💢 Artigo em PDF

Gladyston Augusto Roberto

Pós graduando Docência IFMG Arcos


Para Johnson-Laird (1983), modelos mentais são representações analógicas da realidade, entendidas como qualquer notação, signo ou conjunto de símbolos que representa algo que é tipicamente um aspecto do mundo exterior ou do interior em sua ausência, ou seja, de nossa imaginação. São essenciais para o entendimento da cognição humana, pois nossa percepção do mundo não se dá diretamente e sim por meio das representações que construímos em nossa mente.

Modelos mentais relatam o encadeamento do discurso, do evento ou da situação, incluindo os objetos envolvidos e o conhecimento implícito que o observador usa para compreendê-los. Já as representações proposicionais representam o sentido do discurso, apresentam regras explicitas de manipulação. Eles são estruturalmente semelhantes aos processos que acontecem no mundo exterior, ainda que sejam incompletos e não representem diretamente a realidade e são formados por elementos onde se guardam os significados do mundo externo e as relações que o sujeito faz entre eles. São modelos de trabalho que possibilitam que façamos predições, deduções e que tomemos decisões para a execução de tarefas. 

As imagens são produtos tanto da percepção como da imaginação, representam como algumas coisas são vistas a partir do ponto de vista particular do observador (Johnson-Laird, 1983; Borges, 1997; Greca e Moreira, 1998; Moreira, Greca e Palermo, 2002).

A fonte primária para a elaboração dos modelos mentais (representações analógicas) é a percepção, mas também podem se formar a partir do discurso ou ser fruto de nossa imaginação. Sua construção deriva da estrutura de mundo percebida pelo indivíduo, de seu conhecimento anterior, da necessidade de manter o sistema cognitivo livre de contradições para não saturar sua memória de trabalho (Johnson-Laird, 1983).

Os modelos mentais apresentam as seguintes características: (1) são incompletos; (2) a habilidade das pessoas para executá-los é limitada; (3) são estáveis; (4) não tem fronteira bem definidas; (5) não são científicos, refletindo as superstições e crenças do indivíduo sobre o sistema físico; e (6) são parcimoniosos (Moreira, 1996).

Diferentemente dos modelos mentais, os modelos conceituais são representações externas criadas por investigadores, professores e outros profissionais para facilitar a compreensão e o ensino dos sistemas e estado de coisas do mundo. São representações precisas, completas e consistentes com o conhecimento científico compartilhado por uma determinada comunidade. Podem materializar-se por meio de fórmulas matemáticas e analogias. São representações simplificadas de objetos, fenômenos e situações reais (Johnson-Laird, 1983).

Para compreendermos um fenômeno natural devemos saber suas causas, poder descrever suas consequências e prever seus efeitos, ou seja, temos que criar um modelo mental do fenômeno para podermos manipulá-lo.

Apesar de ensinarmos na escola modelos conceituais entendemos que, a aprendizagem significativa passa pela construção de um modelo mental que dará significado ao modelo conceitual que lhe foi ensinado.

Quando se ensina, supõe-se que os estudantes vão criar modelos mentais que são cópias dos modelos conceituais apresentados pelos professores. O que acontece é que, na maioria das vezes, os estudantes tomam aqueles elementos considerados importantes dos modelos conceituais apresentados relacionam-os, quando possível, com o que já conhecem e geram modelos mentais que não são necessariamente similares aos modelos conceituais apresentados (Moreira, 1996). Muitas vezes estes modelos são distantes dos modelos conceituais aceitos pelos cientistas.

Quando os modelos dos estudantes são suficientes para resolverem seus problemas, os mesmos podem não ter interesse em fazer uma revisão de seus esquemas, ou se o fazem, esta revisão pode ser parcial e acabam trabalhando com modelos híbridos ou sintéticos, resultantes da combinação de aspectos do modelo inicial, geralmente baseado em experiências do cotidiano, com o modelo científico, aceito pela academia (Hrepic, Zollman e Rebello, 2003; Greca e Moreira, 2002).

A evolução de um modelo mental pode ser entendida como resultado de um processo sócio-cognitivo do estudante que constitui um pressuposto indispensável para que ele possa se apossar-se do conhecimento científico apresentado na escola. Ao longo dessa evolução é possível perceber o enriquecimento da habilidade de formular explicações para fenômenos novos ou aprimorar as representações usadas em interpretações anteriores (Borges e Barbosa, 2006).

Os modelos mentais são estruturas que refletem a compreensão que o usuário tem do sistema, de como e por que ele funciona dessa ou de outra maneira, permitindo-o experimentar mentalmente estas ações antes de executá-las. Podemos, portanto, supor que estes modelos procuram responder as seguintes questões em relação a uma proposição sobre um sistema a ser estudado: Como é o sistema? De que ele é feito? Como ele funciona? O que ele faz? Para que ele serve? No questionário aplicado aos estudantes/voluntários buscamos enfatizar as últimas questões, por entendermos que elas exigem uma reflexão maior do sujeito.

Utges (1999) realizou um estudo sobre o uso de modelos e analogias, utilizados por estudantes adolescentes, na compreensão de ondas, levando em consideração como são contempladas as relações entre o espaço, o tempo e a causalidade, o papel atribuído ao meio de propagação, os tipos de alterações e características de uma onda, do ponto de vista ontológico. Ela identificou e caracterizou sete modelos: (1) figuras conhecidas, (2) curvas que caminham, (3) fonte, (4) repetição, (5) formas em movimento, (6) transmissão-transferência e (7) modelo meio material. Os três primeiros modelos estão relacionados ao ponto de vista de onda como um ente e os quatro últimos ao ponto de vista de onda como evento, relacionadas ao subir e descer, oscilar e transmitir, transferir e propagar.

Hrepic, Zollman e Rebello (2003), apresentam um pequeno levantamento das pesquisas sobre modelos mentais em ondas sonoras e sugerem que quando nos referimos às ondas sonoras, podemos associar um modelo ingênuo à propagação do som, e que esse modelo é comum para inúmeras concepções alternativas relativas ao som. Neste modelo o som viaja como um objeto. Este modelo costuma ser chamado de “modelo partícula”. Também são comuns os modelos que apresentam o som se propagando como um pulso de partículas.

Referências Bibliográficas

Borges, A.T. (1997). Um estudo de modelos mentais. Investigação em Ensino de Ciências, 2, 3, 207-226.

Borges, A.T e J.P.V. Barbosa (2006). O entendimento dos estudantes sobre energia no início do ensino médio. Caderno Brasileiro de Física, 23, 2, 182-217.

Greca, I.M. e M.A. Moreira (1998). Modelos mentales, modelos conceptuales y modelización. Caderno Catarinense de Ensino de Física. Florianópolis, 15, 2, 107-120.

Greca, I.M. e M.A. Moreira (2002). Além da detecção de modelos mentais dos estudantes uma proposta representacional integradora. Investigações em Ensino de Ciências, 7, 1, 31-53.

Moreira, M.A.; Greca, I.M. e M.L.R. Palmero (2002). Modelos mentales y modelos conceptuales en la enseñanza/aprendizaje de las Ciencias. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências. Porto Alegre, 2, 3, 36-56.

Hrepic, Z.; Zollman, D. e S. Rebello (2003). Student’s mental models of sound propagation: Implications for a theory of conceptual change. Em: http://web.phys.ksu.edu/papers/2003/SoundMental.pdf.

Johnson-Laird, P.N. (1983). Mental models. Cambridge: Cambridge University Press
Moreira, M.A. (1996). Modelos Mentais. Investigações em Ensino de Ciências. Porto Alegre, 1, 3, 193-232.

Utges, G.R. (1999). Modelos e Analogias na Compreensão do Conceito de Onda. São Paulo. Universidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Educação).


Recebido em 05 de maio de 2020
Publicado em 29 de maio de 2020


Como citar este artigo (ABNT)

ROBERTO, Gladyston Augusto. Introdução aos Modelos Mentais. Revista MultiAtual, v. 1, n.1., 29 de maio de 2020. Disponível em: https://www.multiatual.com.br/2020/05/introducao-aos-modelos-mentais.html