
organização. Toda comunicação necessita de um feedback, para que haja
transparência e diminuição de retrabalhos desnecessários.
Gibson (1988, apud DALBOSCO; NAKAYAMA; RADOS,
2008) enfatiza que há uma preocupação no que diz respeito a comunicação
organizacional, para que esta tenha a função de comunicar metas e objetivos
desenvolvidos às pessoas da organização, e consequentemente, que venham
conhecer, entender, assimilar, interpretar e dar o significado adequado ao
conteúdo dos textos e das informações que são geradas em virtude dos objetivos
e das metas.
Medeiros e Santos (2018) sobre a comunicação interna
entendem que:
Como dimensão intrínseca da
comunicação organizacional integrada, a comunicação interna é um vetor do
entendimento mútuo que se processa nas entranhas e em função da organização.
Sua agenda engloba e direciona esforços para construir e consolidar a imagem ou
a marca organizacional por dentro de si mesma. (MEDEIROS; SANTOS, 2018, p.
154).
Outro ponto interessante explicitado por Medeiros e
Santos (2018), é que os gestores por vezes julgam conhecer bem o processo de
comunicação interna, contudo, ela pode ser bem mais desafiadora, porque pode
transmitir a ideia de intimidade e conhecimento da organização, induzindo a uma
impressão de uma comunicação sem “ruídos”.
Rego (1986), enfatiza que gerar consentimento é o
principal alvo da comunicação organizacional; considerando isso, no que diz
respeito a eficácia da comunicação, o mesmo autor aponta que ela deve diferir
das aptidões ou das qualidades das mensagens nos processos comunicativos. Para
auxiliar nisso, são elementos que podem ser analisados como determinantes da
eficácia (relevância, adequação, entendimento, credibilidade, sincronia, entre
outros).
Já sobre a eficiência da comunicação, Rego (1986)
aponta:
Das habilidades de comunicação, duas
pertencem a área de codificação - a escrita e a palavra, duas estão na área de
decodificação - a leitura e a audição e a última é fundamental tanto para a
codificação quanto para a decodificação, o pensamento. Checar, portanto, essas
habilidades é medida inicial para análise da eficiência (REGO, 1986, p. 39).
A comunicação tem esse papel de transferência de
informações, atuando no contexto organizacional. Sua importância reflete
diretamente nos resultados da organização seja esta pública ou privada. França
e Leite (2007) enfatizam que a crescente importância da comunicação tornou-se
ainda de maior relevância, considerando a influência da globalização nas
condutas organizacionais, levando a comunicação a ser considerada como parte
integrante do planejamento estratégico e das relações da empresa com seu
público externo.
3 METODOLOGIA
Segundo Gil (2002), para que um conhecimento seja
considerado científico, não basta, apenas, que seja verdadeiro. Requer-se
identificar das operações mentais e técnicas que possibilitam sua verificação.
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de
abordagem qualitativa, exploratória e bibliográfica. Foi realizado levantamento
bibliográfico de autores da Administração, com ênfase na Comunicação
organizacional, Relações interpessoais e Gestão Pública. A análise exploratória
deu-se por meio de um relato de experiência, com observação e compreensão dos
assuntos abordados no setor em questão. Constatando um aumento de retrabalhos e
desconfortos no setor em questão, a chefia verificou a necessidade de uma
reunião inicial com a equipe de trabalho, identificando assim alguns problemas
a serem resolvidos. Durante o percurso, outras reuniões foram realizadas
juntamente com um acompanhamento dos procedimentos de melhoria da comunicação e
nos processos de trabalho do setor, que serão especificados no item 4.
Destarte para que esse estudo conseguisse atingir os
objetivos, a abordagem bibliográfica foi essencial para demonstração da
importância da comunicação nas relações interpessoais de uma organização
pública, apresentando o impacto negativo da falha de comunicação nos processos
de trabalho e como a melhora da comunicação demonstrou resultados positivos
para o setor estudado.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ambiente estudado trata-se de uma secretaria
administrativa do setor público, que atua com assuntos de âmbito educacional. É
composta por três servidores, uma funcionária terceirizada, um estagiário e uma
menor aprendiz.
Constatou-se no setor um aumento de erros nos
processos de trabalho e consequentemente alguns desconfortos das chefias e
superiores que recebiam os resultados finais destes trabalhos.
A chefia do setor considerou necessária a realização
de uma reunião inicial para um levantamento do motivo que estaria causando a
problemática em questão. Percebeu-se que os integrantes da equipe estavam
confusos quanto aos procedimentos de trabalho, visto que alguns procedimentos
não estavam tão claros e também outros foram modificados. Outra percepção foi
que alguns integrantes do setor, talvez por receio de não serem compreendidos,
realizavam o processo de trabalho mesmo com dúvidas e não perguntavam.
Pode-se considerar neste quesito que o fator
“feedback” não estava acontecendo de maneira efetiva, pois, não havia a
manifestação de dúvida por parte de quem estava executando o trabalho e
consequentemente, não obtendo um retorno da chefia. Ao perceber esta
problemática, a chefia juntamente com a subchefia, procurou conversar com os
demais, orientando que não havia nenhum problema em perguntar, que as dúvidas
precisavam ser sanadas para evitar transtornos futuros. Outras reuniões foram
realizadas ao longo do percurso para acompanhamento do processo.
Considera-se então que o fator comunicação estava
falho, as informações não estavam claras para todos, o que comprova o dito por
Minucucci (1992), quando explica que o processo de comunicação é “filtrado”
quando apenas uma das partes recebe a informação, havendo neste caso bloqueios
que distorcem as mensagens.
Pode-se considerar também a teoria de Monteiro,
Karpinski e Angnes (2015), que explica que a maneira que uma pessoa compreende
a outra neste processo de interação pode afetar a maneira pela qual o indivíduo
compreenderá a comunicação. As informações passadas não estavam sendo
compreendidas e além disso, quando por algum motivo, um processo de trabalho
era modificado, o indivíduo que o modificou, não transferia a informação
completa, o que se torna também uma falha na comunicação.
Visando eliminar os erros, buscou-se uma padronização
dos processos que estavam confusos entre o grupo e também foi acordado que no
mínimo duas pessoas fariam a conferência destes processos de trabalho.
Este percurso de identificação do problema e melhorias
durou cerca de sete meses e os resultados foram muito positivos e
satisfatórios, reduzindo em grande proporção os retrabalhos. Percebeu-se que a
problemática estava realmente na comunicação, nenhum dos problemas apresentados
estavam correlacionados a competência profissional, pelo contrário, trata-se de
uma equipe bem capacitada, porém, que estava com dificuldades nas relações
interpessoais, no que tange aos processos comunicativos, confirmando o dito por
Minucucci (1992), quando demonstra que todas as relações interpessoais envolvem
o processo de comunicação.
Cada indivíduo no setor foi capacitado para diferentes
tarefas, contudo, uma das características da chefia é justamente a busca de um
aprendizado geral, para que na falta de um, outro possa atender, (exceto o
estagiário e menor aprendiz que possuem limitações em algumas tarefas). Este é
um ponto interessante, pois, em muitos departamentos/setores públicos
percebe-se uma resistência nesta forma de conduzir o trabalho, algumas chefias
tendem a ver o conhecimento como forma de “poder”, e diante desta possível
“ameaça”, dificultam o rodízio de tarefas e, por conseguinte, burocratizam em
excesso a máquina organizacional.
Um outro resultado positivo a se considerar no setor
após o período de mudanças, foi que na ausência da chefia, os trabalhos ditos
como essenciais continuaram fluindo normalmente, somente questões muito específicas
que era necessária aguardar a chefia ou a subchefia. Sobre este aspecto,
pode-se considerar os direcionamentos da gestão pública citados por Peter e
Pierre (2010) que buscam uma gestão com ênfase na gestão de decisões,
resultados e ações, resultando na eficácia dos papeis gerenciais.
Percebeu-se também uma equipe mais entrosada e com uma
linguagem mais clara. Os erros é claro que não são “zero”, mas, com certeza,
considerados mínimos em comparação ao início da problemática. Houve também um
aumento do feedback positivo do
público externo, confirmando o princípio do serviço público com ênfase no
cidadão citado por Nascimento (2010) quando explica que a gestão pública deve
ser orientada para o cidadão e para a obtenção de resultado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto neste estudo, fica evidente a
importância da comunicação para o desenvolvimento de um trabalho em equipe
produtivo. A observação de todo o percurso de mudança da problemática para os
resultados positivos no setor estudado foi primordial para a constatação da
influência que a comunicação exerce nos processos de trabalho, sendo de forma
negativa ou positiva. Este resultado demonstra a importância das organizações
de se preocuparem com o desenvolvimento e estudo da comunicação interna nas
relações interpessoais das organizações, o que por vezes pode ser a resolução
de muitas problemáticas existentes.
O principal elemento da estrutura organizacional é o
seu pessoal e o desempenho das relações interpessoais está diretamente ligado
ao desempenho organizacional, por isso, o estabelecimento de uma comunicação
interna eficaz é considerada uma ferramenta estratégica essencial para os
processos de tomada de decisão.
É importante destacar, no período de modificações no
setor, as evidências dos princípios da administração pública no que tange a
busca pela eficácia nos processos de trabalho, com foco no desenvolvimento do
indivíduo e consequentemente da equipe em si, com destaque para o papel da
chefia na busca por este desenvolvimento. Como citado no início do estudo, o
cenário para o servidor público é desfavorável, todavia, estudos como estes
demonstram que a administração pública aliada a gestão com ênfase no
comprometimento e desenvolvimento de melhorias, resultam em direcionamentos
positivos, enfatizando a credibilidade do servidor e do trabalho com foco no
cidadão.
Importante salientar que toda a equipe foi ativa no
processo de mudança, percebendo a realidade da problemática quando demonstrada
e consequentemente também identificando as melhorias no setor após as
modificações necessárias.
Como limitação, relativamente aos processos de
trabalho e as relações interpessoais, no que diz respeito a outros panoramas de
pesquisas, diversos fatores podem ser considerados influenciadores negativos, como
falta de capacitação técnica, chefias que principalmente no setor público,
tendem a ser autoritárias, contingenciamento de recursos, principalmente na
perspectiva atual das instituições públicas de ensino, entre outras especificidades
encontradas da administração pública. Como trata-se do ambiente da
administração, a pesquisa também é relevante para organizações do setor
privado.
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